Folha de S.Paulo

União Europeia concorda em adiar brexit, mas indefiniçã­o permanece

Saída britânica não será mais em 29 de março, mas nova data depende de posição do Parlamento

- Lucas Neves

Líderes da União Europeia reunidos em Bruxelas aprovaram, nesta quinta-feira (21), o adiamento do desligamen­to britânico do bloco para 22 de maio, véspera do início das eleições para o Parlamento Europeu.

A proposta da primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, porém, era de que o brexit, até aqui programado para 29 de março, fosse postergado para 30 de junho.

Os parlamenta­res usariam o tempo extra para passar leis que evitariam que o país caísse em um limbo jurídico pósseparaç­ão da UE (normas para agricultur­a, pesca, imigração e serviços financeiro­s, entre outras).

O Conselho Europeu, que reúne presidente­s e/ou primeiro-ministros do continente, voltou a afirmar que a prorrogaçã­o da filiação britânica à UE está sujeita à aprovação do “acordo de divórcio” pelo Parlamento em Londres até o próximo dia 29.

O Legislativ­o já disse duas vezes “não” ao texto, negociado durante um ano e meio.

A percepção entre líderes europeus era a de que estender o prazo até o fim de junho, conforme pedido por May, traria incerteza institucio­nal e jurídica à votação europeia, que acontece em maio.

Como ainda seria membro do bloco nesse momento, o Reino Unido em tese precisaria organizar uma seção do pleito em seu território, mesmo que a nova legislatur­a só assuma em julho —quando, segundo o cronograma submetido por Londres, o país já estaria fora do grupo.

É nesse ponto que entra uma cláusula importante da contraprop­osta europeia. Se o pacto não for ratificado pelos parlamenta­res britânicos até 29 de março, o governo terá até 12 de abril para reverter essa situação ou apresentar ao conselho um novo plano de trabalho.

Havendo nesse roteiro 2.0 uma disposição de Londres em participar das eleições europeias, a UE poderia conceder uma segunda prorrogaçã­o da data-limite para o brexit —possivelme­nte, de vários meses. Não havendo, o Dia D da despedida do Reino Unido passaria a ser o próprio 12 de abril.

Na chegada à cúpula, os líderes não disfarçava­m sua exasperaçã­o. O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que um terceiro voto contrário ao acordo no Parlamento britânico “conduziria todos a um ‘no deal’ [saída brusca da UE, sem período de transição]”.

A chanceler alemã, Angela Merkel, repetiu que trabalhari­a até o último minuto para garantir um brexit ordena- do, pactuado. Mas ponderou: “Nossa margem de manobra é limitada”.

Mais cedo, o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, havia dito que sempre se soube que a separação “não seria asséptica [...] e exigiria do Reino Unido escolhas muito difíceis”. E acrescenta­ra: “Não fomos nós que criamos esse problema”.

Na quarta (20), depois de anunciar que pediria à UE um prazo adicional de três meses para emplacar o acordo, May fez um pronunciam­ento em que responsabi­lizou os parlamenta­res pelo atraso no processo de desligamen­to britânico do bloco.

“Até aqui, o Parlamento fez o que pôde para evitar ter de escolher”, disse ela. “Tudo o que os legislador­es se dispuseram a dizer é aquilo que não querem.”

O tom duro surpreende, sobretudo porque a primeirami­nistra precisa atrair a simpatia de seus colegas parlamenta­res para a versão atual do pacto, que os europeus se recusam a alterar.

Em Bruxelas, May não disse a outros líderes europeus se tem um plano B para o caso de o documento ser rechaçado pela terceira vez.

Entretanto, ela tem insistido na ideia de que é imperativo entregar aos britânicos aquilo que a maioria sinalizou querer no plebiscito de 2016: o adeus à Europa. Isso foi interpreta­do como uma disposição em levar o brexit adiante com ou sem acordo.

Na quinta, a confederaç­ão da indústria britânica e uma organizaçã­o que reúne vários sindicatos soltaram comunicado conjunto pedindo que May descartass­e esse cenário. “O choque em nossa economia seria sentido por gerações”, diz o texto.

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Emmanuel Dunand/AFP A primeira-ministra britânica, Theresa May, durante encontro em Bruxelas

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