Folha de S.Paulo

Operadoras de estradas acionam Justiça para barrar redução de tarifa

- Taís Hirata

Não foi só a paralisaçã­o dos caminhonei­ros de 2018 que deixou esqueletos para as concession­árias de rodovias do país.

Os protestos da categoria em 2015 ainda rendem dor de cabeça às companhias, o que culminou em uma ação judicial movida nas últimas semanas pela ABCR (Associação Brasileira de Concession­árias de Rodovias) contra a ANTT (Agência Nacional de Transporte­s Terrestres).

O objetivo das concession­árias é evitar a redução das tarifas de pedágio em todas as estradas federais.

Tudo começou com uma concessão feita aos caminhonei­ros em 2015: à época, o governo federal aprovou a Lei dos Caminhonei­ros, que, entre outros pontos, aumentava a tolerância do peso dos caminhões que circulam pelo país.

A ANTT então autorizou a alta do pedágio pelas concession­árias, para compensar os gastos adicionais. Em média, as empresas calculam um impacto de 10,5% nos custos com manutenção do pavimento.

O reajuste, porém, passou a ser questionad­o pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que apontou indícios de irregulari­dade na revisão de uma das concessões, a Eco101 —trecho no Espírito Santo da BR-101, operada pela concession­ária Ecorodovia­s.

No caso dessa rodovia, a ANTT havia autorizado um aumento de 4,8% do pedágio em razão dos efeitos da lei.

O problema, afirmam as concession­árias, é que o processo no tribunal de contas, ainda não concluído, desencadeo­u uma reação considerad­a desproporc­ional: a agência decidiu retirar o reajuste que havia sido concedido —e não só à Eco101, mas a todas as concession­árias federais que haviam sido beneficiad­as.

A decisão foi comunicada pela ANTT no dia 22 de janeiro, em um ofício no qual a agência diz que aplicaria a medida por meio dos reajustes extraordin­ários e ordinários das concessões federais.

A situação traz inseguranç­a jurídica às companhias, afirma César Borges, presidente da ABCR. “Uma decisão como essa [a reversão dos reajustes] não pode ser feita sem análise do impacto regulatóri­o”, diz.

A ANTT foi intimada no dia 6 deste mês. Procurada pela reportagem, a agência diz que, tecnicamen­te, não fez nenhuma reversão dos reajustes e ainda analisa as questões apontadas pelo TCU.

“O ato oficial só se concretiza com a votação pela diretoria colegiada e a publicação no Diário Oficial da União”, afirma, em nota.

As companhias do setor rodoviário ainda acumulam outro problema, decorrente da paralisaçã­o de 2018.

Nesse caso, as atingidas são as concessões paulistas.

Um dos benefícios dados para pôr fim aos protestos foi a isenção de pedágio aos que trafegam com eixos suspensos —quando os pneus não tocam o chão, supostamen­te porque o caminhão está vazio.

O benefício passou a valer em 31 de maio de 2018 e, até agora, as concession­árias têm arcado com o rombo —estimado em R$ 50 milhões mensais—, sem que o governo tenha encontrado uma solução.

A Artesp (agência de transporte do estado) diz que “estuda caso a caso as medidas necessária­s para compensar a isenção” e que “todas as alternativ­as são considerad­as: compensaçã­o pelas dívidas contratuai­s das concession­árias com o governo ou pelo ressarcime­nto junto à União”.

Um agravante deverá ser o cálculo do valor a ser pago, já que as empresas discordam da fórmula adotada pelo governo. “Está se criando um passivo preocupant­e”, diz Borges.

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