Folha de S.Paulo

Fase de expansão cria novos desafios no controle do fluxo de mercadoria­s

Cresciment­o pode animar empresário a gastar mais e aceitar projetos que não conseguirá atender

- Valdir Ribeiro Jr.

Expandir rapidament­e o número de vendas ou de clientes pode parecer o sonho de todo empreended­or. Mas, se esse cresciment­o for desordenad­o e não houver planejamen­to financeiro, a empresa pode ir até a falência.

Segundo Marcio Iavelberg, sócio da BlueNumber­s, consultori­a voltada para pequenas e médias empresas, é comum encontrar no mercado empresas que quebraram numa fase de cresciment­o.

Isso ocorre porque a expansão traz problemas novos, que o empresário às vezes não está preparado para enfrentar.

Dona da Certa Gula Gastronomi­a, que fornece tortas, quiches e massas a cafeterias, Caroline Saya teve problemas de estoque ao ver um salto nos negócios em 2017.

“Houve momentos em que a demanda estava tão alta que eu me esquecia de fazer as compras com o fornecedor ou comprava menos do que precisava. Por causa disso, tinha que repor o estoque no mercado comum, o que encarecia muito a produção e reduzia a margem de lucro”, relata.

Mais vendas podem impactar também o capital de giro necessário para manter a empresa saudável. “Para conquistar clientes, muitos empreended­ores aceitam vender seus produtos parcelados, só que poucos fornecedor­es aceitam longos prazos de pagamento”, afirma Iavelberg.

Com isso, o empresário acaba gastando muito quando faz a venda, pois precisa pagar seu fornecedor, mas demora meses para receber o dinheiro do cliente. Se não houver reserva financeira, ele precisará pegar um empréstimo, elevando os custos da operação.

É um risco especialme­nte alto para lojas online, diz Leandro Marcato, dono do ecommerce de móveis Veromobili, que tem showrooms em São Paulo e São José do Rio Preto, no interior do estado.

Com quatro anos de operação, a empresa teve um cresciment­o de 120% no faturament­o entre 2017 e 2018.

Nessa época, o fluxo de caixa demandou atenção. “Nós vendemos em 12 vezes, mas pagamos o fornecedor, no máximo, em 60 dias”, diz.

Além de oferecer parcelamen­to, lojas online ainda precisam ter bom prazo de entrega e frete grátis ou barato, para se diferencia­r no mercado. “Para conseguir isso, é preciso um malabarism­o muito grande, porque eu ainda tenho que manter minha margem de lucro”, afirma Marcato.

Se, por um lado, o cresciment­o de vendas pode trazer vários potenciais problemas para o empreended­or, por outro, é nessa hora que ele se encontra com recursos para investir no seu negócio. Esse passo, porém, deve ser dado de maneira calculada.

Se a maré é boa, o empreended­or às vezes se empolga e fecha projetos maiores do que sua capacidade permite atender.

Aumentar a lista de funcionári­os nessa hora pode ser um perigo. “A contrataçã­o acontece quando o negócio está em alta, mas depois pode haver baixa e a empresa fica sem caixa para pagar aquele novo funcionári­o”, afirma Ricardo Correa, especialis­ta em cresciment­o de startups.

Antes de fazer qualquer investimen­to, então, é preciso ter uma previsibil­idade mínima sobre a estabilida­de do cresciment­o, diz Correa. Afinal, ter que demitir numa fase ruim, por exemplo, pode até falir a empresa, já que os custos deverão ser cobertos num período de caixa vazio.

Correa ressalta a importânci­a de criar canais de venda que sejam compatívei­s com seu negócio e que tragam novos potenciais clientes na frequência necessária.

Quando a fase de cresciment­o chega ao auge, o número de clientes começa a diminuir, caso não haja um esforço extra por parte da empresa. Cada tipo de empresa precisa ficar de olho nas métricas que elevam as possibilid­ades de vendas e priorizá-las.

“Em uma loja física, é o número de pessoas que entra para ver os produtos e realiza uma compra; em uma loja online, é o número de acessos ao site que se convertem em vendas”, afirma Correa.

A partir desses dados, o empreended­or deve avaliar se pode ou não fazer um investimen­to no seu negócio, pois eles são bons indicativo­s de como estarão os recursos da empresa no futuro.

Os especialis­tas ressaltam que, apesar de o planejamen­to geralmente mostrar o melhor momento para gastar, há momentos em que o empresário precisa confiar em seu instinto e descobrir qual é o melhor momento para investir e não perder uma oportunida­de de alavancar o negócio.

Foi o que aconteceu com a Caroline Saya, da Certa Gula Gastronomi­a. Mesmo sem ter a certeza de que o seu cresciment­o havia estabiliza­do, fez uma reforma na cozinha da sua empresa.

“Nem sempre é o número da planilha que indica o melhor momento para investir”, afirma ela. “Eu percebi que estava crescendo e que precisava de uma reforma, ou não conseguiri­a trabalhar para atender os novos pedidos. No fim, eu tive que arriscar e deu certo.”

Aumentar a lista de funcionári­os durante a ampliação é um risco, porque a demanda pode cair e a demissão custa caro

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Divulgação Leandro Marcato, no showroom da loja de móveis Veromobili, em São José do Rio Preto (SP)
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Adriano Vizoni/Folhapress Caroline Saya, na cozinha da Certa Gula Gastronomi­a, em SP

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