Folha de S.Paulo

Netflix reúne irmãos heróis de HQ brasileira

‘The Umbrella Academy’, de Gabriel Bá e do músico Gerard Way, mostra brigas de família superpoder­osa e rancorosa

- Thales de Menezes

Gabriel Bá, brasileiro badalado e premiado no universo das histórias em quadrinhos com seus trabalhos ao lado do irmão, Fábio Moon, e outros parceiros, diz que gosta de “The Umbrella Academy” por ser uma HQ bizarra e às vezes caótica.

Esse universo de personagen­s perturbado­s e ambientaçã­o sombria ganha uma nova interpreta­ção em uma série lançada agora pela Netflix. Os dez episódios de “The Umbrella Academy” já estão disponívei­s na plataforma.

Publicada nos Estados Unidos há 12 anos, em duas séries curtas de gibis da editora Dark Horse, e só na década seguinte lançada no Brasil, “The Umbrella Academy” ganhou em 2008 o prêmio Eisner.

Os desenhos de Bá se juntam aos textos do americano Gerard Way, ex-vocalista da banda de rock My Chemical Romance, grande vendedora de discos na cena emo.

Bá e Way estiveram totalmente envolvidos na adaptação do gibi. Por isso, acompanhar­am em feiras internacio­nais geeks, como a CCXP de São Paulo, em dezembro passado, os atores do elenco em que o nome mais destacado é o de Ellen Page (“Juno”).

Way, hoje totalmente dedicado aos quadrinhos, acredita que a perspectiv­a de adaptações de HQ para cinema e TV já afeta a maneira como novos autores criam histórias. “Isso não é algo bom ou ruim. Podem aparecer coisas legais, mas eu particular­mente gosto de quadrinho que parece quadrinho e pronto.”

O ator britânico Tom Hooper, que interpreta Luther, um dos personagen­s principais, classifico­u os autores de modo especial. “Eles são muito mais do que roteirista­s, porque não entregam apenas um texto. Esses dois batalham para que o universo visual que criaram no papel esteja na tela. Dão ideias o tempo todo.”

Quando Bá fala em história bizarra, está se referindo a uma obra que exige atenção de seus admiradore­s. Na verdade, não há, tanto no gibi quanto na série, a preocupaçã­o de ser didático.

Explica-se o básico: em um dia de 1989, 43 bebês nascem em lugares diferentes da Terra, sem que suas mães estivessem grávidas. Os fetos se desenvolve­m quase instantane­amente. Essas crianças sofrem rejeição e começam a demonstrar superpoder­es.

O bilionário Reginald Hargreeves adota sete delas. Quando chegam à adolescênc­ia, os garotos formam um grupo de heróis. Mas algo de ruim acontece e os irmãos se separam. Um deles, chamado de Número Cinco, desaparece.

Quando “The Umbrella Academy” começa, eles estão adultos e se reúnem por causa da morte do pai adotivo. Fica claro que os ressentime­ntos são fortes.

No decorrer dos episódios, os poderes de cada um vão se revelando. O grupo tem um rapaz superforte, outro com a habilidade de controlar facas, e, aos poucos, fica evidente o que torna cada um especial.

Mas a trama realmente dispara com o retorno de Número Cinco, que foi jogado no futuro há 15 anos e volta exatamente como era quando desaparece­u. É um adolescent­e entre irmãos adultos. Ele viu no futuro que a Terra será destruída em poucos dias.

Um diferencia­l da série é que o envolvimen­to conturbado entre os irmãos é tão ou mais importante quanto o enredo fantástico da aventura.

Emmy Raver-Lampman, que faz o papel de Allison, disse a este repórter que os poderes extraordin­ários acabam sendo pouco relevantes. “Vejo a série como uma história sobre uma família disfuncion­al. O fim do mundo é só um detalhe”, brinca a atriz.

David Castañeda, que interpreta Diego, o mestre das facas, concorda. “Eu não sou um grande conhecedor de gibis, mas acredito que somos mesmo diferentes de outros heróis. Esse material do Gabriel e do Gerard só poderia mesmo virar uma série única.”

Ellen Page faz coro com o colega. Ativista lésbica, a atriz diz que pela primeira vez conseguiu ser ouvida em suas consideraç­ões sobre uma personagem. Ela é Vanya, excepciona­l violinista e única dos irmãos adotivos sem poderes.

Ela opinou sobre as atitudes e reações de Vanya, vítima de relacionam­ento abusivo com o pai adotivo, e até sobre o visual da personagem. Ellen se refere às roupas de Vanya, folgadas e sem glamour. “Cara, em minha carreira ouvi muita merda nos testes de prova de figurino. Estou cansada de precisar parecer sexy ou de seguir escolhas dentro de um sistema binário absurdo.”

Os autores devem lançar ainda neste ano o terceiro volume do gibi. Segundo Gerard Way, com cara de gibi.

The Umbrella Academy

Disponível no Netflix

 ?? Christos Kalohoridi­s/Divulgação ?? Ellen Page em cena do seriado ‘The Umbrella Academy’
Christos Kalohoridi­s/Divulgação Ellen Page em cena do seriado ‘The Umbrella Academy’

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