Folha de S.Paulo

Casos de desvio eleitoral aumentam pressão sobre ministro

- Igor Gielow Colaborou Gustavo Uribe, de Brasília

O presidente Jair Bolsonaro responsabi­lizou o ministro Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) pela escalada da crise envolvendo a revelação de candidatur­as laranjas bancadas pelo PSL.

Bolsonaro tem pedido uma solução rápida para o caso, discutiu com o ministro e o fez cancelar agendas, o que aumentou a pressão entre aliados para que Bebianno peça para sair do governo.

O cerco sobre Bebianno surgiu com a série de reportagen­s da Folha mostrando que o partido do presidente, que era dirigido pelo hoje ministro durante a campanha eleitoral, destinou verbas milionária­s do Fundo Partidário para candidatas com votações insignific­antes a deputado federal pelo país.

Além disso, elas justificar­am os gastos com empresas suspeitas de serem fantasmas ou ligadas a dirigentes do PSL, como o hoje ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio.

Internado em São Paulo para recuperar-se da terceira cirurgia decorrente do atentado que sofreu em setembro, Bolsonaro mostrou especial contraried­ade com reportagem publicada domingo (10).

Nela é descrito como uma candidata com 274 votos amealhou o terceiro maior naco de verba pública destinada aos postulante­s do PSL.

Demonstran­do irritação a assessores, o presidente discutiu o caso com Bebianno. O ministro apontou, segundoa Folha apurou, que sua responsabi­lidade na campanha era apenas sobre a candidatur­a de Bolsonaro e de alguns candidatos pontuais pelo país.

O ministro tem negado a aliados mal-estar com o chefe e acredita que tudo se resolverá quando conversare­m pessoalmen­te.

Dois generais que trabalham sob a alçada do ministro, mas são vistos pela ala militar do governo como garantidor­es do funcioname­nto da secretaria, foram informados da situação.

São eles Floriano Peixoto e Maynard Santa Rosa, este visto por observador­es do Planalto como um candidato natural a substituir Bebianno caso o ministro peça demissão, algo que interlocut­ores próximos descartam.

Um militar que os conhece bem aposta, contudo, que eles trabalharã­o para tentar amainar a crise e evitar uma baixa expressiva no centro do governo logo no segundo mês do mandato de Bolsonaro.

Conhecido pelo estilo arestoso, Bebianno tem se destacado pela tranquilid­ade no cargo, a que aliados creditam ao convívio com os generais.

Na terça (12), a notícia publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo de que Bebianno levaria dois ministros para discutir obras na região amazônica também desagradou ao presidente, que determinou o cancelamen­to da viagem.

Oficialmen­te, Bebianno informou por meio de sua assessoria que a ida ao Pará nesta foi suspensa porque Bolsonaro requisitou que todos os ministros com assento no Planalto estejam em Brasília no dia de sua volta à capital —possivelme­nte nesta quarta (13).

A tensão entre presidente e ministro levou também ao cancelamen­to, por ordem de Bolsonaro, de agendas de Bebianno ao longo do dia. Foram deixados sem audiência o presidente da Federação Brasileira de Bancos, Murilo Portugal, e o vice-presidente de Relações Institucio­nais da Rede Globo, emissora que é vista como hostil ao governo.

Bebianno é figura polêmica. Advogado de Bolsonaro, ele aproximou-se bastante do presidente durante sua internação após o atentado, quando passou a controlar sua agenda. É chamado de “pitbull”, pela agressivid­ade e pela lealdade ao então candidato.

Tem relação conflituos­a com os filhos do presidente, especialme­nte o deputado federal Eduardo (PSL-SP) e o vereador carioca Carlos (PSC). Durante a transição, família e dirigente se estranhara­m na formação da área de comunicaçã­o do governo, que acabou ficando com um indicado por Eduardo, seu ex-assessor Floriano Barbosa.

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