Você também éoseu microbioma
Fala-se do genoma humano como se nós fôssemos feitos de células todas iguais, com o mesmo DNA exclusivo à nossa espécie e suficiente para nos definir, mas a biologia agora entende que essa é uma simplificação cada vez mais grosseira.
Assim como uma vaca morreria rapidamente sem as bactérias que digerem celulose em seu estômago, humanos são inviáveis sem suas bactérias intestinais.
O que define uma espécie não é mais uma sequência de letras no DNA, mas uma sociedade indissociável de células e genomas. Tão indissociável que populações diferentes que habitam o mesmo corpo falam umas com as outras usando as mesmas moléculas.
No cérebro, essas moléculas são chamadas de neurotransmissores. Mas, de acordo com um estudo da Universidade de Leuven (Bélgica), várias delas também são produzidas pelas bactérias do intestino.
O estudo analisou o “potencial neuroativo” do microbioma de mais de mil participantes e cruzou dados de cerca de 500 genes de bactérias com índices sobre o estado físico e mental dos indivíduos.
Houve correlação significativa entre a composição do microbioma, sua capacidade de sintetizar moléculas que agem no cérebro e a qualidade da saúde mental e de vida.
Faecalibacterium e Coprococcus tendem a ser mais abundantes nas fezes de pessoas com melhor qualidade de vida, e Coprococcus tende a ser menos encontrada em pessoas sofrendo de depressão grave.
Ambas as bactérias portam genes que participam da degradação de glutamato, o principal neurotransmissor usado no cérebro.
Como o estudo é correlacional, não é possível dizer o que vem primeiro: alterações no microbioma ou no cérebro relacionadas à depressão —ou mesmo se tudo não passa de correlação com alguma outra coisa ou mera coincidência.
Ainda assim, os resultados confirmam que a saúde mental depende dos seus neurônios —e também de suas bactérias intestinais.