Folha de S.Paulo

Lenda dos palcos, atriz Bibi Ferreira morre aos 96

Morre, aos 96, Bibi Ferreira, vedete, atriz e cantora conhecida pela voz e pelo magnetismo em cena, uma referência incontorná­vel para a história do teatro

-

A atriz e cantora Bibi Ferreira morreu ontem, no Rio de Janeiro, após sofrer uma parada cardíaca.

Filha do ator Procópio Ferreira, Bibi estreou nos palcos com 24 dias de vida. Foi reconhecid­a como uma das principais atrizes brasileira­s de musicais.

Um de seus espetáculo­s mais memoráveis foi em torno da cantora francesa Edith Piaf, que estreou em 1983 e ficou sete temporadas em cartaz.

“Nunca pensei em parar. Essa palavra nunca fez parte do meu vocabulári­o, mas entender a vida é ser inteligent­e. Fui muito feliz com minha carreira. Me orgulho muito de tudo que fiz. Obrigada a todos que de alguma forma estiveram comigo

Bibi Ferreira ao anunciar sua aposentado­ria no ano passado

Lendária. Esse não é um adjetivo exagerado para qualificar a atriz e cantora Bibi Ferreira, morta ontem, aos 96 anos. Além do reconhecim­ento crítico e de público por uma carreira brilhante iniciada nos anos 1940, Bibi ficou conhecida pela personalid­ade extremamen­te carismátic­a, a forma debochada de falar de si própria e pelas histórias de vida que contava, inclusive entre as músicas dos últimos shows, com repertório que percorria sua própria trajetória.

Com quase um século nas costas, Bibi trabalhou com um monte de gente graúda. Filha de Procópio Ferreira, contava que subiu pela primeira vez ao palco no colo de uma atriz, com 24 dias de vida, na peça “Manhãs de Sol”, substituin­do uma boneca.

Estreou oficialmen­te ao lado do pai aos 18 anos. Seu primeiro personagem teatral foi Mirandolin­a, de “La Locandiera”, de Goldoni, em 1941. Em 1944, inaugurou a Companhia de Comédias Bibi Ferreira, com o espetáculo “Sétimo Céu”, e contratou as atrizes Maria Della Costa, Cacilda Becker e a diretora e atriz Henriette Morineau.

Sua formação plural, que desde a adolescênc­ia incluía canto, dança e atuação, levou-a a ser reconhecid­a como uma das principais atrizes brasileira­s de musicais, gênero que passou a priorizar na década de 1960. Bibi foi responsáve­l por impulsiona­r a produção de obras como “Minha Querida Lady”, de 1962, em que contracena­va com Paulo Autran, ator que voltaria a dividir o palco com ela no musical “O Homem de La Mancha”, de 1972.

Foi casada com Paulo Pontes, coautor do musical “Gota d’Água” ao lado de Chico Buarque. Atuou neste espetáculo que adapta a tragédia “Medeia” para uma comunidade carioca.

Em entrevista­s e nos improvisos sobre o palco, era autora de frases peculiares. Dizia que até a adolescênc­ia foi uma menina preguiçosa. E que para cantar tango em Buenos Aires (o que fez em 2010) era preciso ter cara de pau ou ser carioca.

Um de seus espetáculo­s mais memoráveis foi em torno da cantora francesa Edith Piaf, que interpreta­va em “Piaf, A Vida de Uma Estrela da Canção”. Estreou em 1983 e ficou sete temporadas em cartaz. Depois, retomou as canções de Piaf pontualmen­te, nos espetáculo­s que resumiam sua carreira. Nos últimos cinco anos, também fez três apresentaç­ões em Nova York cantando Frank Sinatra.

A última vez que pisou no palco foi em dezembro de 2017, no teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro, sua cidade natal. Foi quando gravou um especial para a TV Brasil intitulado “Toda a Minha Vida”. Anunciou sua aposentado­ria dos palcos em setembro do ano passado.

 ?? German Lorca ?? Retrato da artista feito pelo fotógrafo GermanLorc­a por volta de 1960
German Lorca Retrato da artista feito pelo fotógrafo GermanLorc­a por volta de 1960
 ?? Folhapress ?? A atriz e cantora Bibi Ferreira em cena do espetáculo ‘O Homem de La Mancha’, de 1972
Folhapress A atriz e cantora Bibi Ferreira em cena do espetáculo ‘O Homem de La Mancha’, de 1972

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil