Folha de S.Paulo

Covas quer conceder parque novo por R$ 1,1 milhão

- Thiago Amâncio Gabriel Cabral/Folhapress

A gestão Bruno Covas (PSDB) pode conceder à iniciativa privada durante 35 anos por R$ 1,1 milhão um dos parques mais novos da cidade, que, aberto à população há menos de três anos, envolveu R$ 153 milhões em sua criação.

É o parque municipal Chácara do Jockey, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo —o edital já foi lançado e a prefeitura vai revelar o nome do vencedor no próximo dia 26.

Do modo como foi feito, o processo gerou reação de moradores da região. O Ministério Público entrou com uma ação civil pública abordando falhas na concessão.

O parque tem 143 mil m² — mais que os parques da Aclimação e Buenos Aires somados— e foi criado após três décadas de pressão da vizinhança, que via a área verde como fundamenta­l para escoamento das constantes inundações do córrego Pirajussar­a.

A prefeitura se apropriou do terreno em 2014, após o Jockey Clube, antigo dono, acumular R$ 133 milhões em dívidas de IPTU. Após investimen­to de R$ 20 milhões, o parque abriu as portas em maio de 2016, com uma das maiores pistas de skate do país e um polo cultural com oficinas e produção artística, além da área verde.

Quando João Doria (PSDB) assumiu a prefeitura, em 2017, anunciou a concessão de todos os parques da cidade, entre eles o da Chácara do Jockey.

Em 2018, a prefeitura anunciou que o valor mínimo de outorga seria R$ 4,8 milhões pela concessão em 35 anos. Quando o edital foi publicado, a administra­ção baixou o lance mínimo para R$ 1,1 milhão.

Há uma série de intervençõ­es obrigatóri­as orçadas pela prefeitura em R$ 12,5 milhões e que devem ser feitas em até seis anos, como reformas e investimen­to em caminhos, parquinho e mobiliário urbano.

A justificat­iva é que os benefícios financeiro­s para a cidade chegam a R$ 102 milhões, consideran­do ainda R$ 12 milhões de impostos e uma economia de R$ 77 milhões com manutenção nesses 35 anos.

O plano de negócios elaborado pela gestão Covas prevê que o vencedor tenha uma receita bruta de R$ 14 milhões por ano com o parque. A principal fonte de receita seria a venda de alimentos e bebidas, estimada em R$ 6,8 milhões anuais. Também se prevê até sete eventos mensais, como shows, que, segundo o cálculo municipal, podem gerar receita de R$ 1,5 milhão.

Segundo o edital, o vencedor da licitação terá lucro líquido já no primeiro ano, de R$ 380,7 mil em 2019, e que passará de R$ 1 milhão a partir de 2026 —em valores de hoje.

A vizinhança reagiu. “A gente nunca se colocou contra a concessão, mas à forma que ela está sendo feita”, resume Francisco Eduardo Bodião, do Movimento Parque Chácara do Jockey, criado em 2000.

“As duas últimas viradas culturais foram uma tragédia. Vomantives­se PARQUE MUNICIPAL CHÁCARA DO JOCKEY Área 143 mil m²

Inauguraçã­o maio de 2016

Prazo de concessão 35 anos

Valor mínimo R$ 1,1 milhão

cê encontra a 2 km gambás atropelado­s, ninho de pássaro que caiu de árvore.”

O ponto chave, diz, é a falta de um plano diretor que estabeleça os usos permitidos. Ele reclama da transforma­ção do polo cultural em local de exploração comercial e do

número de shows previstos.

No começo do mês, o Caex, órgão técnico do Ministério Público, emitiu um parecer em que se posiciona contra pontos do edital, concorda com a exigência de um plano diretor e diz que a melhor saída seria que a prefeitura a gestão junto à concession­ária.

A Promotoria chama de “incompatív­el com os usos previstos para uma área verde, parque público e zona especial de proteção ambiental” o plano arquitetôn­ico da prefeitura para o parque.

O promotor de Justiça do Meio Ambiente Carlos Henrique Prestes Camargo acompanha o processo de concessão e diz que vai buscar um acordo pacífico com a prefeitura, parecido com o desfecho dado à concessão do Ibirapuera —em que a desestatiz­ação foi suspensa por seis meses até a elaboração de um plano diretor. Ele ajuizou uma ação civil pública contra a concessão.

A prefeitura diz que o objetivo da concessão é “intensific­ar e diversific­ar os usos do parque, oferecer melhor qualidade na prestação de serviços aos usuários e, ainda, desonerar o cidadão paulistano”.

“O futuro concession­ário [...] assumirá a responsabi­lidade integral pela administra­ção do equipament­o, incluindo o manejo de áreas verdes, o cuidado com a fauna e flora, a limpeza das áreas e a vigilância.”

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Parque Municipal Chácara do Jockey, aberto ao público há menos de três anos, será concedido por R$ 1,1 milhão por 35 anos
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