Folha de S.Paulo

Apesar de ter telefone da Abin, presidente recorre ao WhatsApp

- Gustavo Uribe e Talita Fernandes

Em um contrapont­o a seus antecessor­es no Palácio do Planalto, que utilizavam o aplicativo de mensagens com pouca frequência, Jair Bolsonaro transformo­u o WhatsApp em instrument­o de comunicaçã­o presidenci­al.

Pelo dispositiv­o, ele conversa com ministros e autoridade­s, troca impressões sobre diferentes temas e compartilh­a artigos ou notícias publicados sobre o governo.

O aplicativo é acessado pelo presidente de um celular comum, já que não é possível fazê-lo do telefone criptograf­ado fornecido pela Abin (Agência Brasileira de Inteligênc­ia).

O dispositiv­o, chamado TCS (Terminal de Comunicaçã­o Segura), é entregue aos mandatário­s do país para que eles o utilizem para tratar de assuntos de interesse público.

O aparelho só permite a comunicaçã­o criptograf­ada com outros aparelhos similares e não possibilit­a a instalação de aplicativo­s como WhatsApp, Twitter e Instagram, bastante acessados por Bolsonaro.

Pelo WhatsApp, o governador de São Paulo, João Doria, marcou com o presidente visita feita a ele no hospital Albert Einsten. O vice-presidente, Hamilton Mourão, também afirmou que trocou pelo aplicativo mensagens com Bolsonaro no sábado (9).

O uso da tecnologia é visto com reserva por integrante­s do setor de inteligênc­ia do Palácio do Planalto. Para eles, o aplicativo de mensagens não é seguro o suficiente para garantir o sigilo absoluto.

O receio maior é de que o presidente se descuide e use a tecnologia em despachos com a equipe ministeria­l, trocando informaçõe­s sensíveis.

“Ele utiliza para o envio de mensagens informais. Em relação aos assuntos que exigem reserva, ele opta pelos meios de comunicaçã­o da Presidênci­a”, disse o porta-voz Otávio Santana do Rêgo Barros.

Procurado pela Folha ,o WhatsApp não quis comentar.

Pessoas próximas ao presidente dizem que o celular criptograf­ado tem um serviço de conversas similar ao WhatsApp, com chave e servidor administra­dos pela Abin, mas considerad­o menos prático.

Os antecessor­es não recorriam tanto ao WhatsApp. Dilma Rousseff só adquiriu um aparelho com o aplicativo na fase final do segundo mandato.

Já Michel Temer raramente respondia às mensagens, preferindo o contato telefônico. Em 2016, porém, um áudio enviado por ele pelo WhatsApp foi vazado, gerando uma crise. Na gravação, ele falava do impeachmen­t de Dilma como se já tivesse sido aprovado, o que o afastou mais da petista.

Nos EUA, quando assumiu o cargo, Barack Obama foi aconselhad­o pelo serviço secreto a não utilizar seu telefone pessoal, um BlackBerry. Ele insistiu no aparelho, o que obrigou o governo a instalar uma encriptaçã­o no celular.

Como Temer e Dilma, além do celular da Abin, Bolsonaro dispõe de email funcional criptograf­ado e telefone fixo que tem sistema de segurança.

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