‘Gato Angorá’, Moreira Franco tem histórico de escândalos e intrigas
Com codinome em planilhas da Odebrecht, cacique do MDB se aliou a gestões FHC, Lula, Dilma e Temer
Novo cacique do MDB a cair na Lava Jato, o exministro Wellington Moreira Franco (MDB-RJ) não é calouro em escândalos políticos.
Até esta quarta-feira (21), quando foi preso pela forçatarefa da operação, Moreira Franco era o único governador eleito e ainda vivo do Rio sem passagem pela prisão.
Antes dele, todos tombaram a certa altura: Luiz Fernando Pezão, Sérgio Cabral (ainda detidos) e o casal Anthony e Rosinha Garotinho (por ações sem relação com a Lava Jato, mas com a Justiça eleitoral).
A exceção, a petista Benedita da Silva, liderou o Palácio Guanabara por menos de um ano após Garotinho, de quem era vice, sair para concorrer à Presidência, em 2002.
Piauiense radicado no Rio, Moreira Franco governou o estado de 1987 a 1991. De seu antecessor, Leonel Brizola (19222004), ganhou o apelido que o acompanha até hoje: Gato Angorá, seja pelas madeixas esbranquiçadas que ostentava já nos anos 1980, seja pela manha de passar de colo em colo.
Nas últimas décadas, aliouse aos governos de FHC, Lula e Dilma Rousseff e o emedebista Temer. Versado nas intrigas palacianas, assessorou tanto tucanos quanto petistas. Para Dilma serviu duas vezes como ministro.
Depois ajudou a articular seu impeachment.
Gato Angorá virou codinome a ele associado nas planilhas de propina da Odebrecht. Dilma chegou a zombar da alcunha. “O gato angorá tem uma bronca danada de mim porque eu não o deixei roubar, querida. É literal isso: eu não deixei o gato angorá roubar na Secretaria de Aviação Civil”, afirmou.
Ele sempre negou qualquer participação em esquemas de corrupção.
Suas relações entranhadas com a política brasileira começaram no altar, quando se casou com uma neta de Getúlio Vargas, a socióloga Celina, de quem se separou em 1989, quando morava no Palácio Laranjeiras —ficaram famosas as corridas que ele fazia de shortinho pelos jardins da residência oficial do governador fluminense.
O marido de Alzira Vargas, a mãe da esposa, entrou no anedotário político da época como “O Genro”. Ele virou “o genro do genro”.
Hoje é sogro de Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e filho do ex-prefeito carioca César Maia.
Na juventude, Moreira Franco ingressou nas fileiras de um movimento que combatia a ditadura, o Ação Popular. Dali foi para o MDB, e do MDB para o PDS, herdeiro do Arena, maior sustentáculo partidário do regime militar.
Pelo PDS concorreu ao Executivo fluminense em 1982. Brizola o derrotou, e Moreira Franco saiu daquele pleito chamuscado por suspeitas de fraude na apuração dos votos, ainda em papel.
Já de volta ao MDB (rebatizado para PMDB) e com Eduardo Cunha ajudando na campanha, Moreira Franco sucedeu Brizola à frente do Rio em 1987.
Em 1991, a um mês de deixar o cargo, recebeu no Palácio Guanabara dois bicheiros célebres: Anísio Abrão David, presidente da escola de samba Beija-Flor, e Carlinhos Maracanã, líder da Portela.
Comentou à época: “Era um encontro administrativo, sobre a cessão do terreno para o museu do carnaval. Eram bicheiros. O que posso fazer? A vida social é o que é”.
Seu governo foi marcado por acusações de desvios de verba e concorrências marcadas. Saiu dele com baixa popularidade, mas sua estima nas cúpulas do poder continuou em alta.
A amizade com Temer germinou em 1995, quando outro cacique emedebista, Orestes Quércia, telefonou para pedir ajuda na eleição do colega para a liderança do partido. Depois Moreira Franco viraria uma das principais cabeças por trás do “Ponte para o Futuro”, projeto econômico de pegada liberal que Temer sugeriu para o país.
Em 2015, Moreira Franco defendeu seu partido em entrevista à Folha. Disse que “o PMDB não conspira, não trai”.
Moreira Franco estava a bordo de um Volvo quando a Polícia Federal interceptou seu veículo, perto do aeroporto internacional do Rio.
Como os agentes estavam longe da viatura, pararam um táxi e pediram que o motorista corresse atrás do carro do ex-ministro.
Foi preso no mesmo dia que o amigo Temer.
Em Brasília, Rodrigo Maia soube da notícia da prisão do sogro enquanto recebia deputados na residência oficial da Casa.
Aliados dizem que ele agiu de forma serena com a novidade, leu algumas notícias sobre a prisão do ex-presidente Michel Temer e terminou de despachar com parlamentares de partidos como DEM, PP e PRB antes de começar a fazer ligações para discutir as prisões.
É comum que às quintas-feiras, Maia permaneça na residência oficial recebendo autoridades, uma vez que não há sessão deliberativa na Câmara dos Deputados.
O presidente recebeu visitas de parlamentares, como Efraim Filho (DEM-PB) e do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes após a reunião.
Ele não deve ir ao Rio de Janeiro, onde Moreira Franco e Temer estão detidos, na sede da Polícia Federal.