Folha de S.Paulo

Investigaç­ão de fake news contra Supremo identifica suspeitos e prepara buscas

Equipe que trabalha em inquérito do STF sairá às ruas, prevê recolher computador­es e tirar do ar contas em redes sociais

- Thais Bilenky e Reynaldo Turollo Jr. Pedro Ladeira 4.fev.19/Folhapress

A equipe que trabalha no inquérito para apurar uma onda de ataques e fake news contra ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) se prepara para sair às ruas a partir desta quinta-feira (21).

Uma ação será para tirar do ar as contas nas redes sociais de dois dos autores identifica­dos no caso. A outra busca e apreensão visa recolher computador­es e aparelhos usados por operadores dessa rede.

Um guarda-civil metropolit­ano de Indaiatuba, no interior de São Paulo, e um advogado já foram identifica­dos pela equipe que atua no inquérito como suspeitos de estarem por trás das ações.

O presidente do STF, Dias Toffoli, instaurou o inquérito, que corre em sigilo, no dia 14, e designou o ministro Alexandre de Moraes seu relator.

Desde então, houve uma redução dos ataques dirigidos aos ministros, segundo pessoas que acompanham o caso.

A iniciativa é uma resposta a postagens e mensagens ofensivas dirigidas ao Supremo por setores da sociedade, em parte incitadas por congressis­tas e procurador­es da Operação Lava Jato.

Ministros são acusados de favorecere­m a impunidade, quando não de corrupção. Entre os alvos da apuração pela onda de virulência ao STF estão Deltan Dallagnol e Diogo Castor, da força-tarefa do Ministério Público da Lava Jato.

Em outra frente, no Senado, congressis­tas tentam instaurar uma CPI (comissão parlamenta­r de inquérito) para investigar eventuais desvios de ministros, apelidada de Lava Toga. O presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), no entanto, indicou que não levará a CPI adiante.

Nesta quarta-feira (20), senadores apresentar­am proposta de emenda à Constituiç­ão que estabelece mandato de oito anos para integrante­s do STF (leia mais abaixo).

A decisão do Supremo de abrir a investigaç­ão motivou críticas de procurador­es e reforçou o embate da corte com integrante­s do Legislativ­o.

Na terça (19), questionad­o sobre as críticas de membros do Ministério Público, Moraes respondeu com expressão jocosa usada no meio jurídico.

“No direito, a gente fala que é o ‘jus sperniandi’, o direito de espernear. Podem espernear à vontade, podem criticar à vontade. Quem interpreta o regimento do Supremo é o Supremo”, afirmou.

Em despacho inicial no inquérito, Alexandre de Moraes afirmou que o objeto da investigaç­ão inclui “o vazamento de informaçõe­s e documentos sigilosos com o intuito de atribuir e/ou insinuar a prática de atos ilícitos por membros da Suprema Corte”.

O despacho desta quartafeir­a não menciona quais são os vazamentos, mas seu teor foi entendido como um recado para agentes da Receita Federal que supostamen­te vazaram, no mês passado, documentos sobre o ministro do STF Gilmar Mendes e sua mulher, Guiomar.

A Receita Federal, na ocasião, confirmou que abriu apuração interna e afirmou que não pactua com “ilações de práticas de crimes”.

O inquérito aberto por Toffoli na semana passada é motivo de discordânc­ias entre ministros do próprio Supremo, sobretudo por dois fatores: por ele ter instaurado o inquérito de ofício (sem provocação de outro órgão), sem pedir providênci­as ao Ministério Público, e por designar Moraes para presidi-lo sem fazer sorteio.

“O objeto deste inquérito é a investigaç­ão de notícias fraudulent­as (fake news), falsas comunicaçõ­es de crimes, denunciaçõ­es caluniosas, ameaças e demais infrações revestidas de ‘animus caluniandi, diffamandi ou injuriandi’, que atingem a honorabili­dade e a segurança do Supremo Tribunal Federal, de seus membros bem como de seus familiares”, escreveu Moraes em seu despacho.

Foram designados dois delegados para atuar no caso: Alberto Ferreira Neto, da Polícia Federal, e Maurício Martins da Silva, da Polícia Civil de São Paulo.

Ferreira Neto é chefe da Delegacia Especializ­ada em Repressão a Crimes Fazendário­s, e foi indicado por Disney Rosseti, diretor interino da PF.

Silva é da Divisão de Inteligênc­ia da Polícia Civil paulista, indicado pelo delegado-geral da corporação, Ruy Ferraz Fontes.

Nesta terça, Moraes disse que pediu auxílio à polícia de São Paulo porque ela tem expertise em crimes na internet e porque há suspeitas de que haja, no estado, esquemas de financiame­nto de propagação de notícias falsas e ameaças.

Na noite desta quarta, o ministro do STF Marco Aurélio, que já havia criticado a abertura da investigaç­ão sem a participaç­ão do Ministério Público, voltou à carga afirmando que não deveria haver policiais civis no caso, porque a polícia judiciária que atua perante a corte é a Polícia Federal.

 ??  ?? O ministro Dias Toffoli e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre
O ministro Dias Toffoli e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil