Folha de S.Paulo

Superpreda­dores viram codinome de presidente e vice

- Reinaldo José Lopes

Para os seguranças da Presidênci­a da República, Bolsonaro ganhou o codinome “águia”, enquanto seu vice, general Hamilton Mourão, passou a ser chamado de “tubarão”.

O uso dos codinomes pela equipe de seguranças, geralmente para anunciar e organizar deslocamen­tos de Bolsonaro e Mourão, foi revelado pela coluna Painel no último dia 15.

Não há dúvida de que ambos são superpreda­dores de respeito, cada um deles um senhor quase absoluto de seu habitat. Será que algum leva vantagem?

Bem, como os seguranças da Presidênci­a não foram específico­s e existem muitas espécies de águias e tubarões por aí, faz sentido escolher os mais poderosos representa­ntes desses grupos nos ares e nos mares do Brasil.

Seguindo essa lógica, entre os caçadores alados do país não há quem supere a harpia —chamada Harpia harpyja—, uma predadora especialme­nte forjada pela evolução para aterroriza­r o alto das árvores nas florestas tropicais.

Também conhecida popularmen­te como gavião-real, a ave, na verdade, é uma das maiores águias do mundo em compriment­o e peso.

A envergadur­a de suas asas, chegando a 2,25 metros, é relativame­nte modesta porque ela precisa manobrar no espaço apertado da mata fechada.

Suas garras, por outro lado, são as mais avantajada­s entre todas as águias —em geral, na hora do ataque, elas se fecham em torno do coração da vítima, matando-a de modo quase instantâne­o.

Tais vítimas são, com muita frequência, preguiças e macacos, embora a literatura científica registre mais de cem espécies diferentes devoradas por elas. Os ataques a animais domésticos são raros —tal como Bolsonaro, parecem ser amigas do agronegóci­o.

Já o grande-tubarão-branco (Carcharodo­n carcharias) quase dispensa apresentaç­ões, depois de se tornar celebridad­e em filmes como “Tubarão” (1975), um dos primeiros grandes sucessos de Steven Spielberg.

Presente no litoral das regiões Sul e Sudeste do Brasil, o bicho praticamen­te não tem rivais no mar —apenas orcas são capazes de atacá-lo ocasionalm­ente. Também são os tubarões que mais se envolvem em ataques a seres humanos, embora a taxa absoluta desses incidentes seja muito baixa, com menos de 300 casos de mordidas não provocadas em pessoas confirmado­s até hoje.

Como esses números sugerem, os seres humanos estão longe de ser uma parte importante da dieta do grandetuba­rão-branco, que prefere se banquetear com mamíferos marinhos, em especial focas e outros pinípedes —grupo que inclui ainda leões-marinhos, por exemplo. Apreciam ainda a carne de diversas espécies de golfinhos.

Além da mordida poderosíss­ima, esse peixe cartilagin­oso conta com a capacidade de detectar os movimentos de suas surpresas por meio de um “sexto sentido” eletromagn­ético e consegue manter parte da sua temperatur­a corporal acima da que predomina na água ao seu redor.

Isso acaba funcionand­o como um meio-termo entre o “sangue quente” dos mamíferos e a condição dos animais ditos “de sangue frio”.

O bicho costuma erguer a cabeça acima do nível da água para espionar suas presas, coisa que poucos outros tubarões fazem.

Algumas coincidênc­ias aproximam as duas feras presidenci­ais. Em ambas as espécies, as fêmeas são maiores que os machos.

E ambas têm se tornado cada vez mais raras por causa da pressão das atividades humanas, como o desmatamen­to e a pesca predatória.

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Adams Carvalho

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