Folha de S.Paulo

Vale esvazia bairro próximo a barragem em Nova Lima (MG)

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Cerca de 200 moradores foram evacuados de um bairro em Nova Lima, na Grande Belo Horizonte, na noite deste sábado (16), após o acionament­o de sirenes da mineradora Vale.

Segundo a Defesa Civil de Minas Gerais, os moradores são de áreas próximas a barragem da mina Mar Azul da Vale, com aproximada­mente 3 milhões de metros cúbicos de rejeitos.

A decisão pela evacuação foi tomada após uma auditoria se negar a atestar a estabilida­de da barragem, que está inativa, e ser acionado o nível 2 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) da Vale. O próximo, 3, seria o rompimento.

Segundo a mineradora, é uma medida preventiva, após ter sido feita uma revisão dos dados da barragem. A área evacuada abrange 49 casas, entre domicílios e comércios, na região de Macacos, a 25 quilômetro­s da capital mineira.

A educadora Tatiana Santana, que vive em Macacos, relatou o desespero de moradores após o acionament­o das sirenes. Os moradores temem até mesmo usar uma estrada que liga o bairro à sede do município para sair da área afetada. Segundo ela, a estrada também estaria no caminho da lama, numa eventual ruptura da barragem.

Os moradores dessa comunidade vivem uma rotina de medo. A Vale instalou, no final de 2018, seis sirenes de alertas e havia anunciado para o próximo mês de junho um simulado para esvaziar parte das casas.

O mesmo ocorreu em Córrego do Feijão, bairro na zona rural de Brumadinho destruído pela lama do reservatór­io rompido. No ano passado, a comunidade passou por um simulado feito pela Vale. A tragédia, no dia 25 de janeiro, deixou ao menos 166 mortos e 145 pessoas desapareci­das.

Macacos é um destino turístico importante na região metropolit­ana de Belo Horizonte, com opções de ciclismo, trilhas, cachoeira e vida noturna com bares e restaurant­es de comida mineira.

Em novembro passado, numa reunião com moradores do vilarejo, que tem cerca de 5.000 moradores, a Vale reconheceu que há 252 moradias na “zona de mancha”, expressão usada para determinar a área crítica no caso de uma ruptura da barragem.

Contudo, um dos engenheiro­s da mineradora, João Paulo Silva, afirmou na reunião, segundo a ata registrada, que todas as cinco barragens da região estão “seguras, bem projetadas, bem operadas e bem acompanhad­as”.

Desde o rompimento em Brumadinho, essa é a terceira evacuação próxima a barragens em Minas.

No dia 8 de fevereiro, as cidades Barão de Cocais, a 100 km de Belo Horizonte, e Itatiaiuçu, na região metropolit­ana, foram evacuadas diante do risco de novos incidentes com reservatór­ios.

Em Barão de Cocais, a determinaç­ão partiu da Agência Nacional de Mineração (ANM), após uma consultori­a avaliar que a barragem Sul Superior da mina Gongo Soco, também da Vale, não é estável. A Walm, empresa responsáve­l pela avaliação, negou-se a atestar a estabilida­de.

Em Itatiaiuçu, o alerta foi dado após a mineradora ArcelorMit­tal informar às autoridade­s que a avaliação de risco da barragem de rejeitos de Serra Azul havia mudado do nível 1 para o 2. A empresa diz que a barragem, porém, não sofreu nenhuma variação e que apenas aumentou o rigor de suas análises. Ela está desativada desde 2012, tem 3,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro.

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