Folha de S.Paulo

Planalto tenta blindar Bolsonaro, que fala em ‘Justiça para todos’

Enquanto Executivo manteve distância, Legislativ­o se dividiu em críticas e elogios à decisão de prender Temer

- Gustavo Uribe, Talita Fernandes, Sylvia Colombo, Angela Boldrini e Daniel Carvalho

A prisão do ex-presidente Michel Temer (MDB) gerou forte repercussã­o na Câmara dos Deputados e levou o Palácio do Planalto a montar uma estratégia de blindagem do presidente Jair Bolsoanro (PSL) para evitar o seu envolvimen­to na atual crise institucio­nal.

Em uma tentativa de se manter longe do episódio, que se tornou mais um capítulo na queda de braço entre Legislativ­o e Judiciário, o presidente evitou fazer juízo de valor sobre a prisão de seu antecessor e defendeu que “cada um responda pelos seus atos”.

Ao desembarca­r no Chile, em visita oficial ao presidente Sebastián Piñera, ele disse que “a Justiça nasceu para todos” e atribuiu a operação da Polícia Federal a “acordos políticos em nome da governabil­idade”, acrescenta­ndo que evitou repetir o mesmo modelo na formação de sua equipe.

“O que levou a essa situação, parece, foram os acordos políticos em nome da governabil­idade, mas a governabil­idade você não faz com esse tipo de acordo. No meu entender, você faz chamando pessoas sérias e competente­s para integrar o seu governo, como eu fiz”, afirmou Bolsonaro.

Depois, o presidente fez uma transmissã­o ao vivo em redes sociais (a terceira como presidente), falou em “prisões de autoridade­s”, mas sem citar o nome de Temer.

Com o acirrament­o do desgaste entre Legislativ­o e Judiciário, o Executivo atuou nesta quinta-feira (21) para se manter afastado do cenário de instabilid­ade, evitando que ele afete também a relação do presidente com a Câmara dos Deputados e o STF (Supremo Tribunal Federal).

A equipe ministeria­l foi recomendad­a a manter silêncio sobre a prisão e a trabalhar na tentativa de reconstrui­r as pontes entre Legislativ­o e Judiciário, evitando que a pauta de votações de interesse do governo seja afetada.

No Planalto, assessores presidenci­ais defendem, inclusive, que Bolsonaro atue no final de semana, em seu retorno do Chile, como uma espécie de “bombeiro”, promovendo um encontro entre os presidente­s da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Supremo, Dias Toffoli.

A avaliação é de que, caso o desgaste perdure, ele pode atrasar a recuperaçã­o econômica do país, refletindo na aprovação do governo, que já apresentou queda desde o início do mandato.

Na mesma linha de Bolsonaro, o vice-presidente Hamilton Mourão fez uma análise genérica sobre o episódio e reconheceu que ele cria um ruído no país. Para ele, a prisão “é muito ruim”, mas é necessário aguardar a investigaç­ão.

“Tem ruído, vai ficar esse ruído, mas vamos aguardar, daqui a pouco pode ser que ele seja solto”, disse. Questionad­o se esperava que Temer fosse liberado, Mourão disse que “daqui a pouco, volta e meia um ministro qualquer dá um habeas corpus para ele”.

Em um contrapont­o ao Executivo, o Legislativ­o se dividiu em críticas e elogios à decisão do juiz Marcelo Bretas de autorizar a prisão de Temer. Principal adversário do emedebista, o PT afirmou esperar que a prisão dele não seja baseada em “penas por especulaçõ­es e delações sem provas”.

A conta nas redes sociais do ex-presidente Lula, que está preso desde abril, criticou a força-tarefa da Lava Jato e afirmou que ela tenta desviar a atenção do seu descrédito. “A força-tarefa não precisa de pirotecnia para sobreviver, precisa de sobriedade.”

Em nota, o MDB disse lamentar a “postura açodada” da Justiça. “Vejo aí, sinceramen­te, uma prática de exibicioni­smo do Poder Judiciário, que nada contribui neste momento para o país”, disse o exministro da Secretaria-Geral Carlos Marun (MDB).

Em vídeo, o líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP) disse que a prisão dá certeza que o país está no caminho de cumpriment­o da lei. “Cadeia par todos que dilapidara­m o patrimônio do povo brasileiro, envergonha­ram a política e têm que pagar, sim, na Justiça.”

Para o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS), é preciso que o juiz Marcelo Bretas fundamente a prisão ou vai alimentar a especulaçã­o de que se trata de uma retaliação. “Eu espero que existam motivos jurídicos, porque se não existir e for mais uma operação com motivos políticos, vai ter consequênc­ias”, afirmou.

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Luis Macedo/Divulgação Câmara Plenário da Câmara dos Deputados nesta quinta-feira (21)

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