Fotógrafa leva ação de espaços infantis dos Jardins a Paraisópolis
Passeadores de cachorros com suas matilhas na coleira são personagens cada vez mais comuns nos elegantes bairros dos Jardins paulistanos. Nas calçadas, cruza-se mais com esta fauna do que com crianças, como constatou a fotógrafa e produtora Adriana Lopes, 43, ao mapear um quadrilátero com cem quadras entre as avenidas Paulista e Brasil, Rebouças e Nove de Julho, com 815 locais e serviços para a primeira infância que anotou num caderninho.
Drica, como é chamada, queria descobrir lugares para levar seus dois filhos e descobriu que nesta área dominada por prédios vivem 14 mil crianças entre 0 e 6 anos. Tirar elas dos apartamentos passou a ser seu projeto de vida.
Criada na Granja Vianna, e depois de morar quatro anos em Avaré, no interior paulista, ela estranhou quando se mudou com o marido, o fotógrafo Luiz Tripolli, para um apartamento nos Jardins.
“As crianças aqui ficam confinadas no circuito apartamento-carro-escola-carroclube-apartamento-tablet, como se estivessem em prisão domiciliar. Não curtem as ruas, a cidade onde vivem”, diz ela que se tornou uma “passeadora de crianças”.
Numa das suas primeiras andanças, Drica se espantou ao ver um motoboy oferecer drogas na praça General San Martin, no final da rua Consolação, para duas meninas.
Ali começou a mudar a sua vida. Foi direto à associação de moradores do bairro, a AME Jardins, então presidida por Julio Serson. O vice-presidente da entidade era João Doria, empresário que, anos depois, seria eleito prefeito e é o atual governador de São Paulo.
Juntos eles foram à Rádio Eldorado e fizeram a denúncia. A esta altura, Drica já tinha transformado seu caderninho no grande mapa “Jardins da Infância”, ilustrado pelo urbanista Maurício Paraguassú, que ela apresentou a um grupo de mulheres da AME.
“Quem é a pessoa louca que vai tirar os filhos de casa para andar pelas ruas dessa cidade?”, perguntou uma delas. A louca era ela, que pediu ao arquiteto Márcio Kogan um projeto de “jardim da infância” para a praça Adolfo Bloch, atrás da igreja de Nossa Senhora do Brasil.
A fotógrafa foi atrás de patrocinadores. “De lá para cá nunca mais saí desse trabalho”, lembra ela, que três meses depois já havia se reunido com mais de 800 mães. Em 2013, mais de 2.000 crianças foram a exposições, peças de teatro e rodas de bate papo no Mube (Museu Brasileiro de Escultura) e no MIS (Museu de Imagem e do Som).
Quando o então vice-prefeito Bruno Covas, hoje titular no cargo, levou a Doria a ideia de reativar o projeto “Adote uma praça”, implantado por seu avô, Mário Covas, o atual governador logo se lembrou de Drica. “Ele me ligou às 8h, e falou: pega teu projeto e entrega nas mãos do Bruno”.
A ideia era fazer “jardim da infância” numa praça em cada uma das 32 subprefeituras. Até agora, foram selecionadas quatro, a primeira em Paraisópolis, favela da zona sul, onde vivem 25 mil crianças.
O projeto, também do arquiteto Márcio Kogan, será implantado na praça da Independência, cedida pela prefeitura. Éa única contribuição do poder público. O resto, instalações, pessoal e manutenção, deverá ser custeado com incentivos fiscais previstos na Lei Rouanet.
A ideia é que as crianças façam tudo no chão, com piso de borracha e areia, coma ajuda de monitores e cercados de árvores frutíferas. “A grande inteligência vai estar no chã odessa praça para desenvolvera criatividade das crianças”, explica a fotógrafa.
Criadora e diretora da Associação Jardim da Infância, que já reúne 32 mil mães, Drica integra também o grupo de trabalho do Plano da Primeira Infância da prefeitura, que discute políticas públicas, com a participação de 58 entidades da Rede Nossa São Paulo.
Por iniciativa do Fundo Social do Estado, duas novas parcerias serão firmadas com ONGs em Paraisópolis, para promover oficinas de empreendedorismo, enquanto as crianças se divertem na praça.
As próximas praças onde o projeto Jardim da Infância será implantado ficam em Itaquera (zona leste), Parelheiros (sul) e Perus (norte), áreas com maior concentração de famílias e carentes em aparelhos culturais.