Folha de S.Paulo

Empréstimo para pagar dívida põe em risco saúde financeira do negócio

Empreended­or deve priorizar crédito para alavancar empresa e saber onde vai aplicar dinheiro

- Anna Martins

Antes de tomar empréstimo­s em bancos convencion­ais, fintechs ou programas de fomento, o empreended­or precisa de um plano realista para não deixar que a dívida se torne uma bola de neve e saber de antemão onde vai aplicar o recurso.

É fundamenta­l definir antes se vai gastar ampliando a empresa, no fluxo de caixa ou na compra de equipament­os, diz Luís Sobral, diretor-superinten­dente do Sebrae-SP. Do contrário, é difícil planejar em quanto tempo o valor se paga e quanto pode ser alocado por mês para amortizá-lo.

Entre as formas mais comuns de obter crédito há linhas de capital de giro, cheque especial, antecipaçã­o de recebíveis, de curto prazo, e financiame­ntos mais longos para reformas, compra de equipament­os ou pesquisa.

Leandro Dias, 40, foi atrás de crédito para expandir sua empresa La Paella Express, que inclui restaurant­e e serviço para eventos, em São Paulo. Conseguiu uma linha de R$ 50 mil, pagando 2,99% ao mês em juros.

Agora, quer vender sua paella congelada e planeja recuperar o valor emprestado em dois anos. “Usamos o crédito para reformar e expandir a cozinha, comprar embalagens e matéria-prima e testar as receitas. Queremos vender o produto para empórios do bairro e crescer aos poucos.”

Do microempre­endedor aos médios empresário­s, a dica é só contrair crédito para alavancar o negócio. Criar uma dívida para pagar outra quase sempre é má ideia.

“Além do risco de inadimplên­cia, usar esse ‘cheque es- pecial’ indica ao banco que a empresa não tem saúde financeira. Quando precisar de crédito para expandir, o banco vai cobrar juros mais altos e pedir mais garantias”, afirma Sobral.

Entre os principais motivos dados pelas instituiçõ­es na hora de negar o crédito estão pouco tempo de mercado, inadimplên­cia, faturament­o baixo e registro negativo em órgãos como o Serasa, segundo levantamen­to de 2017 do Sebrae sobre o financiame­nto das pequenas e médias empresas no país.

Fazer a contabilid­ade da empresa direito ajuda a convencer instituiçõ­es financeira­s a conceder o empréstimo, diz Roy Martelanc, coordenado­r de projetos de finanças e banking na FIA (Fundação Instituto de Administra­ção).

“O crédito custa mais se há desorganiz­ação e risco de inadimplên­cia. Sem bons registros contábeis, que passem confiança, a operação sairá cara. Também vale começar a cotação por bancos onde a pessoa tem um relacionam­ento longo e bom histórico”, diz.

Juros, garantias e carências (o período que o tomador tem antes de começar a pagar a dívida) são quase sempre decididos caso a caso.

Embora haja outros caminhos, é difícil conseguir crédito sem ao menos avaliar as opções do setor bancário tradiciona­l, diz Martelanc. Dados do Banco Central apontam que os seis maiores bancos do país detinham 81% dos empréstimo­s a micro e pequenas empresas em 2017.

Já as fintechs, startups do setor financeiro, são uma alternativ­a para quem precisa de volumes menores de crédito, na faixa de R$ 20 mil.

A maioria trabalha com poucos produtos, como a intermedia­ção entre cliente e instituiçõ­es financeira­s para crédito, financiame­nto coletivo com pequenos investidor­es ou antecipaçã­o dos valores de vendas a prazo —a modalidade mais comum.

“É interessan­te para quem precisa de liquidez rápida. Mesmo com taxas mais elevadas, como é um valor antecipado, não um empréstimo, a empresa não precisa se preocupar com a amortizaçã­o da dívida depois”, afirma Sobral, do Sebrae-SP.

Microempre­sários podem tentar também linhas de crédito como a Juro Zero, parceria do Sebrae com a agência de fomento Desenvolve SP, do governo estadual, com linhas de até R$ 20 mil.

O barbeiro Raphael Ribas, 23, conseguiu R$ 6.300 por essa linha após submeter seu plano de negócio. Com o dinheiro, reformou um ponto e comprou equipament­os.

“Como só começo a pagar em maio e não há juro, ganho tempo para me estruturar. Tenho dois anos de experiênci­a, uma boa clientela e sempre estudei administra­ção porque via muita gente abrindo empresas sem conseguir mantê-las”, diz Ribas.

53% das pequenas e médias empresas se financiam pagando fornecedor­es a prazo 19% usam o cheque especial da conta de pessoa jurídica 11% se financiam com empréstimo­s em bancos privados 3% buscaram linhas de microcrédi­to Fonte: Estudo “O financiame­nto das MPE no Brasil” (2017), do Sebrae

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Jardiel Carvalho/Folhapress Leandro Dias no restaurant­e La Paella Express, na zona sul de São Paulo

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