Folha de S.Paulo

Táxi aéreo custa até 40% mais que serviço sem licença

Aeronave que caiu com jornalista Ricardo Boechat não podia levá-lo; helicópter­os regulares podem custar 40% mais

- Marina Estarque

A hora de voo de um táxi aéreo regular pode ser 40% mais cara do que a de um serviço sem licença para levar passageiro­s —como era o helicópter­o em que morreu Ricardo Boechat. O corpo do jornalista foi cremado ontem.

A hora de voo de um táxi aéreo regular chega a ser 40% mais cara do que a de um serviço sem licença para operar como tal, diz o diretor da Abtaer (Associação Brasileira de Táxis Aéreos e de Manutenção de Produtos Aeronáutic­os), Domingos Afonso.

“A empresa precisa ter programa de treinament­o específico para o piloto, seguro, e só pode pousar em lugar registrado, homologado. O pirata chega e diz: ‘Não, eu te levo lá, pouso em qualquer lugar e tá tudo certo’”, diz Afonso.

Na segunda (11), um helicópter­o sem licença para passageiro­s caiu, matando o piloto, Ronaldo Quatrucci, 56, e o jornalista Ricardo Boechat, 66, que voltava para São Paulo de uma palestra em Campinas.

O presidente do Instituto Para Ser Piloto, Raul Marinho, afirma que o piloto de táxi aéreo precisa de mais experiênci­a do que o de outras categorias. “A diferença disso no custo da hora de voo é brutal. Além disso, é preciso ter pro- grama de manutenção da aeronave e de prevenção ao uso de substância psicoativa­s.”

O piloto aposentado e analista Carlos Camacho também ressalta o custo. “Quer voar direito? Tem que pagar”, diz. Segundo Afonso, da Abtaer, não há dados do mercado irregular de táxi aéreo. “Mas a quantidade é monstruosa.”

Eles recomendam que o contratant­e peça a matrícula da aeronave (número de registro) e consulte o site da Anac, no item “Consulta RAB online”, para verificar se a aeronave é habilitada —deve aparecer o termo “táxi aéreo”.

A Anac afirma que, na consulta, é importante verificar a data de validade do certificad­o de aeronavega­bilidade (CA) —que deve constar como “normal”— e da Inspeção anual de manutenção (IAM).

Para especialis­tas, entretanto, o sistema para checar a matrícula é pouco amigável.

A nota fiscal também oferece informaçõe­s importante­s: “Se estiver regular, vai constar o termo ‘fretamento de aeronave’, por exemplo. Se for clandestin­o, usa termos como consultori­a ou serviços especiais, como aerorrepor­tagem”, diz Shailon Ian, CEO da consultori­a Vinci Aeronautic­a.

Camacho afirma que o passageiro pode também perguntar ao piloto quantas horas de voo ele tem naquele equipament­o. “Para um modelo simples de helicópter­o, recomendo um mínimo de 200 horas.”

Além disso, a expressão “táxi aéreo” deve estar escrita perto da porta principal, na fuselagem, de forma bem visível.

A Polícia Civil disse nesta terça que vai analisar as imagens de câmeras de segurança da CCR, concession­ária que administra a rodovia Anhanguera, para apurar o acidente que matou Boechat e o piloto.

 ??  ?? Corpo de Ricardo Boechat deixa o MIS
Corpo de Ricardo Boechat deixa o MIS

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil