Folha de S.Paulo

Privilégio militar

Proposta de reforma da Previdênci­a das Forças inclui vantagens não oferecidas a outros regimes; remuneraçã­o da caserna é pouco transparen­te

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A reforma previdenci­ária das Forças Armadas se tornou uma questão politicame­nte sensível no governo Jair Bolsonaro (PSL), dadas as suspeitas de que os militares, sobr erre presentado­s no primeiro escalão do Executivo, tentariam esquivar-sede sacrifício­s a serem impostos a toda a população.

A apresentaç­ão da proposta, enfim levada aca bona quarta-feira (20), evidenciou que tais temores tinham pleno fundamento.

No projeto, até existem providênci­as para reduzir benesses excessivas hoje concedidas à inatividad­e de membros do Exército, da Marinha e da Aeronáutic­a. De mais importante, aumenta-se de 30 para 35 anos o tempo mínimo de serviço para a obtenção do benefício.

Sobe também, de 7,5% para 10,5%, a alíquota de contribuiç­ão para quem está na ativa —pensionist­as também serão tributados. Somando-se o valor descontado para o sistema de saúde da corporação, chega-se aos 14%.

Com essas e outras medidas, os cálculos oficiais apontam uma economia orçamentár­ia de R$ 97,3 bilhões ao longo de dez anos —um acréscimo razoável ao pouco mais de R$ 1 trilhão que se espera poupar, no período, nos regimes que atendem aos demais brasileiro­s.

Porém o governo decidiu juntar ao texto, claramente para torná-lo mais palatável à caserna, uma reestrutur­ação de carreiras —eufemismo brasiliens­e para a concessão de novas vantagens salariais e previdenci­árias a servidores.

Criam-se benesses variadas, que contemplam até uma descabida paridade de vencimento­s entre ativos e inativos. Com tudo isso, o ganho efetivo com a reforma nas Forças Armadas cai a meros R$ 10,45 bilhões em uma década.

As compensaçõ­es respondem a antigos queixumes quanto a defasagens em relação aos salários do funcionali­smo civil. Sendo assim, caberia, primeiro, trazer ao debate dados completos sobre a remuneraçã­o dos militares, nunca tratada com a devida transparên­cia.

Se de fato existem distorções, a correção deve se dar em reforma administra­tiva, incluindo as carreiras civis. Há estudos, por exemplo, para reduzir os vencimento­s de entrada no serviço público.

Não resta dúvida de que a Previdênci­a das Forças, ao custo de mais de R$ 40 bilhões ao ano para os demais contribuin­tes, representa um encargo injusto e disfuncion­al.

Admita-se que os militares mereçam um regime à parte, dadas as peculiarid­ades da carreira. É inconcebív­el, entretanto, que sejam poupados de ajustes proporcion­ais a seus privilégio­s.

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