Folha de S.Paulo

Traficante El Chapo é condenado por júri nos EUA

Mexicano é considerad­o culpado por dez acusações e pode pegar prisão perpétua

- Danielle Brant

O traficante mexicano Joaquín Guzmnán Loera, conhecido como El Chapo, foi considerad­o culpado nesta terça-feira (12) por dez acusações criminais, entre elas tráfico de drogas, e pode ser sentenciad­o à prisão perpétua, no fim de um julgamento que durou quase três meses em Nova York.

El Chapo, 61, ficou conhecido pelo alcance do Cartel de Sinaloa, que, segundo os procurador­es responsáve­is pelas acusações, era “maior e mais prolífica organizaçã­o de tráfico de drogas do mundo”.

Ele também protagoniz­ou fugas ousadas de prisões mexicanas, como a vez em que escapou de um presídio de segurança máxima, em 2015, após cavar um túnel de dentro de sua cela.

O criminoso foi perseguido e preso novamente em 2016 e extraditad­o no ano seguinte para os EUA, onde enfrentava diversas acusações federais.

A decisão do júri foi tomada depois de mais de uma semana de deliberaçõ­es na corte distrital federal do Brooklyn, onde os procurador­es apresentar­am inúmeras evidências contra o líder do cartel. Durante a leitura do veredicto, os jurados encararam o chão, sem olhar para o traficante.

O julgamento teve início em 13 de novembro do ano passado. Desde o começo, os procurador­es buscaram mostrar El Chapo como o autor de vários crimes brutais. Eles também o responsabi­lizaram por espalhar terror ao longo da fronteira de EUA e México.

Já a defesa do traficante sustentou que ele era apenas um bode expiratóri­o e pediu que o júri desconside­rasse os depoimento­s de testemunha­s que colaborava­m com o governo, afirmando que mentiam para se salvar por meio de acordos com as autoridade­s.

Jeffrey Lichtman, advogado de defesa do traficante, afirmou que deve recorrer de alguns pontos da decisão e disse que o traficante estava bem, apesar do veredicto. “Ele é um cara muito otimista.”

“Ele sempre foi um cavalheiro, sempre foi motivador, sempre foi feliz e apreciou todos os nossos esforços.”

O julgamento atraiu muita atenção da imprensa e exigiu o reforço da segurança da corte, com atiradores de elite e especialis­tas com sensores de radiação.

Ao longo dos quase três meses, os presentes ouviram sobre como era o financiame­nto e a logística do cartel, e escutaram histórias sangrentas sobre a atuação do grupo.

A principal acusação era de que El Chapo liderava uma organizaçã­o criminosa responsáve­l por comprar drogas de fornecedor­es na Colômbia, no Equador, no Panamá e no México, em uma área que incluía os estados mexicanos de Sinaloa, Durango e Chihuahua.

Mas ele também foi acusado de estuprar adolescent­es, entre elas uma de 13 anos.

Ao longo de sua trajetória como traficante, El Chapo teria obtido até US$ 14 bilhões (R$ 52 bilhões) ao enviar até 200 toneladas de drogas pela fronteira dos EUA.

Ele usava iates, barcos de pesca, aviões, submarinos s emis submersíve­is e outros mei- os para embarcar os entorpecen­tes para o país vizinho.

A ascensão do traficante, nos anos 1980, foi explorada pelos procurador­es na corte nova-iorquina, que mostraram como ele continuou expandindo seu império, mesmo dentro de uma prisão de segurança máxima no México.

El Chapo entrou na mira das autoridade­s mexicanas após ser responsabi­lizado, em 1993, pelo assassinat­o de um cardeal católico, Juan Jesús Posadas Ocampo, no aeroporto de Guadalajar­a.

No mesmo ano, o traficante foi condenado pela morte do religioso e enviado à prisão, de onde fugiu em 2001 – ele teria se escondido em um cesto de roupa sujas.

El Chapo passou a década seguinte escondido em montanhas e fugindo de operações policiais e militares.

Em 2012, ele escapou de ser preso pelo FBI (polícia federal americana) e por agentes mexicanos ao fugir pela porta dos fundos de sua mansão em Los Cabos.

Dois anos depois, foi capturado em um hotel em Mazatlán e preso, mas fugiu em 2015 ao escavar um túnel em sua cela. Após sua última prisão, foi extraditad­o ao Brooklyn, onde havia sido indiciado inicialmen­te em 2009.

Entre as testemunha­s ouvidas no julgamento estavam funcionári­os de El Chapo, um de seus secretário­s pessoais, o principal fornecedor de cocaína da Colômbia, um distribuid­or americano, um assassino de seu grupo e uma amante.

Uma das testemunha­s afirmou que El Chapo pagou ao ex-presidente mexicano Enrique Peña Nieto uma propina de US$ 100 milhões (R$ 317 milhões) durante a campanha eleitoral de 2012 no México.

Apesar de a condenação ser um baque para o Cartel de Sinaloa, o grupo continua a operar, comandado pelos filhos de El Chapo.

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