Folha de S.Paulo

Vale projetou custos de um possível colapso de barragem

Empresa afirma que fazia manutenção de barragem e defende que estrutura não estava em risco

- Lucas Vettorazo, Nicola Pamplona e Thiago Amâncio Fotos Isis Medeiros

Documento interno da Vale de outubro de 2018 estimou que um colapso da barragem de Brumadinho (MG) poderia provocar mais de 100 mortes e gerar custos de R$ 5,6 bilhões. A barragem da mina Córrego do Feijão se rompeu em 25 de janeiro.

O relatório inclui a estrutura entre dez barragens em “zona de atenção” e é usado pelo Ministério Público de MG em ação que pede medidas para evitar novos desastres. A mineradora diz que a de Brumadinho não corria risco iminente.

Um documento interno da Vale estimou em outubro de 2018 quanto custaria, quantas pessoas morreriam e quais as possíveis causas de um eventual colapso da barragem de Brumadinho (MG), que acabou se rompendo no dia 25 de janeiro, deixando ao menos 165 mortos.

O relatório é usado pelo Ministério Público de Minas Gerais em ação civil pública em que pede a adoção de medidas imediatas para evitar novos desastres, já que dez barragens, incluindo a de Brumadinho, estariam em situação de risco, segundo o documento da própria mineradora.

A Vale questiona a Promotoria e diz que o estudo indica estruturas que receberam recomendaç­ões de manutenção, as quais já estariam em curso. A empresa defende ainda que a barragem de Brumadinho não corria risco iminente.

O estudo projeta que um eventual colapso provocaria mais de cem mortes —até o momento, as autoridade­s contabiliz­am

165 mortos e 155 desapareci­dos. O número considera um cenário de rompimento durante o dia e com funcioname­nto dos alertas sonoros instalados para evitar emergência­s.

A maior parte das vítimas estava no refeitório e na sede administra­tiva da mina do Córrego do Feijão, onde está a barragem que se rompeu. No começo do mês, a Folha mostrou que o plano de emergência da barragem previa a inundação dessas estruturas.

De acordo com o estudo da Vale, chamado Resultados do Gerenciame­nto de Riscos Geotécnico­s, os custos de um eventual rompimento na barragem 1 da Mina do Córrego do Feijão poderiam chegar a US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 5,6 bilhões, ao câmbio atual).

A empresa também projetava como causas prováveis de rompimento erosão interna ou liquefação. Inspeções já tinham encontrado indícios de erosão na ombreira (lateral da barragem) e indícios de alagamento.

O documento inclui a estrutura que se rompeu entre dez barragens em uma zona de atenção. As outras são: Laranjeira­s (em Barão de Co-

cais), Menezes 2 e 4-A (em Brumadinho), Capitão do Mato, Dique B e Taquaras (Nova Lima) e Forquilha 1, Forquilha 2, Forquilha 3 (Ouro Preto).

A análise de estabilida­de exigida pela legislação atestou as condições de segurança da barragem que se rompeu, mas indicou uma série de

problemas que deveriam ser resolvidos pela mineradora.

Procurada pela Folha ,aVale afirmou em nota que “os estudos de risco e demais documentos elaborados por técnicos consideram, necessaria­mente, cenários hipotético­s para danos e perdas”.

A Vale disse que “não existe

em nenhum relatório, laudo ou estudo conhecido qualquer menção a risco de colapso iminente da barragem” e reafirmou que a estrutura tinha “todos os certificad­os de estabilida­de e segurança”.

Em entrevista nesta terça (12), o gerente-executivo de planejamen­to da área de mi-

nério de ferro e carvão da empresa, Lúcio Cavalli, disse que “em momento algum essa estrutura deu sinais de que estava com problema”.

De acordo com a Vale, a “zona de atenção” compreende barragens em que os técnicos apontaram recomendaç­ões, mas não risco iminente.

Segundo a empresa, no caso da estrutura que se rompeu, as recomendaç­ões eram dar continuida­de ao processo de descomissi­onamento e reduzir os níveis do lençol freático, o que já vinha sendo feito, de acordo com a companhia.

A Justiça de MG determinou uma série de ações preventiva­s nas barragens citadas. A Vale diz que todas as exigências já vinham sendo cumpridas.

A empresa questionou ainda versões dadas por funcionári­os de que os equipament­os apontaram aumento súbito no nível do lençol freático, dizendo que quatro dos piezômetro­s (instrument­os que medem esse indicador) apresentar­am problemas de configuraç­ão e enviaram dados errados ao sistema. A barragem tinha 94 piezômetro­s.

Segundo a Vale, ainda não é possível identifica­r as causas da tragédia. Uma comissão formada por especialis­tas internacio­nais está investigan­do o caso, disse o diretor de Finanças e Relações com Investidor­es da companhia, Luciano Siani.

O executivo disse que a empresa está fazendo um levantamen­to das áreas habitadas próximas às suas barragens, mas que ainda não há um plano para reduzir o dano potencial em eventuais colapsos.

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Sala da Gerência de Tratamento de Minério e Movimentaç­ão de Produto, na sede da mina do Córrego do Feijão, da Vale, em Brumadinho (MG), que resistiu à passagem da lama
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Sala do comando de operações de segurança da mina, após o rompimento da barragem

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