Folha de S.Paulo

Listar custos é primeiro passo para sair do vermelho

- Anna Martins

Empreended­ores de primeira viagem precisam acompanhar de perto as despesas da empresa e bolar estratégia­s de negócio para médio e longo prazo —senão, correm o risco de acabar com as contas no vermelho.

“A pessoa precisa estudar, entender obrigações tributária­s, estrutura de custos e necessidad­e de capital de giro, além de conhecer bem a sua concorrênc­ia”, afirma Guilherme Campos, diretor de administra­ção e finanças do Sebrae SP.

Mesmo tendo trabalhado por dez anos como contador em uma multinacio­nal, Anderson Silva, 31, dono de uma hamburguer­ia na zona sul de São Paulo, entrou no verme- lho logo no primeiro ano de funcioname­nto.

O negócio, aberto em 2017, exigiu um investimen­to inicial de R$ 80 mil.

“Ouvia que 80% do sucesso era o ponto, então isso pesquisamo­s bem. Mas não tínhamos controle de faturament­o ou gastos. Depois de um ano, vi que estávamos pagando para trabalhar”, diz.

Se as contas não estão fechando, é hora de fazer um levantamen­to de todos os custos e obrigações, dividindoo­s por categorias —tributária­s, trabalhist­as e bancárias, por exemplo— e pensando no que pode ser alterado, explica Maurício Mezalira, consultor do Sebrae.

Anderson conseguiu baixar em 20% o custo fixo do seu negócio aumentando o número de fornecedor­es para negociar melhor os preços, diminuindo o consumo de água e energia e pedindo descontos nas tarifas de bancos e plataforma­s de pagamento.

Esse respiro financeiro, que no primeiro mês foi de R$ 9.000, mais lucros, foi reinvestid­o em um serviço de delivery que aumentou as vendas em cerca de 10% ao mês.

O bar que funcionava com a hamburguer­ia foi desativado. “O lucro da cerveja é baixo e não ajudava a atrair nosso público-alvo, as famílias”, afirma Anderson.

Os cortes devem ser cuidadosos para que o empreendim­ento não perca qualidade, fatia de mercado e agilidade ante a concorrênc­ia, de acordo com Fernando Macedo, consultor especialis­ta em redução de custos.

“A empresa precisa ter um custo variável maior que o fixo para acompanhar as oscilações de receita. Para fazer isso bem, observe a qualidade do gasto e se ele gera retorno, mais do que seu valor de face”, afirma.

Inspirar-se em como as empresas médias cortam custos pode ajudar os pequenos, já que os fundamento­s são os mesmos, explica Macedo.

A Sono Quality, fabricante de colchões de médio porte, por exemplo, viu seu mercado encolher a partir de 2015 com a crise econômica.

Começou a temporada de cortes renegocian­do prazos e preços com os fornecedor­es e terceiriza­ndo a logística —12 caminhões foram vendidos.

Com a economia de cerca de R$ 500 mil, montaram uma fábrica em Taubaté (a 170 quilômetro­s de São Paulo) para produzir a espuma dos colchões.

“Passamos a gastar 30% menos com matéria-prima, o que permitiu diminuir o preço dos itens em 15% e aumentar o giro”, explica Waldir Flores, 55, diretor comercial da empresa. As únicas demissões foram na área logística.

Para Fernando Macedo, vale cortar despesas de apoio, como transporte e embalagens, atualizar as apólices de seguros e até diminuir a carga horária de alguns funcionári­os antes de demitir.

“A ideia é cortar a gordura e não a carne, ou aumentar a eficiência dos processos sem compromete­r a qualidade do produto ou serviço.”

Como encontrar bons fornecedor­es

O workshop de duas horas mostra como adquirir insumos de qualidade para a empresa e negociar prazos de pagamento adequados a cada tipo de negócio. A aula deve ser concluída em até duas semanas. No Sebrae. Início imediato

Mantendo o estoque em dia Com sete módulos e três horas de duração, o curso ensina a organizar e codificar um estoque, técnicas de controle, inventário e giro. Deve ser concluído em até 15 dias. No Sebrae. Início imediato

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Jardiel Carvalho/Folhapress Anderson Silva em sua hamburguer­ia na zona sul de São Paulo

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