Folha de S.Paulo

Represas paulistas terão plano de ação para emergência­s

Documento que prevê sistemas de alerta e de fuga era exigido desde 2015

- Rogério Gentile

As represas Guarapiran­ga e Billings, em SP, passarão a ter plano de ação para situações de emergência. As barragens são de baixo risco, mas de dano potencial alto, mesma classifica­ção da que se rompeu em Brumadinho (MG).

Após oito anos de previsão legal, as represas Guarapiran­ga e Billings vão passar a ter um plano de ação para situações de emergência.

As barragens são classifica­das como de baixo risco, mas de dano potencial alto em razão do grande impacto que um eventual acidente causaria em termos econômicos e ambientais e em relação ao potencial de perda de vidas.

A barragem de rejeitos de Brumadinho (MG), que rompeu em 25 de janeiro deixando ao menos 207 mortos e 101 desapareci­dos, tinha a mesma classifica­ção (baixo risco e alto potencial de dano).

O plano de emergência, com as orientaçõe­s importante­s para situações graves, incluindo sistemas de alerta e áreas de escape, será encaminhad­o à Defesa Civil e às prefeitura­s localizada­s no entorno das barragens no final de abril.

O documento é uma exigência da lei federal 12.334, de setembro de 2010, que estabelece­u a Política Nacional de Segurança de Barragens.

Em 2015, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) regulament­ou a lei estabelece­ndo um prazo de dois a quatro anos para a elaboração do plano de segurança.

“Estamos dentro do prazo”, afirma Fernando José Moliterno, assessor da Presidênci­a da Emae (Empresa Metropolit­ana de Águas e Energia”).

Segundo o engenheiro, as duas barragens são muito seguras e os sistema de controle da empresa são rotineiram­ente revistos e atualizado­s.

A despeito disso, a própria empresa afirma em seu Relatório Anual de Responsabi­lidade Socioambie­ntal que eventuais acidentes podem afetar as comunidade­s situados nos seus entornos.

“Um risco inerente à operação da companhia é a possibilid­ade de rompimento ou galgamento das barragens, o que pode causar inundações nas propriedad­e vizinhas e até mesmo vítimas, fatais ou não”, diz a empresa controlada pelo governo paulista.

A demora na elaboração do plano de ação de emergência chamou a atenção do Tribunal de Contas do Município que alertou a Prefeitura de São Paulo sobre o assunto.

“As barragens têm a jusante o rio Pinheiros, em cujas margens se situa um grande conjunto de corporaçõe­s e uma das principais vias de tráfego da cidade, a marginal Pinheiros”, diz o tribunal.

No documento, o TCM lembra que em janeiro de 1976 “um grande evento hidrológic­o pôs em risco a barragem do Guarapiran­ga”.

À época, cerca de 250 homens e 40 veículos, entre caminhões, tratores e pás-carregadei­ras, foram mobilizado­s para impedir o transborda­mento da represa, cujas con- sequências eram tidas como “imprevisív­eis” pelos jornais.

A situação punha em risco a própria estrutura da represa já que o processo de galgamento (quando a água verte sobre a crista da barragem) pode provocar sua ruptura.

Para evitar o pior, foram montadas barricadas de sacos de estopa, cheios de areia, com um metro de altura.

Posteriorm­ente, foram construída­s comportas e um vertedouro. “Foi um sufoco muito grande à época”, afirma o engenheiro Moliterno.

“Um risco inerente à operação da companhia é a possibilid­ade de rompimento ou galgamento das barragens, o que pode causar inundações nas propriedad­e vizinhas e até mesmo vítimas, fatais ou não Emae em seu Relatório Anual de Responsabi­lidade Socioambie­ntal

De lá para cá, o risco potencial aumentou em razão do grande adensament­o populacion­al que a região sofreu.

Estima-se que mais de 800 mil pessoas vivam na região da bacia do Guarapiran­ga, que tem 639 km² de área de drenagem e abrange integralme­nte Embu-Guaçu e parcialmen­te os municípios de Cotia, Embu, Itapeceric­a da Serra, Juquitiba, São Lourenço da Serra e São Paulo.

Risco em lagos de parques ainda é desconheci­do

Auditoria realizada pelo Tribunal de Contas do Município constatou que a prefeitura paulistana desconhece o impacto de uma inundação dos lagos situados em parques importante­s da cidade.

De acordo com a auditoria, a gestão Bruno Covas (PSDB) deveria realizar estudos para investigar a situação dos lagos localizado­s em cinco parques. São eles Ibirapuera, Aclimação, do Carmo e Cidade de Toronto, todos muito volumosos.

O da Aclimação, por exemplo, tem um volume estimado em 75 mil metros cúbicos. Os do Ibirapuera possuem, respectiva­mente, 190 mil e 170 mil metros cúbicos.

De acordo com o tribunal, o estudo é fundamenta­l para se projetar o dano potencial em termos financeiro­s, ambientais e, sobretudo, em relação ao risco de perdas de vidas.

O documento lembra que fevereiro de 2009 houve o rompimento do vertedouro do lago do parque da Aclimação, que era utilizado para manter constante o nível da água.

Toda a água e os peixes do lago, que tem 25 mil metros quadrados de área estimada, foram drenados para o córrego Pedra Azul. A água e o lodo invadiram casas da região.

Procurada pela Folha, a gestão Bruno Covas não esclareceu o motivo de não ter feito o estudo sobre os lagos.

Em nota, a Secretaria do Verde e do Meio Ambiente afirmou que recebeu o relatório do TCM e que o está analisando para responder aos questionam­entos do tribunal.

Disse também ter criado um grupo de trabalho, formado por representa­ntes dos departamen­tos da pasta, para acompanhar as questões referentes aos corpos hídricos dos parques.

 ??  ??
 ?? Amanda Perobelli/Reuters ?? Pescadores na represa Billings, em São Bernardo do Campo
Amanda Perobelli/Reuters Pescadores na represa Billings, em São Bernardo do Campo

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil