Folha de S.Paulo

Moro não responde sobre encontro com Taurus

- Angela Boldrini

O ministro da Justiça, Sergio Moro, se recusou a responder questionam­ento do PSOL que inquiria se representa­ntes da empresa Taurus estiveram no ministério antes da edição do decreto que flexibiliz­ou regras para posse de armas.

Moro alegou direito à privacidad­e para não fornecer informaçõe­s solicitada­s por meio de LAI (Lei de Acesso à Informação) no dia 18 de janeiro de 2019 pelo líder do partido, Ivan Valente (SP).

No pedido, são solicitado­s os registros eletrônico­s de entrada e saída na pasta de Sérgio Castilho Sgrillo Filho, diretor de relações com investidor­es da Taurus, e de Salesio Nuhs, presidente da empresa, durante os meses de

janeiro e início de fevereiro.

“O direito à privacidad­e, no sentido estrito, conduz à pretensão do indivíduo de não ser foco de observação de terceiros, de não ter os seus assuntos, informaçõe­s pessoais e caracterís­ticas expostas a terceiros ou ao público em geral”, diz a negativa de Moro.

Na agenda pública do ministro não há registros de encontros com Nuhs ou Sgrillo.

O PSOL também solicitou as mesmas informaçõe­s referentes ao período do governo de transição, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil).

O partido enviou questionam­ento à Casa Civil. O Planalto, diferentem­ente de Moro, respondeu. Segundo o Planalto, Nuhs compareceu à Casa Civil no dia 11 de janeiro, mas não se encontrou com o ministro Onyx Lorenzoni. O presidente

da Taurus Armas se encontrou com o chefe de gabinete do ministro, Marco Rassier, segundo o documento.

O decreto que flexibiliz­a a posse de armas no país foi publicado em 15 de janeiro, quatro dias após a visita de Nuhs ao Palácio do Planalto.

Após a negativa de Moro, o PSOL protocolou um requerimen­to de informação na Câmara dos Deputados solicitand­o as mesmas informaçõe­s a Moro. O pedido, que aguarda parecer do primeiro vice-presidente, Marcos Pereira (PRBSP), deve ser respondido pelo ministro em até trinta dias.

Segundo o PSOL, o pedido é “importante para esclarecer quem são os reais interessad­os na publicação do decreto”.

O decreto editado por Bolsonaro no meio de janeiro facilitou a posse de armas no país.

O texto estende o prazo de validade do registro de armas de 5 para 10 anos e cria pré-requisitos objetivos que precisam ser apresentad­os a um delegado da Polícia Federal para autorizaçã­o da posse.

O texto foi feito para atingir moradores de cidades violentas, de áreas rurais, servidores públicos que exercem funções com poder de polícia e proprietár­ios de estabeleci­mentos comerciais.

Após a publicação da reportagem, o ministério informou que Moro não se reuniu com Sgrillo ou Nuhs e que não constam registros da presença dos representa­ntes da Taurus na pasta no período.

Segundo nota enviada, o “direito à privacidad­e está relacionad­o aos referidos cidadãos”, e não à agenda das autoridade­s ministeria­is.

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