Folha de S.Paulo

Bebianno liberou verba usada por ex-assessora em gráfica de fachada

Érika Siqueira, que trabalhou com atual ministro, recebeu R$ 250 mil e teve apenas 1.315 votos

- Ranier Bragon, Camila Mattoso e João Valadares

Coordenado­r de campanha de Jair Bolsonaro e hoje ministro da Secretaria-Geral da Presidênci­a, Gustavo Bebianno liberou R$ 250 mil de verba pública para a campanha de uma ex-assessora, que repassou parte do dinheiro para uma gráfica registrada em endereço de fachada —sem maquinário para impressões em massa.

À época Bebianno era o presidente nacional do PSL, responsáve­l formal por autorizar repasses dos fundos partidário e eleitoral a candidatos da legenda.

Érika Santos, que trabalhou como assessora do partido diretament­e com o ministro até agosto, foi candidata a deputada estadual em Pernambuco e teve apenas 1.315 votos.

Ela foi a oitava pessoa que mais recebeu dinheiro do PSL nacional em todo o país.

A ex-assessora declarou ter gasto R$ 56,5 mil na gráfica Itapissu em 6 de outubro, um dia antes da eleição, para a confecção de material de campanha.

A gráfica é a mesma usada pela candidata Maria de Lourdes Paixão, que diz ter repassado R$ 380 mil à empresa.

Conforme revelou a Folha no último dia 10, Paixão foi usada como candidata laranja para receber R$ 400 mil do fundo partidário, o terceiro maior repasse do PSL na eleição. Ela teve apenas 274 votos.

A verba, com origem em recursos públicos, também foi liberada por Bebianno, hoje ministro de Bolsonaro.

A reportagem mostrou que não havia, nos endereços da nota fiscal e na Receita Federal, sinais de que a Itapissu tenha funcionado naqueles locais durante a eleição.

A Folha enviou questionam­entos para Bebianno e para Érika, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.

Assim como Maria de Lourdes Paixão, a ex-assessora de Bebianno foi escolhida de última hora para disputar a eleição, em uma reunião no dia 7 de agosto, após a convenção partidária. Da mesma forma, consta em ata que ela foi colocada para preencher vagas remanescen­tes da cota de gênero —a regra exige que pelo menos 30% das vagas de candidatos sejam ocupadas por mulheres.

A indicação de Érika partiu do grupo de Luciano Bivar, fundador do PSL e atual presidente da legenda —durante a eleição, ele estava licenciado.

Em entrevista à Folha, publicada no domingo (10), Bivar afirmou que a decisão do repasse do dinheiro foi do então presidente nacional do partido —no caso, Bebianno. Ele ainda disse que é contra a regra da cota e que mulher não tem vocação para política.

Bebianno, que não havia respondido questionam­entos da reportagem sobre a liberação do dinheiro para Maria de Lourdes, afirmou em entrevista à CBN que a responsabi­lidade era de Bivar, abrindo uma crise com o dirigente e desgaste do ministro com o presidente Bolsonaro, insatisfei­to com a crise envolvendo seu partido.

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