Folha de S.Paulo

Polícia prende 8 funcionári­os da Vale em Minas

Gerentes agiram para mascarar condição de barragem que se rompeu em Brumadinho, segundo o Ministério Público

- Thiago Amâncio, Paulo Gomes e Fernanda Canofre

Operação do Ministério Público de MG prendeu oito funcionári­os da Vale com cargos de gerência e de equipes técnicas. As prisões são temporária­s.

A ação apura a responsabi­lidade pelo rompimento da barragem em Brumadinho, que deixou ao menos 166 mortos.

Uma operação deflagrada pelo Ministério Público de Minas Gerais, com apoio das polícias Civil e Militar, prendeu oito funcionári­os da Vale nesta sexta-feira (15).

A ação apura a responsabi­lidade pelo rompimento da barragem em Brumadinho, no último dia 25, que deixou ao menos 166 mortos. O número pode subir para 315, dado que ainda há desapareci­dos.

Os investigad­os possuem cargos de gerência e de equipes técnicas. São eles: Joaquim Pedro de Toledo, Renzo Albieri Guimarães Carvalho, Cristina Heloíza da Silva Malheiros, Artur Bastos Ribeiro, Alexandre de Paula Campanha, Marilene Christina Oliveira Lopes de Assis Araújo, Hélio Márcio Lopes de Cerqueira e Felipe Figueiredo Rocha.

As prisões são temporária­s, comprazo de até 30 dias. Segundo a Promotoria, os detidos são investigad­os para determinar­a autoria ou participaç­ão em“centenas de crimes” de homicídio qualificad­o, considerad­o hediondo.

O juiz Rodrigo Heleno Chaves, de Brumadinho, afirmou que a prisão é imprescind­ível para as investigaç­ões do inquérito policial .“A oque parece, os funcionári­os da Vale assumir amorisco de produzir o resultado pois, mesmo diante de novos elementos aptos a demonstrar­a situação de emergência [...], não acionaram o Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM)”.

Segundo o Ministério Público, a Vale eaempres aal em ãTüvSüd agiram em conluio para“torturar os números” emascarara condição crítica da barragem, citando e-mails encontrado­s, mensagem e áudios em equipament­os apreendido­s pela força-tarefa do MP e da Polícia Civil.

Em um dos e-mails encontrado­s em equipament­os apreendido­s na primeira fase da operação, um funcionári­o da Tüv Süd menciona de forma expressa que a Vale estaria pressionan­do a empresa para atestara estabilida­de da barragem. O trecho está na decisão judicial que autorizou as prisões.

A Promotoria afirma que documentos apreendido­s comprovam que havia uma interlocuç­ão constante entre a mineradora e a empresa responsáve­l pelo laudo, desde antes do rompimento. O objetivo seria combinar como disfarçara situação da estrutura.

Um dos presos é Alexandre de Paula Campanha, gerenteexe­cutivo de Gestão de Riscos e de Estruturas Geotécnica­s. Em depoimento à PF, o engenheiro Makoto Namba, da Tüv Süd, afirmou que Campanha o pressionou pelo laudo.

Joaquim Pedro de Toledo, outro gerente-executivo preso, era comunicado por seus subordinad­os de qualquer anomalia na estrutura da barragem. A decisão por adoção de providênci­as para sanar qualquer problema era dele.

Eram seus subordinad­os Renzo, Cristina e Artur. Os três teriam conhecimen­to de risco na estrutura da barragem.

Uma troca de emails envolvendo Artur, Hélio Cerqueira e engenheiro­s da Tüv Süd nos dois dias que antecedera­m o rompimento deixa claro que eles sabiam da anormalida­de presente nas medições dos piezômetro­s, equipament­o que mede apressão da água.

Com Felipe, Cerqueira gerenciava dados que denotaram o estado crítico da barragem.

Marilene era umadas interlocut­oras comaTüvSü de, portanto, uma das responsáve­is pela auditoria que atestou a estabilida­de da barragem.

Felipe Figueiredo Rocha, outroengen­heiro preso,é autor de um documento da Val eque estimouem outubro de 2018 quanto custaria, quantas pessoas morreriam e quais as possíveis causas de um eventual colapso da barragem de Brumadinho.

Além deles, quatro funcionári­os da Tüv Süd foram alvo de busca e apreensão em São Paulo e Belo Horizonte. O Ministério Público pediu a prisão desses funcionári­os, alegando que teriam participad­o de um esquema patrocinad­o pela Vale no sentido de maquiar dados técnicos, o que foi negado pela Justiça.

Também foi feita busca e apreensão de documentos e provas na sede da Vale, no Rio de Janeiro. Foram apreendido­s computador­es, celulares e documentos.

Em nota, a Vale diz que continuará contribuin­do com as investigaç­ões. A Tüv Süd não respondeu aos pedidos de contato feitos pela Folha. Leia mais em Mercado

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Washington Alves/Reuters Funcionári­os da Vale são presos nesta sexta-feira (15) em Belo Horizonte

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