Apesar de ter telefone da Abin, presidente recorre ao WhatsApp
Em um contraponto a seus antecessores no Palácio do Planalto, que utilizavam o aplicativo de mensagens com pouca frequência, Jair Bolsonaro transformou o WhatsApp em instrumento de comunicação presidencial.
Pelo dispositivo, ele conversa com ministros e autoridades, troca impressões sobre diferentes temas e compartilha artigos ou notícias publicados sobre o governo.
O aplicativo é acessado pelo presidente de um celular comum, já que não é possível fazê-lo do telefone criptografado fornecido pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência).
O dispositivo, chamado TCS (Terminal de Comunicação Segura), é entregue aos mandatários do país para que eles o utilizem para tratar de assuntos de interesse público.
O aparelho só permite a comunicação criptografada com outros aparelhos similares e não possibilita a instalação de aplicativos como WhatsApp, Twitter e Instagram, bastante acessados por Bolsonaro.
Pelo WhatsApp, o governador de São Paulo, João Doria, marcou com o presidente visita feita a ele no hospital Albert Einsten. O vice-presidente, Hamilton Mourão, também afirmou que trocou pelo aplicativo mensagens com Bolsonaro no sábado (9).
O uso da tecnologia é visto com reserva por integrantes do setor de inteligência do Palácio do Planalto. Para eles, o aplicativo de mensagens não é seguro o suficiente para garantir o sigilo absoluto.
O receio maior é de que o presidente se descuide e use a tecnologia em despachos com a equipe ministerial, trocando informações sensíveis.
“Ele utiliza para o envio de mensagens informais. Em relação aos assuntos que exigem reserva, ele opta pelos meios de comunicação da Presidência”, disse o porta-voz Otávio Santana do Rêgo Barros.
Procurado pela Folha ,o WhatsApp não quis comentar.
Pessoas próximas ao presidente dizem que o celular criptografado tem um serviço de conversas similar ao WhatsApp, com chave e servidor administrados pela Abin, mas considerado menos prático.
Os antecessores não recorriam tanto ao WhatsApp. Dilma Rousseff só adquiriu um aparelho com o aplicativo na fase final do segundo mandato.
Já Michel Temer raramente respondia às mensagens, preferindo o contato telefônico. Em 2016, porém, um áudio enviado por ele pelo WhatsApp foi vazado, gerando uma crise. Na gravação, ele falava do impeachment de Dilma como se já tivesse sido aprovado, o que o afastou mais da petista.
Nos EUA, quando assumiu o cargo, Barack Obama foi aconselhado pelo serviço secreto a não utilizar seu telefone pessoal, um BlackBerry. Ele insistiu no aparelho, o que obrigou o governo a instalar uma encriptação no celular.
Como Temer e Dilma, além do celular da Abin, Bolsonaro dispõe de email funcional criptografado e telefone fixo que tem sistema de segurança.