Folha de S.Paulo

PF suspeita que ex-deputado do RJ mandou matar Marielle

Uma das linhas de investigaç­ão sobre o crime leva a Domingos Brazão (ex-MDB)

- Flávio Costa e Sérgio Ramalho Cris Faga - 14.mar.19/Folhapress UOL

Trecho do inquérito da Polícia Federal que investiga a obstrução da investigaç­ão sobre a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) cita o ex-deputado estadual Domingos Brazão (ex-MDB) entre os suspeitos de ser um dos possíveis mandantes do crime.

Duas fontes ligadas ao caso confirmara­m ao UOL que essa é uma das linhas de apuração que constam no inquérito da Delegacia de Homicídios da Capital.

A PF investiga o trabalho da Polícia Civil após pedido da procurador­a-geral da República, Raquel Dodge, ao surgirem suspeitas de que haveria ações para desviar o foco das investigaç­ões.

Até o presente momento pesava sobre Brazão apenas a suspeita de plantar uma testemunha para incriminar o vereador Marcello Siciliano (PHS) —adversário pela hegemonia eleitoral em áreas da zona oeste do Rio dominadas por milícias.

Ex-parlamenta­r e conselheir­o afastado do TCE-RJ (Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro), Brazão foi alvo de um mandado de busca e apreensão cumprido por agentes da PF no último dia 21 de fevereiro.

Em junho do ano passado, ele chegou a prestar depoimento à DH, no qual negou qualquer relação com o caso.

O advogado Ubiratan Guedes reiterou que “seu cliente nega qualquer envolvimen­to nas mortes de Marielle e Anderson”. De acordo com o defensor, Brazão tem todo o interesse no esclarecim­ento do crime e colocou à disposição da Justiça seus sigilos bancários, fiscal e telefônico.

Guedes afirma que o ex-deputado não conhece nem o delegado federal nem o exPM que incriminou Siciliano.

Procurada para comentar a suspeita sobre Brazão, a Polícia Civil do Rio afirmou que “a investigaç­ão está sob sigilo”.

Durante sua trajetória política pelo MDB, Brazão teve problemas com a Justiça. A situação se complicou em 29 de março de 2017, quando quatro conselheir­os do TCERJ e Brazão foram presos durante a deflagraçã­o da Operação Quinto do Ouro.

Eles são acusados de recebiment­o de propinas de empresário­s para não fiscalizar­em obras e uso de verbas públicas do governo do Rio de Janeiro —o processo corre no STJ (Superior Tribunal de Justiça). Solto posteriorm­ente, o grupo está afastado do tribunal desde então.

Dois anos antes, Brazão havia sido escolhido pela Alerj (Assembleia Legislativ­a do Rio de Janeiro) para ocupar uma vaga do tribunal.

Ao tomar posse do cargo, por exigência da lei, ele deixou o MDB. A indicação foi apadrinhad­a pelo então presidente da Casa, Jorge Picciani (MDB). O único partido a se posicionar contra foi o PSOL, partido de Marielle.

O então deputado teve também o nome citado na CPI das Milícias, realizada em 2008, sob a presidênci­a de Marcelo Freixo (PSOL-RJ), de quem Marielle foi assessora.

Em junho passado, Freixo participou de uma reunião, a pedido de dois delegados da Polícia Civil do Rio, com integrante­s do Ministério Público Federal para tratar de uma possível conexão de deputados do MDB com a morte de Marielle. O encontro foi revelado pela revista Veja.

No último dia 12, a Polícia Civil do Rio prendeu dois denunciado­s sob acusação de terem participad­o do assassinat­o da vereadora e de seu motorista. Apontado como o responsáve­l pelos disparos, o policial militar reformado Ronnie Lessa foi filiado ao MDB entre os anos de 1999 e 2010.

Por causa do processo da Quinta de Ouro que tramita no STJ, Domingos Brazão está impedido de sair do país. Em janeiro, ele chegou a pedir autorizaçã­o para passar férias nos Estados Unidos, mas o pedido foi negado.

Caso tivesse obtido autorizaçã­o, Brazão viajaria no dia 20 de fevereiro, na véspera da operação da PF que executou mandados de busca e apreensão em sua casa. Ele já tinha comprado a passagem.

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Ato em homenagem a Marielle Franco em São Paulo

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