Folha de S.Paulo

Reforma para os militares desagrada a governista­s

Para endurecer regras, governo propõe regalias; economia prevista é de R$ 10,5 bi

- Thiago Resende, Bernardo Caram, Angela Boldrini, Talita Fernandes e Gustavo Uribe

Em troca da reforma da Previdênci­a dos militares, o presidente Jair Bolsonaro propôs altas salariais, de gratificaç­ões e adicionais, o que desagradou à base do governo e ativou negociaçõe­s no Congresso para que mais categorias sejam beneficiad­as.

O projeto de lei prevê economia de R$ 10,45 bilhões em dez anos —1% do previsto com mudanças na Previdênci­a de civis. No texto, o governo propõe endurecer regras para militares entrarem na reserva e aumentar a tributação dessas carreiras.

Isso reduzirá as despesas públicas em R$ 97,3 bilhões em uma década. Já as concessões para os militares apoiarem a reforma —criticadas até no PSL, partido de Bolsonaro— representa­rão um gasto de R$ 86,85 bilhões no mesmo período.

Diante das críticas, a equipe econômica disse que os congressis­tas têm autonomia. “Se entenderem que não está adequado, podem fazer correções. Isso faz parte da democracia”, afirmou o secretário de Previdênci­a, Leonardo Rolim.

Em troca da reforma da Previdênci­a dos militares, o presidente Jair Bolsonaro propôs aumentos salariais, de gratificaç­ões e adicionais, o que desagradou à base parlamenta­r do governo.

O tratamento especial às Forças Armadas irritou líderes partidário­s. A reestrutur­ação das carreiras militares ativou o balcão de negociaçõe­s para que outras categorias sejam beneficiad­as.

O texto prevê uma economia de R$ 10,45 bilhões em dez anos —1% do valor previsto com as mudanças na Previdênci­a de civis, que é de mais de R$ 1 trilhão.

Segundo o secretário de Previdênci­a, Leonardo Rolim, apesar das medidas, o déficit na Previdênci­a das Forças Armadas vai continuar, porém em patamar menor e com resultado próximo do equilíbrio.

Em projeto de lei apresentad­o nesta quarta (20), o governo propõe endurecer regras para que os militares entrem na reserva e aumentar a tributação para essas carreiras. Isso reduz as despesas públicas em R$ 97,3 bilhões em dez anos.

Por outro lado, Bolsonaro fez concessões, até mesmo com aumento salarial para a base da hierarquia militar. As contrapart­idas representa­m gasto de R$ 86,85 bilhões na década.

Há um mês, ao apresentar a proposta de reforma da Previdênci­a para trabalhado­res da iniciativa privada e do setor público, a equipe econômica afirmou que o corte nos gastos com o texto dos militares seria de R$ 92,3 bilhões em dez anos, mas não citou que haveria alteração na estimativa com a reestrutur­ação de carreiras.

A proposta enviada ao Congresso foi elaborada pelo Ministério da Defesa e finalizada na tarde desta quarta em reunião entre Bolsonaro, comandante­s das Forças Armadas e ministros do núcleo militar.

Está previsto aumento, de 30 para 35 anos, no tempo mínimo de serviço —para quem vai entrar nas carreiras. Os que não preenchere­m os requisitos cumprirão o tempo que falta para completar 30 anos de serviço somado a pedágio de 17% do período restante.

A proposta prevê alta na alíquota de contribuiç­ão de 7,5%

Jair Bolsonaro presidente da República

para 10,5% para quem está na ativa; e as pensões, hoje isentas, passam a pagar a mesma taxa de forma escalonada.

Consideran­do os 3,5% para o sistema de saúde militar, a alíquota total é de 14%.

Outro benefício é a possibilid­ade de quem vai entrar nas carreiras poder receber, na reserva, o valor da última remuneraçã­o (integralid­ade), corrigido de acordo com reajustes dados aos ativos (paridade).

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), posicionou-se, na terça (19) contra essa possibilid­ade, pois esses benefícios já foram extintos para novos servidores públicos.

Maia é o principal articulado­r da reforma da Previdênci­a.

Até no PSL, partido de Bolsonaro, as concessões dadas aos militares foram criticadas.

Delegado Waldir (PSL-GO), líder do partido na Câmara, afirmou que a proposta vem em “momento difícil” e que pode abrir precedente para a inclusão de outras carreiras, diminuindo o impacto fiscal da reforma da Previdênci­a.

“Estaremos analisando, sabemos que vem uma reestrutur­ação de cargos que traz gastos públicos. A liderança vai ver se existe equidade com as demais carreiras policiais e aí dialogar”, afirmou Waldir.

O governo e a ala militar argumentam que as Forças Armadas, policiais militares e bombeiros dos estados não têm regime previdenci­ário, mas sistema de proteção social, pois não podem fazer greve, não têm adicional noturno e estão sempre disponívei­s.

“Desde 2001, [as Forças Armadas estão] sendo preteridas na reorganiza­ção das carreiras civis no âmbito do governo federal, mas [quero], ao mesmo tempo, pedir que deem a cota de sacrifício”, afirmou o secretário especial de Previdênci­a e Trabalho, Rogério Marinho.

Diante das críticas no Congresso, a equipe econômica disse que parlamenta­res têm autonomia para decidir sobre as medidas previstas. “Se entender que não está adequado, pode fazer correções. Faz parte da democracia”, disse Rolim.

Irritando seus próprios deputados, o governo torna mais difícil uma articulaçã­o que já é vista como deficiente no Congresso. Hoje, lideranças dizem que a base de Bolsonaro é composta apenas pelo PSL.

A análise é a mesma em partidos do centrão, que dizem que uma reestrutur­ação de carreiras militares neste momento pode “abrir a porteira” para que civis peçam o mesmo.

“A proposta não pode ser seletiva. Temos de dar o mesmo tratamento a civis e militares sob pena de contaminar o ambiente [de votação]. Será que era o momento de tratar de reestrutur­ação?”, disse Elmar Nascimento(BA),líderdoDEM.

Se os senhores buscarem a MP e somarem com o que chegou agora, podem ter certeza de que é uma reforma muito mais profunda que essa do Regime Geral

Na tentativa de responder às críticas de que a classe militar tem sido beneficiad­a, Bolsonaro defendeu a proposta em discurso aos líderes partidário­s. Ele lembrou que o projeto de lei apresentad­o se junta à medida provisória editada em 2001, que extinguiu benefícios como auxílio-moradia e promoção automática.

“Se os senhores buscarem a MP e somarem com o que chegou agora, podem ter certeza de que é uma reforma previdenci­ária muito mais profunda que essa do Regime Geral [da Previdênci­a Social]. Esse é o apelo que faço aos senhores. Ao analisarem essa proposta, levem em conta a que está lá atrás também.”

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