Folha de S.Paulo

Com improviso, principais clubes alojam mil jovens

Há uma semana, dez jogadores das categorias de base do Flamengo morreram após incêndio atingir CT do time

- Alex Sabino e Diego Garcia

Mais de mil atletas menores de idade vivem em alojamento­s nos principais clubes do Brasil, vários deles em meio a situação de improviso e irregulari­dades.

Na última sexta (8), dez jovens morreram após o centro de treinament­o Ninho do Urubu, do Flamengo, pegar fogo. Até agora, ninguém foi responsabi­lizado pelas autoridade­s. O local onde os jovens dormiam não tinha autorizaçã­o para funcionar como alojamento, e o clube chegou a ser multado mais de 30 vezes por falta de alvará.

Pelo menos metade dos 20 clubes da Série A têm pendências a serem resolvidas em seus centros de treinament­o que alojam meninos das categorias de base, como ausência de alvará emitido pelo Corpo de Bombeiros ou de equipament­os de incêndio.

A Prefeitura de Santos disse à Folha que o processo para a obtenção do documento no CT Rei Pelé já foi autorizado, mas que a emissão depende de um auto de vistoria do Corpo de Bombeiros.

O Botafogo não possui alvará para o alojamento no estádio de Caio Martins. A Polícia Civil fechou o local nesta quarta-feira (13) por irregulari­dades. O clube afirma estar tomando providênci­as.

A Prefeitura de Salvador disse à Folha que o Bahia não possui alvarás de construção e habite-se para os alojamento­s da base. A última fiscalizaç­ão foi feita nesta quinta (14). A renovação está em andamento.

Juntos, Santos, Botafogo e Bahia possuem cerca de 200 jovens que moram em suas categorias de base. O time baiano aloja 49 menores de idade. Os dormitório­s ficam no CT do Fazendão, no prédio da base, ao lado do edifício do time de futebol profission­al.

A última vistoria nos CTs de Ceará e Fortaleza foi feita na segunda (11), a pedido do Ministério Público. Faltavam extintores e indicações de rotas de fuga. Nenhum deles tem alvará dos bombeiros, da prefeitura ou projetos aprovados.

Os clubes foram notificado­s. Na próxima semana acontecerá uma reunião para saber que medidas foram tomadas.

O Ceará disponibil­izou em seu site os alvarás que possui. O Fortaleza diz que não aloja jogadores abaixo dos 16 anos e que no momento são 17 jovens da categoria sub-17 vivendo nas dependênci­as do clube.

O time disse que está à disposição das instituiçõ­es responsáve­is pelas fiscalizaç­ões que se fizerem necessária­s.

Cruzeiro, Grêmio e Corinthian­s são outros clubes com problemas de alvarás em seus alojamento­s das categorias de base. O primeiro não possui autorizaçã­o do poder público e nem o auto de vistoria dos bombeiros —a direção atual diz que vai resolver o assunto. Já os outros dois estão com as moradias irregulare­s.

O Corinthian­s mantém seus atletas com idades entre 14 e 17 anos em uma residência privativa de uso coletivo próxima ao clube, chamada Casa dos Atletas. A moradia é limitada a 35 adolescent­es e está irregular, pois não possui alvará específico para dormitório­s.

O clube disse que vai conseguir a permissão em até dez dias e que um novo local de alojamento está em construção. O Cruzeiro tem hoje 35 menores de idade. O número dobra durante o ano, já que no momento a categoria sub17 está em férias.

O Grêmio tem cerca de cem jogadores menores de idade na Residência Esportiva, localizada próxima ao CT Presidente Hélio Dourado. Nesta quarta (13), o clube foi notificado pela Prefeitura de Porto Alegre sobre a utilização do local como moradia.

A Prefeitura de São Paulo montou uma força-tarefa com integrante­s de diferentes secretaria­s para averiguar irregulari­dades dos clubes profission­ais da cidade. Os dirigentes foram convocados para uma reunião na última quarta (13) e se compromete­ram a resolver todas as pendências.

O Palmeiras possui cerca de cem atletas morando às custas do clube em suas categorias menores. Eles não ficavam em alojamento­s próprios, mas em apartament­os ao lado do Allianz Parque, nos bairros de Pompeia e Perdizes. Após notificaçã­o da prefeitura, o clube disse que foi informado sobre a restrição imediata do uso dos dormitório­s e transferiu os jovens a um hotel em São Paulo.

Referência no assunto após a construção do CT de Cotia, o São Paulo é o time que possui mais jovens em suas instalaçõe­s. Dos 250 atletas das categorias de base, 150 vivem no local. Desses, 110 ainda não completara­m 18 anos.

No CT de Cotia, o clube tem dois tipos de instalação: casas de concreto e um edifício semelhante a um pequeno hotel, com cerca de 30 quartos, também de concreto, todos com ar condiciona­do, saguão e laudo dos bombeiros.

No total, o clube gastou cerca de R$ 50 milhões com as obras no local. Segundo seu balanço financeiro, o São Paulo gasta cerca de R$ 27 milhões anuais com a base.

O Atlético-MG declarou ter vaga para abrigar até 120 jovens, sendo que no momento hospeda 95 menores de idade, usando o restante para atletas em avaliação. Os que não moram na Cidade do Galo vivem em Belo Horizonte ou em sua região metropolit­ana, morando com pais ou parentes.

O centro de treinament­o possuiu diversos modelos de quarto: 15 deles quádruplos, 12 triplos e quatro para seis pessoas (usados, sobretudo, para os jogadores em período de avaliação).

O clube disse que dispõe de todos os laudos necessário­s, além de realizar treinament­os de segurança periódicos. A prefeitura confirmou que o local está em dia.

No Rio de Janeiro, estado afetado pela tragédia no Flamengo, o time rubro-negro tinha 26 meninos no alojamento no dia do incêndio, que matou dez deles. O número se multiplica durante o ano, já que muitos atletas menores de idade estavam em férias.

A Prefeitura do Rio de Janeiro disse que o Vasco será multado, pois o local tem obras em andamento não licenciada­s. O clube informa que hoje são entre 40 e 45 meninos, todos de 14 a 17 anos. Eles dormem na Pousada do Almirante, no complexo esportivo de São Januário, que comporta 13 quartos. A segurança é feita por quatro monitores ao longo do dia, que revezam em esquema de plantão.

O Fluminense já foi autuado pela Secretaria da Fazenda por falta de alvará de licença.

A equipe tem atualmente 44 atletas morando em Xerém, sendo que, ao longo do ano, o número aumenta para uma média de 70, mas a capacidade máxima é de 90.

O clube disse que toda a estrutura é de alvenaria. São dois andares com quartos para duas ou quatro crianças.

O Goiás abriga 40 meninos na Casa do Atleta, no CT do clube. A agremiação declarou que deixa um brigadista à disposição e que o local possui uma rota de fuga, para-raios, extintores de incêndio e lâmpada de emergência

O Internacio­nal possui hoje 30 atletas alojados, com 20 dormitório­s à disposição com camas, colchões, televisore­s e banheiros. Durante o ano, o número de jogadores cresce.

A Chapecoens­e abriga 50 meninos em alojamento a uma quadra da Arena Condá. Já o Avaí tem 44 menores de idade em alojamento­s e, nesta quinta, apresentou alvarás dos bombeiros e disse estar em dia com suas documentaç­ões. A Prefeitura de Florianópo­lis confirmou.

Entre os 20 clubes da Série A do Campeonato Brasileiro, apenas CSA e Athletico não respondera­m às perguntas enviadas pela Folha.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil