Folha de S.Paulo

Promoção só funciona com data para acabar e regras claras

Além de dar descontos, empresário pode oferecer brindes e fazer sorteios

- Carolina Muniz

Ao fazer uma promoção, muitas empresas se esquecem do básico: calcular os custos para saber se ela é viável ou não. O risco é reduzir muito o preço das mercadoria­s e ter um resultado oposto ao esperado —quanto mais a loja vender, maior será o prejuízo.

A maioria dos empreended­ores escolhe uma porcentage­m de desconto que imagina ser interessan­te sem fazer um planejamen­to financeiro, afirma Adriano Augusto Campos, consultor do Sebrae-SP.

Por anos, a professora de educação física Zuleika Albuquerqu­e, 52, cometeu sucessivos erros ao fazer promoções em sua empresa, a FPA Cursos, que oferece capacitaçã­o a profission­ais da área.

“Inspirada nas liquidaçõe­s das lojas, eu dava 50% de desconto nos cursos sem fazer nenhuma conta de quanto eu poderia abaixar o preço.”

Por causa dos resultados ruins, ela resolveu estudar. Fez uma pós-graduação em marketing e, depois, um curso mais específico, que a ensinou a desenvolve­r promoções e divulgá-las nas redes sociais.

O primeiro passo foi calcular os custos que teria ao dar um curso e fazer uma projeção do número de alunos esperados. Descobriu, então, que poderia oferecer no máximo 35% de desconto.

Entendeu também que faltava estabelece­r prazos e regras claras. Em alguns casos, o desconto se estendia por meses. Em outros, a promo- ção deveria durar um dia, mas, se algum atrasado aparecesse na manhã seguinte, ela o deixava pagar o mesmo preço.

“Eu não era firme. Aí, a ação começou a perder credibilid­ade. A cada vez que eu fazia, vendia menos”, diz Zuleika.

Hoje, encontrou um modelo que funciona bem para o seu negócio. Durante uma semana, anuncia nas redes sociais e em listas de emails que dará um desconto para um curso.

Os interessad­os devem enviar seus números de celular, para entrar em um grupo de WhatsApp. Um dia antes da promoção acontecer, Zuleika faz um vídeo em que revela o preço e explica as regras.

No dia seguinte, um link é enviado aos membros, que têm das 8h às 18h para comprar com o desconto de 35%. Depois disso, ele passa para 25%, e, após 24 horas, o valor volta ao normal.

“O sucesso é tão grande que dá vontade ficar repetindo a promoção, mas tenho que segurar. Senão, ela para de funcionar porque as pessoas não acreditam mais que é uma oportunida­de única”, diz.

Delimitar o prazo da promoção também é importante para que a empresa não perca público ao voltar ao preço normal, diz Campos, do Sebrae.

Sem duração clara, o cliente se acostuma com aquele valor e, quando acabar o desconto, ele pode achar que foi lesado. “Vale fazer até contagem regressiva. Tudo para que a pessoa entenda que, se não aproveitou, a culpa foi dela.”

O prazo ideal varia de acordo com o negócio, mas, em ge- ral, não deve ultrapassa­r 30 dias, orienta Campos.

E tudo deve ser planejado com antecedênc­ia. É preciso ter um calendário de ações promociona­is para o ano inteiro, que pode aproveitar as datas importante­s do comércio, como a Black Friday.

O mais importante é variar os modelos das promoções, que nem sempre precisam estar focadas em descontos. Podem, por exemplo, oferecer brindes, serviços e sorteios

“É errado achar que os clientes estão preocupado­s só com preço”, diz Maurício Morgado, coordenado­r do Centro de Excelência em Varejo da FGV (Fundação Getulio Vargas).

Para avaliar se o desconto é a melhor estratégia, o professor recomenda analisar quatro “cês”: o custo, a concorrênc­ia, a comunicaçã­o e, principalm­ente, o cliente.

“Antes de qualquer coisa, o empreended­or precisa conhecer o tipo de pessoa que frequenta o negócio dele e o que tem apelo para esse público”, diz o professor.

Para isso, as grandes empresas encomendam pesquisas de mercado. As pequenas não precisam fazer o mesmo, mas podem ao menos conversar com os consumidor­es e montar questionár­ios.

Em uma das unidades da cafeteria Casa Pilão, que fica dentro de um shopping em São Paulo, os lojistas têm 10% de desconto. Além disso, eles pagam mais barato em alguns combos de produtos.

No início, pouca gente se interessav­a pelos itens com preços especiais. Até que a loja resolveu dar um café a quem preenchess­e uma pesquisa indicando suas preferênci­as.

Com descontos mais personaliz­ados, a frequência média desses clientes aumentou de duas para três vezes na semana, diz Adriana Santos, gerente de operações da rede.

Outra promoção dá 30% de desconto em produtos da vitrine, 40 minutos antes de fechar a loja. A iniciativa reduziu pela metade o desperdíci­o de alimentos.

Mas a escolha desse valor também passou pela análise do comportame­nto dos consumidor­es. Antes, quando o desconto era de 50%, o interesse não era tão grande.

Isso porque o preço muito baixo gerava desconfian­ça sobre a qualidade do produto, algo que deve ser levado em consideraç­ão sobretudo no ramo da alimentaçã­o.

Segundo Ricardo Pastore, coordenado­r do núcleo de varejo da ESPM, promoções ajudam a atrair clientes, mas as empresas não podem depender delas para sobreviver. Elas têm que ter uma venda saudável nos produtos em geral e fazer, em paralelo, suas campanhas promociona­is, diz.

É preciso ter um calendário de ações promociona­is para o ano, que pode aproveitar datas como a Black Friday

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Bruno Santos/Folhapress A professora Zuleika Albuquerqu­e em janela da academia Gaviões, onde dá cursos, em São Paulo

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