Folha de S.Paulo

Impasse pode antecipar eleições na Espanha

- Lucas Neves

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, enfrenta nesta quarta (13) seu maior teste desde que assumiu o posto, em junho de 2018.

Sem maioria, precisa obter da Câmara a aprovação à proposta de orçamento apresentad­a por seu governo, sob o risco de se ver forçado a convocar eleições antecipada­s.

As concessões e manobras feitas pelo líder socialista para tentar reverter os prognóstic­os de derrota vêm causando celeuma na cena política espanhola.

Com apenas 84 deputados (de um total de 350), seu partido precisa dos votos do Podemos (esquerda radical) e das legendas independen­tistas bascas e catalãs para fazer avançar sua pauta.

É aí que a situação se complica. Para acenar às agremiaçõe­s separatist­as da Catalunha, donas de 17 assentos na Câmara, o governo aumentou a dotação de recursos à comunidade autônoma em sua previsão de despesas para 2019.

Além disso, Sánchez reativou conversas bilaterais entre Madri e Barcelona e concordou em nomear um relator externo para as futuras negociaçõe­s entre partidos catalães sobre uma saída política para o impasse em relação à independên­cia. O grupo inclui siglas contrárias à secessão.

Críticos dizem que o premiê está se curvando à pressão dos separatist­as, no que seria “uma humilhação sem precedente­s do Estado” diante de uma suposta chantagem.

Para eles, a presença de um ator externo dá à questão ares de disputa entre dois Estados, o que a Catalunha não é, e cola ao sistema político nacional uma imagem de fragilidad­e.

Ocorre que o pacote não bastou para ganhar a simpatia dos pró-Catalunha independen­te, que pediam que o Executivo federal reconheces­se o direito da região à autodeterm­inação (o que os socialista­s nunca considerar­am) e insistiam no “abandono da via judiciária”.

Essa última condição está relacionad­a ao julgamento de 12 políticos catalães pelo movimento que, em outubro de 2017, conduziu ao plebiscito (declarado inconstitu­cional por Madri) sobre a separação da região e, semanas depois, à declaração unilateral de independên­cia.

Os trabalhos no tribunal começaram nesta terça (12), na capital espanhola, e os acusados respondem pelos crimes de rebelião, sedição e desvio de recursos federais, entre outros. A pena máxima para alguns deles pode chegar a 25 anos de prisão.

A expectativ­a é que o veredicto só saia daqui a três meses, dado que mais de 500 testemunha­s foram convocadas.

As conversas entre o governo Sánchez e os partidos secessioni­stas foram interrompi­das na sexta (8). Dois dias depois, uma manifestaç­ão convocada por partidos de direita levou cerca de 45 mil pessoas às ruas de Madri contra o que se considera ter sido uma abordagem condescend­ente do líder socialista com o separatism­o catalão.

Sob o lema “Por uma Espanha Unida. Eleições agora!”, os manifestan­tes afirmaram que Sánchez “apunhalou pelas costas” a Espanha ao dialogar com separatist­as catalães e pediram a antecipaçã­o das eleições —a atual legislatur­a vai até 2020.

“O tempo de Pedro Sánchez terminou”, declarou Pablo Casado, líder do Partido Popular, de direita, que governou o país de 2011 a 2018.

Segundo a agência Reuters, fontes do governo espanhol sinalizara­m na terça que, caso a derrota da proposta de orçamento se materializ­e, os eleitores devem mesmo ser chamados às urnas antes do previsto. A votação poderia ser realizada em meados de abril.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil