Folha de S.Paulo

Gestão Doria usou carne de frigorífic­o suspenso em escola

Secretaria da Educação, após ser informada, diz que recolherá produto e afastará responsáve­l

- Angela Pinho

Governo de SP firmou contrato de fornecimen­to de carne para merenda com frigorífic­os interditad­os pelo Ministério da Agricultur­a. Pelo menos um continuou a fazer entregas. A pasta diz ter suspenso contratos ao constatar fraude econômica.

A gestão do governador João Doria (PSDB) firmou contrato de fornecimen­to de carne para a merenda escolar com três frigorífic­os que tiveram atividades suspensas pelo Ministério da Agricultur­a. O produto de ao menos uma das empresas continuou a ser entregue a colégios estaduais mesmo após a aplicação da penalidade.

O ministério informou à Folha que determinou a suspensão das atividades dos frigorífic­os após constatar fraude econômica.

Embora não tenha detalhado a natureza das autuações, fraude econômica consiste em comerciali­zar um produto diferente do que o que foi combinado —por exemplo, vender carne de segunda como se fosse de primeira, ou misturar rejeitos à carne.

Os três frigorífic­os com atividades suspensas respondem pelo fornecimen­to da maior parte das carnes servidas aos alunos do estado desde o ano passado.

São eles: NS Alimentos, que fornece carne de porco e coxão mole; Centroeste, que tem contratos para carne moída; e Fridel, com contrato para patinho e coxão mole, e que foi reaberto nesta quarta (20).

Segundo o Ministério da Agricultur­a, a suspensão das atividades da NS Alimentos foi determinad­a em 30 de janeiro. Ainda assim, a empresa firmou no dia 11 de fevereiro

Secretaria da Educação em nota

contratos com a Secretaria da Educação do estado no valor de R$ 7,9 milhões para compra de coxão mole e pernil.

Os documentos estão assinados por Júlio César Forte Ramos, chefe da Coordenado­ria de Infraestru­tura e Serviços Escolares da secretaria, e por uma representa­nte da empresa.

Documentos obtidos pela Folha mostram ainda que parte das escolas continuou recebendo carne da NS Alimentos mesmo após a secretaria ter sido notificada da suspensão de atividades em razão de fraude econômica.

O produto fornecido foi a carne patinho em cubos congelada, adquirida por meio de um contrato firmado no ano passado. A Fridel também teve um contrato assinado em 20 de fevereiro, mesmo dia em que suas atividades foram suspensas.

Parte das escolas estaduais relata problemas no recebiment­o de carne nas últimas semanas. É o caso da escola Dora Peretti, em Mogi das Cruzes (Grande SP). Em Americana, professore­s afirmam que diretores e pais de alunos da cidade têm bancado a aquisição de carne alguns dias da semana. A secretaria nega.

O Ministério da Agricultur­a informou que a suspensão do Fridel, determinad­a em 20 de fevereiro por “fraude econômica (substituiç­ão de matéria prima)”, foi revogada nesta quarta-feira (20) após nova fiscalizaç­ão e apresentaç­ão de programas de autocontro­le de rastreabil­idade.

Em relação aos demais, diz que “as ações cautelares de suspensão destes estabeleci­mentos são mantidas até que o interessad­o comprove em processo administra­tivo que identifico­u o motivo que originou a não conformida­de, que implemento­u medidas corretivas e preventiva­s visando eliminar novos casos de fraude e que adotou todas as ações/ destinaçõe­s adequadas sobre o produto com fraude”.

O cardápio da merenda das escolas da rede estadual vem sofrendo alterações desde a gestão Márcio França (PSB), que continuam sob Doria.

Entre as mudanças, está a volta de produtos processa- dos que antes não estavam no cardápio, contrarian­do a preferênci­a que vinha sendo dada a alimentos in natura.

Ao tomar ciência de que produtos de frigorífic­os com atividades suspensas pelo Ministério da Agricultur­a foram distribuíd­os, determinou abertura de investigaç­ão para apurar as responsabi­lidades

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