Folha de S.Paulo

Bolsa reage e fecha em alta de 2,27% após anúncio de idade mínima

- Anaïs Fernandes

A Bolsa brasileira reagiu bem à notícia de que a proposta de reforma da Previdênci­a do governo de Jair Bolsonaro quer elevar a idade mínima de aposentado­ria para 62 (mulheres) e 65 (homens).

Incerteza e ansiedade de investidor­es em relação ao texto fizeram o pregão oscilar nos últimos dias.

A informação da idade mínima foi confirmada pelo secretário especial de Previdênci­a do Ministério da Economia, Rogério Marinho, por volta das 17h.

Com isso, o Ibovespa, índice que reúne as ações mais negociadas, saltou de 96.632,65 pontos às 17h08 para 97.100,92 pontos às 17h09. Fechou o dia com alta de 2,27%, a 98.015,09.

O temor do mercado era que, se o texto do governo apresentas­se uma idade mínima de 5762, como foi cogitado, a margem para negociar com o Congresso a aprovação seria muito menor, compromete­ndo a capacidade de fazer uma economia que gerasse equilíbrio das contas públicas.

“Essa reação de curto prazo mostra um mercado mais otimista, mas é preciso ter em mente que já se esperava que a proposta viesse com alguma gordura para ser negociada com o Congresso”, disse Frederico Sampaio, diretor de renda variável da Franklin Templeton.

Segundo Marinho, a equipe econômica defendeu uma única idade mínima para homens e mulheres, de 65 anos, o que foi recusado pelo presidente.

“Era sabido que havia certa resistênci­a dentro do Congresso para uma idade igual. Quando coloca idades diferentes, aumenta um pouco a probabilid­ade de aprovação”, afirma Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset no Brasil.

Sampaio, no entanto, destacou como positiva a diferença menor entre as idades para homens e mulheres.

“Antes, aventou-se que seria de cinco anos [na proposta 57-62], mas vieram três. É um pontapé inicial, coloca a bola jogando com algo mais concreto”, diz.

Ficou estabeleci­do também, de acordo com Marinho, que haverá um período de 12 anos de transição para chegar aos pisos para recebiment­o da aposentado­ria.

“Não é uma transição tão rápida quanto poderia, mas também não é ruim —12 anos é razoável”, diz Lima.

“Tudo vai depender ainda de outras informaçõe­s que não foram dadas, como possíveis mudanças na Previdênci­a rural, que é marcada por fraudes, mas encontra bastante resistênci­a para alteração de bancadas do Nordeste e Centro-Oeste no Congresso”, acrescenta.

Analistas aguardam também informaçõe­s sobre alterações nos regimes dos funcionári­os públicos e de militares.

“Tem questões importante­s que ainda não foram definidas: o BPC [Benefício de Prestação Continuada] será ou não desvincula­do do salário mínimo”, diz Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimen­tos.

“O governo tem hoje o controle da proposta que vai ser encaminhad­a. É importante que a mande da melhor forma possível, para gerar economia dentro dos parâmetros razoáveis e sem que seja criado um ‘Frankenste­in’”, completa Buccini.

A expectativ­a é que na próxima quarta-feira (20) Bolsonaro assine o texto e, no mesmo dia, ele seja divulgado publicamen­te e enviado à Câmara dos Deputados.

Até lá, Sampaio, da Franklin Templeton, observa que a tônica para os próximos dias é positiva.

“Mas vai depender também do fluxo de notícias do governo. Pode ser que ele sinalize alguns outros pontos. O mercado vai ficar muito em função de conhecer esses detalhes. Mas tudo converge para um otimismo e uma proposta mais robusta do que o especulado a princípio”, observa Sara Delfim, sócia-fundadora da Dahlia.

O dólar comercial fechou antes do anúncio do governo, em baixa de 0,34%, cotado a R$ 3,74.

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