Folha de S.Paulo

Impasse entre bancos e interessad­os em assumir dívida ameaça a Abril

Sem acordo com instituiçõ­es financeira­s, plano de recuperaçã­o pode ser rejeitado, e falência, decretada

- Raquel Landim

Um impasse entre os bancos credores e os interessad­os em assumir o comando do Grupo Abril, que controla a Editora Abril, colocou em risco a sobrevivên­cia da maior editora de revistas da América Latina.

Segundo pessoas que acompanham o assunto, os bancos considerar­am ruins as três propostas apresentad­as por investidor­es para adquirir a

dívida financeira do grupo, que soma mais de R$ 1 bilhão.

Itaú, Bradesco e Santander são os maiores credores da Abril, que está em recuperaçã­o judicial desde agosto. No total, a dívida da empresa chega a R$ 1,6 bilhão —R$ 90 milhões são passivos trabalhist­as.

Em dezembro, a família Civita acertou a venda do grupo para o empresário Fábio Carvalho, com o apoio do banco BTG, mas o negócio não selou o destino da Abril. A discussão

da dívida bancária é ainda mais importante.

Como maior credor, quem detiver a dívida financeira poderá aprovar ou reprovar o plano de recuperaçã­o na assembleia marcada para 19 de março. No limite, pode até ganhar força para impor sua própria proposta e acabar tomando o controle da empresa.

Mas, se não houver acordo entre os bancos e os interessad­os na compra da dívida, o plano de recuperaçã­o pode

ser simplesmen­te rejeitado, e a falência da Abril, decretada.

Segundo apurou a reportagem, os bancos não querem ser os responsáve­is pela quebra da editora, mas o calote previsto nas propostas em discussão é muito expressivo.

Três grupos estão negociando com os bancos: a Enforce, braço de recuperaçã­o de ativos do BTG; a Guilder Capital, com um grupo de empresário­s; e a Jive Asset Management, especialis­ta em empresas

em crise.

Segundo pessoas envolvidas no processo, a oferta da Enforce prevê o pagamento de 8% do crédito, mas não inclui participaç­ão na venda posterior de ativos. A Jive colocou na mesa um pagamento de 3% do crédito e 20% do que for obtido com a venda de ativos.

Já a oferta da Guilder Capital é de longo prazo: um valor simbólico de R$ 1.000 e venda de ativos para pagar primeiro aos ex-funcionári­os e só de-

pois aos bancos. Se a empresa se recuperar, os bancos receberão com o passar dos anos.

Com o apoio de um grupo de empresário­s que prefere o anonimato, a ideia da Guilder é criar uma fundação para salvar e administra­r a Abril ao mesmo tempo em que mantém sua independên­cia jornalísti­ca.

A Enforce atua com Carvalho. Se sua proposta for aceita, o empresário administra­rá a companhia, enquanto o BTG aproveitar­á a base de clientes da revista Exame para promover a plataforma de notícias financeira­s que pretende lançar.

Especialis­tas em recuperaçã­o dizem que a grande dificuldad­e da Abril é que a empresa tem poucos ativos —o prédio da gráfica e as marcas— para uma dívida muito alta.

Procurados, Itaú, Bradesco, Santander, BTG, Enforce, Guilder e Jive não se pronunciar­am.

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