Folha de S.Paulo

Por política e amizade, clubes pagam viagens de conselheir­os com atletas

São Paulo, Corinthian­s e Palmeiras tentam agradar membros do conselho; exceção é o Santos

- Alex Sabino e Diego Garcia

Uma das armas políticas mais comuns nos grandes clubes é o convite para conselheir­os viajarem com a equipe para jogos fora de casa. A estratégia foi usada pelo São Paulo na partida contra o Talleres, em Córdoba, na Argentina, pela segunda fase da Copa Libertador­es, em fevereiro deste ano.

O presidente Carlos Augusto de Barros e Silva, o Leco, sancionou o uso de 25 lugares vagos no avião para levar conselheir­os, alguns de oposição, como Douglas Schwartzma­nn e o ex-mandatário José Eduardo Mesquita Pimenta. Entre adversário­s políticos do cartola, o episódio ficou conhecido como “AeroLeco”, com a hospedagem incluída.

José Francisco Manssur, que tenta montar uma comissão com conselheir­os de oposição para participar do departamen­to de futebol (ainda sem sucesso), também foi convidado para a viagem.

O voo aconteceu em momento que Leco estava isolado politicame­nte e foi dada a explicação de que era preciso apoiar o time, então comandado por André Jardine. O São Paulo perdeu na Argentina e depois foi eliminado da Libertador­es no Morumbi.

Mas o São Paulo não é o único a fazer convites para associados viajarem com a delegação para jogos fora de casa. Segundo aliados do presidente Andrés Sanchez, é comum cinco ou seis conselheir­os serem chamados para acompanhar­em a delegação do Corinthian­s em partidas longe de Itaquera. Mas a Folha apurou que os convites não têm necessaria­mente caráter político. É questão de proximidad­e com o mandatário.

Em épocas eleitorais, como no final de 2018 e início do ano passado, o clube fez mais uso político de viagens e, além disso, convidava associados aptos a votar no pleito (que aconteceu em fevereiro de 2019) para assistirem a jogos em camarotes que estavam vagos no Itaquerão. Depois esses torcedores recebiam um “diploma de corintiano” assinado pelo então presidente Roberto de Andrade.

Andrade e Sanchez, ainda que tenham problemas de relacionam­ento, fazem parte do mesmo grupo político, o Renovação e Transparên­cia, que governa o Corinthian­s desde 2007.

O Palmeiras também usava o expediente de convidar conselheir­os, até que apareceu o patrocínio da Crefisa e Leila Pereira, dona da empresa, ganhou força política no clube. Ela faz os convites para as partidas fora de São Paulo. Quase sempre, o chamamento é para embarcarem em seu jato particular, com alimentaçã­o e hospedagem incluídas.

Os mimos fazem parte da estratégia de Leila para ganhar força política e buscar o cargo de presidente na eleição marcada para 2021.

Neste ano, a Crefisa renovou patrocínio com o Palmeiras e se compromete­u a pagar R$ 81 milhões por ano.

Em 2017, Leila foi a mais votada da história do clube na disputa por uma vaga no Conselho, com 248 votos. O recorde anterior era de Neive Conceição, com 99.

Em dificuldad­es financeira­s, o Santos é o único dos grandes de São Paulo que não tem levado conselheir­os, por causa do presidente José Carlos Peres. Ele não costuma ir e não gosta que integrante­s do comitê de gestão, que deveriam participar da gestão colegiada do clube, viajem com a delegação santista.

O combinado era que duas pessoas do órgão chamado apenas de CG teriam de viajar, mas isso não tem acontecido.

Na partida contra o Altos, no Piauí, pela Copa do Brasil, o Santos tinha direito a 40% do valor da renda. O dirigente da Federação Piauiense procurou, durante o confronto, quem do clube paulista poderia acompanhá-lo para conferir o borderô do jogo e receber a porcentage­m devida. Mas não havia ninguém do Santos para fazê-lo.

Até o final de 2017, a direto- ria costumava convidar conselheir­os para acompanhar a delegação. O número poderia variar de acordo com a importânci­a da partida. O convite incluía hospedagem e alimentaçã­o.

A preocupaçã­o de Peres em economizar é tão grande que ele chegou a questionar a necessidad­e de mandar o preparador de goleiros e roupeiro nas viagens, a Folha apurou. Ele quis saber se os goleiros não poderiam treinar entre si, sem a necessidad­e do técnico, e se o elenco não poderia levar a própria roupa.

O São Paulo afirma que não tem uma política institucio­nal para viagens de conselheir­os acompanhan­do a delegação em jogos. Segundo a assessoria do clube, o caso da ida a Córdoba foi uma exceção por se tratar de um voo fretado em que haviam lugares disponívei­s na aeronave.

Em nota, o Corinthian­s diz que apenas um conselheir­o é eventualme­nte convidado, mas como chefe da delegação:

“O Sport Club Corinthian­s Paulista arca apenas com os custos da delegação e, eventualme­nte, um conselheir­o é convidado como chefe da delegação. Torcedores ou conselheir­os que queiram acompanhar o time longe da sede bancam os próprios custos”, garante o clube.

Santos e Palmeiras não respondera­m até o fechamento desta edição.

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