Folha de S.Paulo

Gestão de estoque substitui ‘olhômetro’ e ajuda a enfrentar oscilação de vendas

- Dante Ferrasoli

Um bom gerenciame­nto do estoque é essencial para a saúde das empresas. Não pode, literalmen­te, sobrar ou faltar mercadoria.

“Dimensiona­r o volume correto é essencial para a sobrevivên­cia. Não pode haver excesso, a ponto de imobilizar muito capital de giro, nem escassez, a ponto de não ser possível atender os clientes num dia de mais movimento”, afir- ma Ivan Hussani, diretor técnico do Sebrae-SP.

Um dos maiores erros cometidos pelos empreended­ores é tratar todos seus produtos como iguais. Ou seja, estocar uma quantidade semelhante de todas as mercadoria­s que estão à venda.

“É preciso saber as especifici­dades de cada coisa, conhecer a demanda de cada produto. Não posso usar o mesmo padrão para todos os itens se eu quiser manter um nível de serviço alto para os clientes”, diz André Duarte, professor de operações do Insper.

O empresário Erick Lima, 30, tem visto de perto as dificuldad­es no gerenciame­nto. Sua empresa, a eMove, que vende, online e fisicament­e, patinetes, bicicletas e monociclos elétricos, importa os produtos e suas peças de reposição da China e armazena tudo num depósito de self storage.

A companhia traz ao Brasil cerca de 400 itens por mês, sem contar as peças, e, para isso, freta um contêiner.

“A parte mais difícil é a gestão das peças, porque a gente não sabe ao certo o que vai acontecer”, diz Lima, referindo-se às avarias específica­s que os produtos de diferentes clientes podem apresentar.

Para mitigar os riscos, a empresa separa alguns dos produtos inteiros para que, numa emergência, determinad­a peça seja retirada para substituir a defeituosa de outra unidade.

A eMove, fundada no fim de 2017, deve crescer entre 200% e 300% neste ano em relação a seus números de 2018, quando faturou perto de R$ 6 milhões.

O alto cresciment­o também dificulta a gestão do estoque. “Já errei para menos [na composição do estoque] uma vez que vendemos mais do que imaginávam­os, mas é uma coisa que vou aprendendo e melhorando na prática”, diz Lima.

A gestão das mercadoria­s armazenada­s torna-se ainda mais importante quando se lida com produtos perecíveis, que não podem ficar guardados por muito tempo.

Nesse sentido, a Flores Online, ecommerce de flores, trabalha com o mínimo possível de produtos em estoque.

“Nosso centro de distribuiç­ão fica pertinho do Ceagesp, e as compras são feitas quase diariament­e”, diz o diretor-executivo, Luiz Torres, 37.

A companhia mantém re- servas para apenas um ou dois dias de operação, guardadas dentro de uma câmara fria, a 10ºC, e conta com uma rede de floricultu­ras parceiras pelo país para otimizar as entregas fora da Grande São Paulo.

“Fazemos as parcerias e usamos o estoque e o sistema de entregas dessas floricultu­ras. Recebemos os pedidos e repassamos a elas”, afirma.

Para ocasiões com picos de venda nesse mercado, como Dia dos Namorados ou Dia das Mães, a empresa faz um estudo e se baseia nos números do ano anterior mais a expectativ­a de cresciment­o do ano para compor o estoque e se prevenir.

“Quem trabalha com perecíveis tem uma dificuldad­e a

mais. Além de todos os cuidados sanitários, a logística de distribuiç­ão tem de ser mais eficiente, porque o produto estraga rápido”, afirma Duarte, do Insper.

A Flores Online existe desde 1999, faturou R$ 27,5 milhões em 2018 e espera aumentar esse número em 30% neste ano.

Outra aliada para a gestão de mercadoria­s estocadas é a tecnologia.

“Um sistema de gestão, por mais simples que possa ser, nem que seja manual, é fundamenta­l. Muita gente fica só no ‘olhômetro’ e aí acontecem os problemas”, afirma Hussini, do Sebrae-SP.

A Infracomme­rce, maior empresa da América Latina em negócios digitais, gere o estoque de cerca de 90 lojas —que vendem de relógios a produtos perecíveis.

Em seu centro de distribuiç­ão a companhia mantém uma média de 300 mil produtos armazenado­s, e precisa localizá-los rapidament­e quando há uma compra.

A companhia usa um software para auxiliar seus 180 funcionári­os envolvidos diretament­e no processo.

“O sistema manda guardar cada produto num lugar específico. Não podemos procurar entre 300 mil itens. Quando tem o pedido, o funcionári­o já sabe exatamente onde encontrar”, diz Luiz Pavão, diretor de estratégia­s da empresa.

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Bruno Santos/ Folhapress Erick Lima, 30, um dos sócios da eMove, em seu estoque na zona sul de SP

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