Cursos ensinam quem empreende sozinho a otimizar seus resultados
Mais da metade (53%) das empresas do país operam sem sócios ou empregados, aponta relatório deste mês do Global Entrepreneurship Monitor. O estudo mostra também que a necessidade é a principal motivadora do empreendedorismo no Brasil.
Essa empreitada forçada e solitária tem tudo para dar errado, principalmente se a pessoa não tiver capacitação na área financeira.
“Muita gente está empreendendo para suprir as necessidades de casa. Só que são poucos os que contam com o preparo necessário para começar um negócio”, diz João Carlos Natal, consultor do Sebrae-SP.
Cursos presenciais ou online ajudam o empreendedor novato a organizar suas finanças e a otimizar seu planejamento de produção.
Carlos Gomes, dono da empresa de gelo Gelos Pinguim, criada em 2003 na zona sul de São Paulo, foi atrás de capacitação quando se viu em uma situação complicada.
“Em 2011, perdi um cliente que comprava quase 45% da minha produção”, conta. “Tive que fazer empréstimos em bancos para manter a empresa, caí no cheque especial. Foi quando percebi que precisava de ajuda para reestruturar minhas finanças.”
Gomes matriculou-se em uma série de cursos no Sebrae para aprender a detectar erros no fluxo de caixa, reestruturar o planejamento financeiro da empresa e aprimorar a busca por novos clientes.
“Eu tinha o hábito de pagar muita coisa à vista para os fornecedores, enquanto meus clientes pagavam com prazo alongado. Meu fluxo de caixa estava sempre apertado. Financiava o cliente, mas o fornecedor não me dava moleza”, diz. Em sala de aula, aprendeu a negociar com o fornecedor.
Também encontrou, após os estudos, problemas na forma com que estipulava os preços dos seus produtos: calculava o valor em cima dos valores cobrados pelos concorrentes, sem considerar se eles tinham os mesmo custos de operação que ele.
“Eu tomava como base os concorrentes pequenos, que vendiam com preços mais baixos, mas não tinham a mesma estrutura que eu. Sem contar que não existia garantia de que o preço que eles usavam estava correto até mesmo para o negócio deles”, diz.
Gomes passou a calcular sua própria margem e conseguiu melhorar os resultados da empresa.
Um bom planejamento financeiro é essencial em qualquer negócio, mas é especialmente importante em empresas pequenas, quando o dono utiliza seu próprio dinheiro, afirma Luis Felipe Franco, gerente de aceleração da Endeavor, entidade de apoio a empreendedores.
O capital de giro —dinheiro disponível para manter o negócio funcionando— é um dos aspectos que merecem mais atenção.
“Se ele é do próprio empreendedor, torna-se o capital mais caro que existe, porque
Um bom planejamento financeiro é especialmente importante em empresas pequenas, quando a pessoa utiliza seu próprio dinheiro
é um dinheiro retirado da família para tentar um negócio. É um dinheiro que não tem volta e, se a ideia não der certo, pode comprometer a renda familiar”, diz Luis Felipe.
Natal, do Sebrae, afirma que o pequeno empresário não pode confundir o caixa do negócio com seu dinheiro pessoal.
“Essa é a regra número um: separar a pessoa física da pessoa jurídica. Se o orçamento doméstico não está separado, não há como ter um controle efetivo e o empreendedor não vai conseguir saber quanto está entrando e saindo do seu negócio”, explica.
Com a capacitação, Gomes conseguiu expandir sua rede de compradores. Atualmente, a Gelos Pinguim conta com uma carteira de mais de mil clientes ativos, como bares, restaurantes, peixarias, churrascarias, casas noturnas e indústrias, que compram da empresa, pelo menos, uma vez a cada dez dias.
Os resultados, lembra ele, não vêm do dia para a noite. Gomes conta que levou um tempo para deixar sua empresa saudável. Hoje recomenda a capacitação para outros empresários. “Eu teria economizado tempo e dinheiro se tivesse procurado ajuda antes.”