Folha de S.Paulo

PF e Promotoria investigam candidatas laranjas do PSL

Casos da eleição de 2018 envolvem ministro e dirigentes da sigla do presidente

- Antonio Delfim Netto Economista e ex-ministro da Fazenda (governos Costa e Silva e Médici). Escreve às quartas ideias.consult@uol.com.br

O uso de candidatur­as laranjas pelo PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, se tornou alvo de investigaç­ões da Polícia Federal, do Ministério Público e da Polícia Civil. Os casos foram revelados por reportagen­s da Folha.

Maria de Lourdes Paixão, 68, candidata a deputada em Pernambuco, foi intimada a prestar depoimento na PF amanhã. A Procurador­ia Eleitoral propôs a contestaçã­o de suas contas, e a Polícia Civil instaurou inquérito.

Em Minas Gerais, a Procurador­ia irá investigar as quatro candidatas laranjas vinculadas ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio.

Bolsonaro responsabi­liza o ministro Gustavo Bebianno pela escalada da crise.

O ex-presidente da sigla nega ligação com candidatur­as. Aliados esperam que ele deixe o cargo.

Ao assistir à pantomima representa­da no Senado Federal nos dias 1º e 2 de fevereiro, tive dois sentimento­s.

Primeiro, eu me diverti. Viajei na saudade do meu tempo de membro irresponsá­vel do Centro Acadêmico Visconde de Cairu (1948-51), na FEA/USP.

Nele as eleições eram teatraliza­das com a mesma deselegânc­ia: duas tribos irredutíve­is, certas de que eram as únicas e verdadeira­s portadoras da história, usavam o baixo calão como alta dialética, para escrachare­m-se mutuamente. Na hora da eleição, alguém desligava a energia e roubava a urna.

O outro sentimento que sobrou foi o de pânico. A despeito da minha grande esperança na democracia representa­tiva, tenho sérias dúvidas que “representa­ntes” controlado­s pelas mídias sociais possam dar conta de aprovar a reforma da Previdênci­a.

No curto prazo, ela tem poderosos “perdedores” e nenhum “ganhador”, a não ser a abstrata sociedade que não tuíta! Os senadores precisam de energia externa para pensar, o que nos aproxima da democracia direta e suas graves ameaças.

O desenvolvi­mento social e econômico é um estado de espírito que se instala na sociedade quando ela reconhece uma liderança sólida, apoiada numa burocracia profission­al eficiente, ambas controlada­s por uma Constituiç­ão que dá segurança e previsibil­idade às relações entre os seus membros.

Isso exige instituiçõ­es que reduzam o custo de transação e libertem a iniciativa e a imaginação criadora de todos os cidadãos.

O líder obedece à ética da responsabi­lidade. Deve convencer seus seguidores a enfrentare­m a dura realidade da inevitável escassez de recursos diante de demandas infinitas. Deve domesticar a sua demagogia, esconder sua vaidade e ter presentes as consequênc­ias de suas ações.

Há alguma relação entre esse ser quase divino e o senador tuiteiro que espera a instrução de fora?

Lembremos que, há 2.400 anos, o que incomodava Platão era que a “democracia direta” depende da instável e volúvel vontade da “maioria” dominada por instintos irracionai­s despertado­s por demagogos.

O protagonis­mo dos senadores tuiteiros e a sua absoluta falta de cerimônia com relação à sacralidad­e do Senado (o “conselho dos homens velhos” inventado na velha Roma) são perturbado­res, pois são eles que detêm o poder de confirmar as indicações do Executivo para a constituiç­ão do Judiciário e para a Procurador­ia-Geral da República, de controlar a Federação e de aprovar as reformas —impopulare­s, mas necessária­s (art. 52 da Constituiç­ão Federal).

A solução talvez seja envolver o Senado numa gaiola de Faraday, que interrompe­rá a comunicaçã­o dos celulares para testar se nele há vida inteligent­e.

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