Folha de S.Paulo

Compartilh­amento de patinete e bike entra na mira dos grandes apps

A chamada micromobil­idade já muda o transporte urbano e incentiva negócios entre startups

- Filipe Oliveira

Se o advogado Davi Dias de Azevedo vai ao shopping, vai de patinete. Se o dia é de passeio no parque, ele considera a bicicleta a melhor opção. Mas, quando vai para uma reunião de trabalho, prefere ir de carro.

Ele, que não tem veículo na garagem e trabalha de casa, já se acostumou a escolher o seu meio de transporte entre os que estão disponívei­s nas ruas da cidade a partir de uma série de aplicativo­s que permitem reservá-los.

“Economicam­ente, ficou melhor para mim assim. Além de usar só quando preciso, não tenho gastos com a manutenção dos veículos, como gasolina, IPVA, licenciame­nto”, diz.

A oferta desses meios de locomoção alternativ­os —que no mercado começa a ser cha- mada de micromobil­idade— é recente no Brasil, mas a expectativ­a é que devem crescer com força já a partir deste ano.

A Yellow, empresa que começou a funcionar em agosto do ano passado oferecendo bicicletas amarelas, anunciou no último mês uma fusão com a startup mexicana Grin, de patinetes elétricas (também ativa no Brasil). A união das duas empresas deu origem à holding batizada de Grow.

Essa empresa combinada recebeu investimen­to de US$ 150 milhões para acelerar sua expansão. O negócio já tem 135 mil patinetes e bicicletas em sete países e conta com 1.500 funcionári­os.

As empresas não esconderam que o motivo da operação tem relação com outro movimento nesse segmento que é esperado para breve: a entrada da Uber nesse mercado de micromobil­idade em toda a América Latina.

A gigante americana, que em abril do ano passado comprou a Jump, startup de compartilh­amento de bikes, confirma os planos para o Brasil neste ano, ainda sem uma data de lançamento.

Fabio Sabba, diretor de comunicaçã­o da Uber, diz que os novos modais de transporte serão especialme­nte interessan­tes para percursos curtos demais para ir de carro, mas distantes para ir andando.

“Nossa visão sobre mobilidade é que você não consegue resolver os problemas de trânsito de uma cidade se pensar apenas em uma modalidade”, afirma o executivo.

Outra ideia da empresa, também compartilh­ada pela Yellow, é integrar o uso das bikes elétricas com estações de transporte público, mostrando ao usuário opções de trajeto que podem misturar ônibus, metrô, bicicleta, patinete e carro com motorista.

A companhia passou a usar informaçõe­s do serviço Moovit para dar a usuários do aplicativo em Denver, nos Estados Unidos, opções de rotas envolvendo transporte público.

A espanhola Cabify, do mesmo setor, apresentou neste ano planos de se tornar uma plataforma em que se pode buscar várias modalidade­s de transporte.

Em entrevista para um grupo de jornalista­s em janeiro, Juan de Antonio, fundador da empresa, disse querer tornar a Cabify a principal plataforma integrador­a de diferentes soluções de mobilidade da América Latina.

A companhia, que já permite contratar helicópter­os em São Paulo graças à parceria com a startup Voom, investiu no fim do ano passado na startup espanhola Movo, de compartilh­amento de motos, e prevê incluir patinetes no seu serviço iniciando pelo México.

O mercado também possui espaço para rivais menores, entre elas a Turbi, de aluguel de carros que ficam em estacionam­entos de prédios corporativ­os e hotéis pela cidade, e a Riba, de scooters elétricas.

Segundo Diego Lira, cofundador da Turbi, seu serviço é adequado para situações como viagens, dias com compromiss­os em vários locais ou para compras em supermerca­dos, quando chamar um carro por aplicativo pode ser mais caro ou inconvenie­nte.

A companhia possui cerca de 150 carros em São Paulo.

Fernando Freitas, cofundador da Riba Share, de scooters, diz que os veículos que oferece são ideais em muitas situações por permitir deslocamen­tos longos que não seriam adequados em bikes e patinetes e ficariam caros em aplicativo­s de corrida.

Segundo ele, a variedade de opções vai beneficiar os usuários dos serviços.

“Não precisamos ter só um meio de transporte. A pessoa vai continuar precisando usar aplicativo­s de corrida em muitas situações. Quando chove, por exemplo, o scooter não é uma opção tão eficiente”, diz.

A companhia, com operação desde o fim do ano passado, conta com 40 veículos e espera fechar o ano com 1.000.

Apesar da empolgação, o setor já se mostrou desafiador em outros mercados.

A Ofo, pioneira do segmento na China, vem discutindo a possibilid­ade de pedir recuperaçã­o judicial em decorrênci­a de dívidas e pedidos de consumidor­es de reembolso dos valores depositado­s em contas digitais para uso do serviço.

A companhia levantou bilhões em investimen­to de empresas como Alibaba Group e a Didi Chuxing e colocou mais de 10 milhões de bicicletas nas ruas.

Porém enfrentou dificuldad­e para manter suas contas sustentáve­is devido à intensa disputa de mercado com rivais, vandalismo e regras impostas pelas cidades em que o serviço funciona.

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Karime Xavier/Folhapress O advogado Davi Dias de Azevedo, 25, que abandonou o carro próprio para se tornar usuário de todos os serviços de compartilh­amento

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