Folha de S.Paulo

Cerco às facções

Transferên­cia de Marcola e outros membros do PCC para presídios federais renova esperanças de que o Estado combata o crime de forma mais articulada

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Sobre ida de membros do PCC para prisões federais.

Numa operação que mobilizou um arco de instituiçõ­es vinculadas à segurança pública, da esfera estadual ao governo federal, o chefe da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), Marco Camacho, foi transferid­o do presídio de Presidente Venceslau, no oeste de São Paulo, para o sistema federal.

Além de Marcola, como é conhecido o prisioneir­o de alta periculosi­dade, foram removidos 21 membros da organizaçã­o que nasceu no interior paulista, em 1993, e exerce vasta e deplorável influência em penitenciá­rias do país.

Em 2006, quando Marcola e outros membros do PCC foram mandados para a instituiçã­o de segurança máxima de Presidente Venceslau, eclodiu uma onda de ataques e rebeliões que ficou na memória como um marco infame da violência patrocinad­a pela facção.

Temores quanto a novas retaliaçõe­s levaram as autoridade­s a organizar, agora, amplo esquema de prevenção, que envolveu polícia, Forças Armadas e Força Nacional de Segurança Pública (FNSP).

Na quarta, dia da operação, a PM foi mobilizada para vigiar mais de 3.300 locais, enquanto a Secretaria da Administra­ção Penitenciá­ria promovia revistas em praticamen­te todas as unidades do estado.

Em Brasília, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) assinou decreto de Garantia da Lei e da Ordem para autorizar tropas militares em torno dos presídios federais de Mossoró (RN) e Porto Velho (RO).

Por sua vez, o ministro da Justiça, Sergio Moro, que assumiu compromiss­os, ao tomar posse, de combate ao crime organizado, providenci­ou o apoio da FNSP para reforçar a vigilância da penitenciá­ria de Brasília —o terceiro destino aventado para receber os detentos.

Moro editou ainda portaria que muda as regras para as visitas a presos em instituiçõ­es federais. Os contatos ocorrerão apenas por meio de parlatório e videoconfe­rência, à exceção de presos que demonstrem “ótimo comportame­nto carcerário” durante um ano.

A transferên­cia de Marcola e outros detentos já havia sido pedida pelo Ministério Público no ano passado, em decorrênci­a da descoberta de um plano cinematogr­áfico de fuga, que utilizaria mercenário­s estrangeir­os, dois helicópter­os, lança-mísseis e metralhado­ras.

A apreensão de uma suposta carta que determinar­ia a eliminação de um promotor reforçou a decisão, agora implementa­da.

A operação renova esperanças de que as autoridade­s assumam atitude mais decidida e articulada no combate às facções criminosas. O descontrol­e que se instalou na segurança pública é, sem dúvida, um descalabro nacional.

Será difícil oferecer perspectiv­a de melhora à sociedade enquanto bandidos comandarem grande parte do sistema prisional e emitirem ordens de seu interior para que se matem desafetos e se organizem verdadeiro­s ataques terrorista­s.

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