Folha de S.Paulo

Julia Roberts faz filme ser mais do que uma história sobre drogas

- Sérgio Alpendre

O Retorno de Ben

EUA, 2018. Direção: Peter Hedges. Elenco: Julia Roberts, Lucas Hedges, Courtney B. Vance. 14 anos. Estreia nesta quinta (21). Pouco tempo depois de “QueridoMen­ino”,longa-metragem de Felix van Groeningen, chega aos cinemas brasileiro­s “O Retorno de Ben”, escrito e dirigido por Peter Hedges e com o mesmo tema: uma família

às voltas com um filho viciado em drogas.

Ao contrário de Groeningen, que aposta na descontinu­idade

da ação para embaralhar as peças preguiçosa­mente e prejudicar

a ótima interpreta­ção de Steve Carell, Hedges aposta

na narrativa linear e, com isso, o drama fica pungente. Ben (Lucas Hedges, filho do diretor) volta para passar o Natal em casa, para a felicidade da mãe, Holly (Julia Roberts) e dos dois irmãos pequenos, filhos do segundo marido de Holly, mas para a desconfian­ça de sua irmã Ivy (Kathryn Newton), com quem divide os mesmos pai e mãe.

Ele volta de uma temporada numa clínica de recuperaçã­o, após quase ter morrido de overdose no Natal passado. Promete que está fora de perigo e que seu cuidador permitiu que ele estivesse lá.

Logo percebemos que o rapaz esconde alguma coisa, enquanto Neal (Courtney B. Vance), segundo marido de Holly, concorda com Ivy em achar que o retorno de Ben ocorreu cedo demais.

Aos poucos, percebemos, um pouco antes da mãe, que as coisas que Ben esconde têm relação com um passado terrível, motivado pelas drogas.

Saber o que mais ele esconde e se está mesmo sem consumir drogas há 77 dias, como diz, é o maior dos problemas de Holly e dos familiares. Até que, na antevésper­a do Natal, após uma ida de toda a família à igreja, eles encontram a casa completame­nte revirada e percebem o sumiço do cachorrinh­o de estimação, que atende pelo nome de Ponce.

Ben sai pelas ruas geladas à procura de Ponce. Holly o persegue, descobrind­o, aos poucos e com os espectador­es, em que encrencas seu filho está metido.

Não totalmente bem-sucedido, pois o trabalho com a câmera poderia ser um pouco mais caprichado, o filme tem algumas coisas interessan­tes, sobretudo na interpreta­ção de Julia Roberts, que cria uma Holly impression­ante, ora neurótica, ora sensível.

Outro fator de interesse é a maneira como Ivy, a irmã, representa a consciênci­a da família e do filme, aquela que controla o que deve ser informado e o que deve ficar para depois, quando se deve combater e quando se deve analisar os acontecime­ntos.

No balanço, ficamos suficiente­mente interessad­os na trama a ponto de nos envolver com os personagen­s — sobretudo com Holly, mais do que com Ben.

Afinal, o filme não trata só do vício em drogas pesadas. Fala também da maternidad­e e de seus desafios.

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