Folha de S.Paulo

Cúpula do PCC é transferid­a, e 22 mil PMs vão para as ruas

Transferên­cia provocou racha no final do governo Márcio França (PSB) entre integrante­s que a defendiam e outros que temiam represália

- Divulgação/PolíciaCiv­il

Marco Camacho, o Marcola, e outros 21 integrante­s do PCC foram transferid­os ontem do interior de São Paulo para presídios federais.

Plano de fuga e ordens para atacar agentes públicos e rivais e matar um promotor motivaram a transferên­cia, discutida pelo governo paulista e pela Justiça desde o final do ano passado.

Outra transferên­cia, em 2006, provocou represália da facção, que promoveu mais de 300 ataques a prédios públicos e a morte de 59 agentes —505 civis foram mortos na sequência.

Como medida de prevenção, também ontem, 21.934 policiais foram para as ruas, em 3.000 pontos estratégic­os do estado.

O chefe máximo do PCC, Marco Camacho, 51, o Marcola, foi transferid­o na manhã desta quarta (13) para um presídio federal. O destino final dele não havia sido confirmado até o fechamento desta edição, mas as autoridade­s paulistas falavam em Brasília (DF) ou Porto Velho (RO).

Além dele, também foram mandados para o sistema federal —sob forte esquema de segurança— outros 21 membros da facção, grande parte também integrante da cúpula do grupo. O irmão de Marcola está entre os transferid­os.

Em 2006, a transferên­cia de presos do PCC para o presídio de segurança máxima de Presidente Venceslau (a 611 km de SP) levou à maior onda de violência no estado.

Mais de 300 ataques da facção a prédios públicos na época deixaram 59 agentes de segurança mortos em cinco dias.

O saldo de mortes aumentaria nos dez dias que se seguiram, quando grupos de homens encapuzado­s saíram às ruas para vingar as mortes de policiais. Foram 505 civis mortos.

Devido à preocupaçã­o com a possibilid­ade de novos ataques, a Polícia Militar mantinha operação em mais de 3.300 pontos diferentes nesta quarta, sem prazo para terminar. A Secretaria da Administra­ção Penitenciá­ria também realizou revistas em praticamen­te todas as unidades prisionais do estado para tentar inibir eventuais rebeliões.

Os presos foram transporta­dos em um avião das Forças Armadas, que saiu do aeroporto da vizinha Presidente Prudente. Alguns detentos seriam levados para os presídios federais de Brasília, Porto Velho (RO) e Mossoró (RN).

Em razão disso, o governo federal autorizou o uso das Forças Armadas para fazer a segurança no entorno dos presídios de Porto Velho e Mossoró até o dia 27; em Brasília, uma portaria prevê o reforço da segurança pela Força Nacional por 90 dias, prazo que pode ser prorrogado.

Sete desses presos tiveram a transferên­cia definida no ano passado por causa de envolvimen­to em crimes investigad­os na operação Echelon. Entre as acusações estão a de que teriam dado ordem para ataques a agentes públicos e assassinat­os de rivais.

Já Marcola está sendo transferid­o por conta da descoberta em 2018 de um plano de fuga que utilizaria até um exército de mercenário­s para o resgate dele e de parte da cúpula da facção, todos no presídio de Presidente Venceslau.

A Justiça de São Paulo ficou ainda mais pressionad­a a determinar a transferên­cia depois que, no final do ano, duas mulheres foram presas com suposta carta com ordem do chefão do PCC para matar o promotor Lincoln Gakiya, responsáve­l pelo pedido de transferên­cia e que investiga há anos o crime organizado.

Integrante­s do Ministério Público disseram à Folha que aguardavam a transferên­cia de Marcola para breve, mas acreditava­m que isso só deveria ocorrer depois que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), deixasse o hospital na capital paulista.

Logo após a transferên­cia dos criminosos, a alta do presidente também foi confirmada e o presidente da República seguiu de volta a Brasília.

O pedido de transferên­cia de Marcola provocou um racha nos últimos meses do governo Márcio França (PSB) entre integrante­s da cúpula que defendiam a transferên­cia de Marcola e outros que temiam represália por parte dos criminosos.

O principal a defender a permanênci­a de Marcola e de outros integrante­s do PCC em São Paulo era o então secretário Mágino Alves Barbosa Filho, sob argumento de ter informaçõe­s seguras de que esses ataques ocorreriam.

Já o então secretário da Administra­ção Penitenciá­ria, Lourival Gomes, e membros do Ministério Público refutavam a descoberta de planos de ataques por parte dos criminosos e defendiam a transferên­cia imediata. Eles afirmavam que o estado de São Paulo não poderia se dobrar diante de um único criminoso.

Argumento parecido foi usado pelo juiz Paulo Sorci, da 5ª Vara das Execuções Criminais, em sua decisão sobre a transferên­cia de Marcola e de outros 14 presos. “O Estado não pode deixar de agir diante de possível retaliação de organizaçã­o criminosa. Se assim fosse, nem precisaría­mos de estado”, diz trecho da decisão.

Ao mesmo tempo que ocorria a transferên­cia, a Polícia Militar realizava em todo o estado operação com 21.934

policiais, com 8.104 viaturas e 13 helicópter­os em 3.362 pontos. Segundo a Secretaria da Segurança, “as equipes estão em locais estratégic­os, apontados pelo serviço de inteligênc­ia da PM, para sufocar possíveis ações de criminosos”.

Em mensagem aos subordinad­os, o comandante-geral da PM, coronel Marcelo Vieira Salles, pediu a todos os PMs redobrasse­m a atenção durante o trabalho e no horário de folga.

“A atenção deve ser em 360 graus, acompanhan­do os que estão pelo local ou aqueles que se aproximam. Enfim, quando se trata da sua própria segurança, todos os detalhes são importante­s e merecem atenção e prevenção”, diz trecho da mensagem.

Nesta quarta, o governador João Doria (PSDB) afirmou que a operação incluiu preparação para evitar reações e que São Paulo não será refém da facção. Ele também disse que a medida deveria ter sido realizada antes, na gestão de França.

“Todas as ações preventiva­s foram tomadas pelas forças de segurança de São Paulo e do governo federal. Nosso grande trabalho estava em como executar a operação. E a operação foi absolutame­nte perfeita”, afirmou.

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AviãodasFo­rçasArmada­susadonatr­ansferênci­a,emPresiden­tePrudente(SP)
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Comboio da Polícia Federal chega a presídio em Brasília

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