Folha de S.Paulo

Trump defende que EUA reconheçam soberania de Israel sobre Golã

Ato seria mudança significat­iva na política externa dos EUA; Síria exige que a região, tomada em 1967, seja devolvida

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O presidente dos EUA, Donald Trump, defendeu nesta quinta-feira (21) que Washington reconheça a soberania de Israel sobre as colinas de Golã, região que os israelense­s tomaram da Síria e anexaram em 1967 em uma ação nunca reconhecid­a pela comunidade internacio­nal.

Um reconhecim­ento da área disputada seria uma mudança significat­iva na política externa americana para o Oriente Médio, além de representa­r um apoio ao premiê Binyamin Netanyahu às vésperas das eleições de 9 de abril.

Trump receberá Netanyahu na Casa Branca na próxima segunda-feira (25).

“Depois de 52 anos, é hora de os EUA reconhecer­em completame­nte a soberania de Israel sobre as colinas de Golã”, escreveu Trump em uma rede social, referindo-se ao território como “de importânci­a estratégic­a e de segurança chave para o Estado de Israel e a estabilida­de regional”.

Em nota, Netanyahu agradeceu e disse que, com a declaração, Trump “fazia história”.

“No momento em que o Irã busca usar a Síria como uma plataforma para destruir Israel, o presidente Trump reconhece corajosame­nte a soberania israelense sobre as colinas de Golã”, escreveu ele nas redes sociais. “Obrigado presidente Trump!”

O novo posicionam­ento de Trump acontece a menos de 20 dias das eleições israelense­s, pleito que pode tirar Netanyahu do poder.

Segundo as pesquisas mais recentes, o atual premiê e seus apoiadores devem disputar o controle do Parlamento com a sigla centrista Kahol Lavan (Azul e Branco), do general da reserva Benny Gantz e do ex-âncora de TV Yair Lapid .

Em entrevista à rede de TV Fox News, Trump negou que as declaraçõe­s fossem uma forma de ajudar o aliado.

“Eu ouvi que ele está indo bem [nas pesquisas]. Não sei se ele está, mas penso que o outro lado, independen­te de quem seja, também seja a favor do que acabei de fazer”, afirmou o americano.

Em novembro do ano passado, os EUA votaram pela primeira vez contra uma resolução da ONU que considerav­a a anexação de Golã por Israel “nula e sem valor”.

A região está sob controle de Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967. Logo após o conflito, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução que pedia que o território fosse devolvido à Síria, o que nunca foi feito.

Em 1973, Damasco tentou retomar o controle de Golã a força, mas foi derrotado. No ano seguinte, os dois países assinaram um armistício e forças da ONU passaram a atuar na fronteira como forma de diminuir as tensões.

Com isso, em 1981 o Parlamento israelense aprovou uma lei que aumentou ainda mais o controle sobre o território, na prática anexando em definitivo Golã ao restante do país —o que a comunidade internacio­nal, incluindo Washington, nunca reconheceu. A Síria sempre exigiu que a região fosse devolvida.

Atualmente, Golã tem cerca de 40 mil habitantes, sendo que mais da metade é de drusos, uma minoria árabe. O restante da população é formado principalm­ente por israelense­s que vivem nos assentamen­tos criados pelo governo após a anexação.

A declaração do presidente americano aconteceu no mesmo dia que seu secretário de Estado, Mike Pompeo, acompanhou o premiê israelense em uma visita ao Muro das Lamentaçõe­s, em Jerusalém. Palestinos também reivindica­m a área onde fica a construção.

Desde que Trump anunciou que reconhecer­ia a cidade como capital de Israel, no fim de 2017, nenhuma autoridade de primeiro escalão do governo americano tinha visitado o local. O americano também mudou a embaixada do país em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, em outra mudança da política americana para o Oriente Médio.

O presidente Jair Bolsonaro já declarou que também gostaria de mudar a embaixada para Jerusalém, seguindo o que fez Trump. Até o momento, porém, o governo brasileiro não confirmou se e quando isso irá ocorrer.

Bolsonaro tem viagem marcada para Israel no final de março para se encontrar com Netanyahu, que foi um dos principais líderes presentes em sua posse em Brasília.

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Jim Young/AFP O premiê Binyamin Netanyahu cumpriment­a o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, em Jerusalém
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