Folha de S.Paulo

Parlamenta­res promovem investida contra STF e tentam mostrar força

Base de Bolsonaro quer marcar posição contra ministros da corte e bloco da ‘velha política’

- Ângela Boldrini, Daniel Carvalho, Reynaldo Turollo Jr. e Thais Bilenky

Deputados e senadores bolsonaris­tas que promovem uma ofensiva contra o Supremo Tribunal Federal tentam dar uma demonstraç­ão de força da base ao Poder Judiciário e também ao que chamam de velha política no Congresso.

Aliados do presidente, ao atacar o “ativismo judicial”, criticam a proteção recíproca entre ministros do Supremo e políticos tradiciona­is enrolados com a Justiça. Se, de um lado, congressis­tas como o senador Renan Calheiros (MDB-AL) têm numerosos inquéritos no currículo, os ministros do Supremo são objeto de 28 pedidos de impeachmen­t.

Uma CPI (Comissão Parlamenta­r de Inquérito) para investigar eventuais excessos em tribunais superiores, apelidada de “Lava Toga”, foi arquivada no Senado por falta de apoio na segunda-feira (11).

Para congressis­tas bolsonaris­tas, como o senador Major Olímpio (PSL-SP), foi mais uma demonstraç­ão de que “a velha política ressurge, às vezes apenas com uma roupagem de nova”. “Vejo com tristeza”, afirmou.

No dia seguinte ao arquivamen­to, congressis­tas em ambas as Casas iniciaram movimentos simultâneo­s de enfrentame­nto ao Supremo. Entre eles, passou-se a tentar desarquiva­r a CPI do Judiciário.

A Casa, no mesmo dia, desengavet­ou uma PEC (Proposta de Emenda à Constituiç­ão) que proíbe o aborto.

“O desarquiva­mento é para enfrentar, sim, o ativismo ju- dicial do Supremo. É um posicionam­ento do Senado para que esta Casa cumpra seu papel constituci­onal”, disse Major Olímpio.

“Esse é um tema polêmico. Não podemos esquecer que, se não avançarmos nessa pauta, o Supremo Tribunal Federal o fará”, disse a senadora Simone Tebet (MDB-MS).

Próximo ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEMAP), negou que a mobilizaçã­o tenha representa­do um enfrentame­nto ao Judiciário.

“Nada a ver. A votação do desarquiva­mento da PEC é um instrument­o democrátic­o”, desconvers­ou.

O Planalto teme que o atrito entre Poderes se acirre e comprometa a aprovação de medidas prioritári­as como a reforma da Previdênci­a.

Onyx, ainda na terça (12), almoçou com o presidente do STF, Dias Toffoli, em compromiss­o inicialmen­te fora da agenda pública.

“Bolsonaro conversou com Toffoli e ficou muito satisfeito que esse diálogo estava aberto e a ideia que nós temos é de unir o Brasil”, disse o chefe da Casa Civil.

Nesta quarta (13), o presidente do Supremo capitaneou um almoço entre ministros do tribunal em que possíveis investidas contra o Judiciário foram debatidas.

Segundo relatos de interlocut­ores, os magistrado­s procuraram demonstrar unidade. Houve unanimidad­e nas críticas à ideia de parlamenta­res da base do governo de revogar a PEC da Bengala que, em 2015, elevou de 70 para 75 anos a idade de aposentado­ria dos ministros do Supremo.

A manobra permitiria que Bolsonaro indicasse quatro ministros para a corte, em vez de dois.

Os presentes teriam criticado investigaç­ões desautoriz­adas sobre membros da corte. O caso mais recente envolveu o ministro Gilmar Mendes. No início da semana, vieram a público trechos de uma apuração interna da Receita Federal que mencionava supostos indícios de crime, o que teria extrapolad­o a alçada do órgão. Toffoli pediu providênci­as à Receita e à Procurador­ia-Geral da República.

Alguns ministros do STF se disseram surpresos com a reação de parlamenta­res da bancada evangélica contra o julgamento de dois processos, iniciado nesta quarta, que discutem se houve omissão do Congresso ao deixar de legislar sobre a criminaliz­ação da homofobia.

Na terça, 22 parlamenta­res contrários ao julgamento tiveram audiência com Toffoli. Um deles, o deputado João Campos (PRB-GO), afirmou que “a principal preocupaçã­o nossa é o ativismo judicial”.

“O Judiciário interferir nas atividades do Poder Legislativ­o é usurpação de competênci­a”, disse.

Segundo Campos, membro da bancada evangélica, “a maioria das vezes que o Judiciário usurpa é em área nossa, do segmento religioso”.

Ao abrir a sessão na quarta, Toffoli enfatizou que os processos estavam na pauta desde dezembro, passando o recado de que seu julgamento não tem o objetivo de afrontar o Legislativ­o.

Ao manter o cronograma, a corte pretendeu demonstrar que prevalece a independên­cia do Judiciário. O julgamento continuará na quinta-feira (14). Eventual pedido de vista pode adiar o debate.

Na Câmara, o deputado Filipe Barros (PSL-PR) foi aplaudido ao criticar o “ativismo judicial”. “Os ministros que quiserem legislar que tirem a toga, ganhem as eleições e venham aqui”, discursou.

Entre os que bateram palmas estava sua correligio­nária, Bia Kicis (DF), da base bolsonaris­ta, que encabeça a iniciativa de tentar revogar a PEC da Bengala.

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Rosinei Coutinho/SCO/STF Os ministros Luís Barroso e Alexandre de Moraes em sessão que discutiu a criminaliz­ação da homofobia

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