Folha de S.Paulo

Fortes chuvas causadas por ciclone dificultam resgates em Moçambique

Presidente declara luto de três dias e estado de emergência; há mais de 200 mortes confirmada­s

- Yasuyoshi Chiba/AFP

Equipes de resgate se apressam devido ao aumento do nível da água para salvar sobreviven­tes de inundações na cidade portuária de Beira, em Moçambique, depois que um forte ciclone matou centenas e deixou um rastro de destruição no sudeste da África na última semana.

Nesta quarta (20), havia milhares de pessoas presas em telhados de casas e árvores. Quem está ilhado não tem acesso a comida nem a água potável, e as ruas alagadas tornam extremamen­te difícil a chegada de funcionári­os do resgate e de suprimento­s.

“Nas árvores, as pessoas têm de lidar com cobras, insetos, animais”, disse Ian Scher, presidente da organizaçã­o sulafrican­a Rescue SA, que participa das operações de socorro em Moçambique.

O ciclone Idai atacou Beira com ventos de até 177 km/h na última quinta-feira (14), seguindo depois para o Zimbábue e o Maláui. Prédios foram derrubados, colocando em risco a vida de milhões de pessoas que vivem na região.

“Temos milhares de pessoas que, há mais de três dias, estão presas nos telhados e nas árvores à espera de socorro” disse Caroline Haga, funcionári­a da Federação Internacio­nal da Cruz Vermelha.

As áreas mais atingidas ficam perto do rio Búzi, a oes- te de Beira, segundo Haga. Dois rios, incluindo o Búzi, transborda­ram, o que causou uma enxurrada em Moçambique, gerando uma “segunda emergência”.

Beira é a segunda maior cidade do país depois da capital, Maputo, da qual fica distante cerca de 1.200 km. Tem cerca de 530 mil habitantes, de acordo com o censo de 2017.

Os militares planejavam a distribuir alimentos na cidade, mas o seu helicópter­o não pôde decolar nesta manhã por causa do mau tempo.

As fortes chuvas que têm caído na região podem terminar gerando ondas de até oito metros de altura, de acordo com o presidente de Moçambique, Filipe Nyusi.

O mandatário declarou estado de emergência e decretou três dias de luto nacional a partir desta quarta-feira.

Equipes de resgate jogam de helicópter­os biscoitos de alta concentraç­ão energética, comprimido­s de purificaçã­o de água e outros suprimento­s para pessoas cercadas por nada além de água e lama marrom-avermelhad­a.

Na terça-feira (19), as equipes de resgate salvaram 167 pessoas perto de Beira com a ajuda de helicópter­os da Força Aérea da África do Sul.

As inundações também trouxeram a ameaça de aumento de doenças respiratór­ias, como pneumonia, e também daquelas transmitid­as pela água.

O presidente moçambican­o afirmou que há mais de 200 mortes confirmada­s mas acrescento­u que o número pode chegar a 300.

“Cerca de 350 mil pessoas estão em perigo”, disse Nyusi.

O número de pessoas que morreram na passagem do ciclone e nas inundações que o seguiram pode chegar a mil, afirmou o presidente.

No Zimbábue, o ministro July Moyo afirmou que ainda é necessário confirmar os números de mortos e que há pelo menos 217 desapareci­dos.

“O número total, nos disseram que poderia ser 100, alguns dizem que podem ser 300. Mas não podemos confirmar esta situação”, disse.

Em Moçambique, uma zona de 100 quilômetro­s de extensão está totalmente inundada, segundo o ministro do Meio Ambiente, Celson Correia.

Além disso, a capacidade de algumas represas está se aproximand­o de seu nível máximo, informaram várias ONGs.

O presidente Nyusi pediu para aqueles que vivem perto de rios na região que “deixem a área para salvar suas vidas”, porque as autoridade­s poderiam não ter outra escolha senão abrir as barragens, apesar de as terras já estarem inundadas.

A União Europeia anunciou na terça uma ajuda inicial de 3,5 milhões de euros (R$ 15 milhões) para os três países atingidos.

Os Estados Unidos enviaram US$ 700 mil (R$ 2,6 milhões) e uma equipe de especialis­tas em desastres.

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Pessoas saqueiam armazém alagado em Beira que guarda sacos de arroz da ajuda humanitári­a chinesa

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