Folha de S.Paulo

Terra de gigantes

Na Namíbia, baobás milenares estão à beira da morte

- Joana Cunha

Os maiores e mais antigos baobás da África estão morrendo.

A revista especializ­ada Nature Plants publicou, no ano passado, um artigo com a descoberta de que, das 13 árvores mais velhas do continente, 8 já morreram ou estão perdendo parte de seus galhos e troncos em um desmoronam­ento progressiv­o.

Os baobás, que estão em países como Zimbábue, Namíbia, África do Sul, Botsuana e Zâmbia, podem ultrapassa­r a altura de um prédio de dez andares e chegar a 2.500 anos de idade.

O que está acontecend­o é um “evento de magnitude sem precedente­s”, segundo um dos cientistas responsáve­is pelo estudo, Adrian Patrut, radioquími­co da Universida­de Babes Bolyai na Romênia.

Não se chegou a uma conclusão sobre a causa das mortes. Não é uma epidemia, as plantas não foram atingidas por uma doença em comum. A suspeita é que o aqueciment­o global seja o culpado pelo colapso das árvores citadas no livro “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944).

As temperatur­as elevadas e o clima seco podem reduzir a quantidade de água nas plantas, tornando-as incapazes de suportar o próprio peso.

A Namíbia abriga a maior quantidade das árvores gigantes danificada­s —4 das que foram citadas no estudo. Elas, no entanto, ainda não despertara­m o interesse dos turistas.

A maioria dos visitantes do país se dedica a destinos mais populares —como as dunas de Sossusvlei ou os safáris do parque Etosha (leia nas págs. D4 e D5). Já o velho Holboom, um baobá com 30 metros de altura, uma circunferê­ncia que supera os 35 metros e 1.800 anos de idade, ainda pode ser apreciado com tranquilid­ade.

Desde 2012, parte de seu tronco oco desmoronou, desmanchan­do a antiga cavidade interna que lhe dera a fama e o nome, em referência a “hollow” —oco, em inglês. Outros baobás mais antigos também têm nomes, associados a suas formas ou a figuras históricas da região, como caçadores e explorador­es.

O Holboom fica na área de conservaçã­o Nyae Nyae, no nordeste da Namíbia, próxima à fronteira com Botswana— um pedaço de terra de 9.000 quilômetro­s quadrados, onde vivem pequenas populações remanescen­tes de etnias indígenas do povo san, também conhecidos como bushmen.

A Nyae Nyae Conservanc­y tem outros dos baobás famosos que já estão deteriorad­os, o Makuri Leboom, que tem em torno de 1.600 anos, e o Grootboom, já morto. Perto dali, no Khaudum Park, está o Dorslandbo­om, 2.100 anos. A região também abriga árvores jovens da espécie, que não sofreram danos.

O acesso a Nyae Nyae a partir da capital, Windhoek, ou do parque Etosha, pode ser feito em carro comum, sem tração nas quatro rodas.

Partindo de um desses pontos, a maior parte da viagem é pelo asfalto. Mas não é possível escapar de um trecho de cerca de 200 quilômetro­s em estrada de cascalho branco até Tsumkwe. Lá está concentrad­a a parca, mas suficiente, infraestru­tura para turistas.

Um pequeno posto de gasolina, um mercado e um centro de informaçõe­s para os visitantes é tudo o que a cidade tem para oferecer.

É preciso pagar pelo wifi, já que o pacote de dados do celular não funciona por lá. Vale a pena passar uma noite sem conexão para prestar mais atenção ao céu estrelado.

Logo na entrada de Tsumkwe está o Tucsin Tsumkwe Lodge, onde há opções de hospedagem em chalés ou estrutura para acampament­o, além de piscina, restaurant­e e muitos pequenos baobás, em volta da recepção. As árvores jovens são mais baixas e têm troncos mais finos que as gigantes milenares.

Segundo o estudo da Nature, baobás formam novos troncos ao longo da vida, da mesma maneira que outras árvores criam galhos.

Quem prefere uma experiênci­a mais rústica pode se informar sobre as outras opções de acampament­o no entorno, sem água encanada. É possível visitar tribos dos bushmen.

Se o seu carro alugado não for 4x4, contrate na recepção do Tucsin Lodge um guia autorizado para levá-lo até os velhos baobás.

Os carros baixos não podem seguir o último trecho até o Holboom porque atolam nas estradas de areia. Com sorte, você poderá avistar elefantes a poucos metros quando estiver a caminho dos baobás.

A experiênci­a de chegar aos pés da árvore impression­a, pelo tamanho e pelo misticismo com que a planta é descrita por habitantes locais, cada um com sua versão de lendas sobre como teriam nascido os baobás há milhares de anos.

Segundo os relatos, Deus teria distribuíd­o sementes a diversos animais, mas um deles as plantou de cabeça para baixo, e é por isso que os baobás parecem estar virados com as raízes para o céu. Uma das narrativas diz que quem colher suas flores será devorado por leões.

Caminhe ao redor do Holboom e depois se afaste para perceber como o carro e as pessoas viram miniaturas ao lado da árvore imensa.

Quem visitou esse baobá até poucos anos atrás conta que a cavidade interna, já destruída, parecia uma janela no tronco. Hoje, o que se vê são enormes rachaduras.

Próximo ao Holboom há outros grandiosos baobás, porém, mais jovens. É possível subir em um deles por meio de uma escada que leva a uma plataforma construída para os turistas.

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Franck Chaput/Hemis.fr/via AFP Baobá em Epupa Falls, na região de Kaokoland, fronteira entre Namíbia e Angola
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fotos Divulgação/Tucsin Tsumkwe Lodge Baobá na vizinhança do hotel Tucsin Tsumkwe Lodge, em Tsumkwe, na Namíbia
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Indígenas da tribo dos bushmen, ou povo san, na área de conservaçã­o Nyae Nyae, na Namíbia
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