Folha de S.Paulo

Pessoas buscam comida pelas ruas, diz brasileira em Moçambique

Passagem do ciclone Idai deixa mais de 400 mortos no país africano, além de Maláui e Zimbábue

- Rafael Balago

são paulo e beira (moçambique) Dondo, em Moçambique, amanheceu com chuva nesta quinta (21). Como boa parte das casas da cidade está sem telhados, destruídos pela passagem do ciclone Idai, milhares de pessoas buscam onde se abrigar. Escolas e igrejas viraram centros de acolhida.

“As casas não tinham estrutura para aguentar uma tempestade desse tamanho, e o estrago foi muito grande”, conta a missionári­a brasileira Noêmia Cessito, que atua no auxílio às vítimas em Dondo e mora no país há 35 anos.

“A cidade está destruída. As ruas tinham muitas árvores que caíram com o vento. Postes de energia também foram ao chão.” Nas casas que não cederam, subir no telhado virou opção para se proteger das inundações.

Dondo tem 170 mil habitantes e fica a 35 km de Beira, cidade no litoral que foi duramente atingida pelo ciclone Idai na semana passada, que teve ventos de até 170 km/h.

Depois, o fenômeno rumou para o continente na direção do Zimbábue e de Maláui, derrubando edifícios e ameaçando as vidas de mais de 2 milhões de pessoas.

Além da falta de teto, as casas de Dondo começam a ficar sem comida, conta Noêmia.

“As chuvas encheram as bar- ragens, que foram abertas e geraram enchentes que destruíram as estradas. Há buracos muito profundos nelas. Não dá para passar, então não chega água nem comida. As pessoas estão andando pelas ruas em busca de algo para comer”, diz.

Noêmia faz parte da Junta de Missões Mundiais, organizaçã­o ligada à Convenção Batista Brasileira, que atua com evangeliza­ção em cerca de 80 países. O grupo de Dondo teve a opção de sair da cidade, mas decidiu ficar para ajudar.

“Montamos um quartel-general de apoio e estamos dando abrigo para alguns adultos e crianças e servindo duas refeições diárias, cozinhando o que ainda temos”, diz.

Em Maputo, capital de Moçambique, as doações estão sendo organizada­s no porto por entidades e voluntário­s. Um navio está sendo preparado para levar a ajuda até Beira. A expectativ­a é encher 40 contêinere­s de suprimento­s entregues por moradores e por organizaçõ­es.

“Muita gente foi ajudar a preparar os kits, encaixotar e carregar o material para os contêinere­s”, conta o designer gráfico brasileiro Marcos Drummond, que mora em Maputo e colaborou como voluntário.

“Maputo tem muitos expatriado­s, como uma comunidade francesa, uma americana, uma muçulmana e igrejas neopenteco­stais brasileira­s. Todas essas pessoas estão se dedicando a enviar ajuda para as áreas atingidas”, diz.

Nesta quinta, agentes de resgate ampliaram a busca de sobreviven­tes. O saldo de mortes no país subiu para 217, e cerca de 15 mil pessoas, muitas delas doentes, ainda precisam ser resgatadas, disse o ministro da Terra e do Meio Ambiente, Celso Correia.

Os agentes de resgate continuam encontrand­o corpos, e o número de mortes pode aumentar bastante. Durante o dia, helicópter­os transporta­ram pessoas, algumas retiradas dos tetos de casas e de topos de árvores, para a cidade de Beira, onde funciona o principal quartel-general da operação de resgate.

Uma idosa estava sentada no local, atordoada, perto de dois de seus netos. Os três estavam ilesos, mas as crianças perderam a mãe.

Um helicópter­o resgatou quatro crianças e duas mulheres que estavam num pequeno estádio de futebol em um vilarejo quase todo submerso. Um menino pequeno, com uma perna quebrada, estava sozinho e dava sinais de exaustão quando os agentes o deitaram na grama antes de levá-lo a uma ambulância.

Agora que o nível da água começa a baixar, a prioridade é levar alimentos e outros suprimento­s às pessoas em vez de retirá-las das áreas afetadas, embora isso também esteja sendo feito, disse Correia. Cerca de 3.000 pessoas foram resgatadas até agora.

Estima-se que 56 pessoas tenham morrido no Maláui e

139 no Zimbábue. O Programa Mundial de Alimentos da ONU, que está coordenand­o a entrega de comida na região, disse que 200 mil pessoas no Zimbábue precisarão de assistênci­a alimentar urgente três meses.

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Siphiwe Sibeko/Reuters Criança é transporta­da em uma geladeira em Buzi, nos arredores de Beira

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