Folha de S.Paulo

Custo do gás do pré-sal põe em xeque viabilidad­e de térmicas

Gás carbônico e distância da costa são empecilhos para competitiv­idade

- Taís Hirata

O gás associado ao pré-sal —anunciado como uma grande aposta para baratear a energia elétrica— terá dois grandes desafios para atingir a esperada competitiv­idade: o elevado custo para transportá-lo até a terra e a alta presença de gás carbônico.

Embora a expectativ­a seja grande, ainda não se sabe ao certo qual é, afinal, o volume de gás do pré-sal barato —que, por sua vez, daria origem a usinas térmicas de baixo custo.

Hoje, já se sabe que metade dos campos de exploração do pré-sal está em áreas considerad­as comercialm­ente inviáveis para esse tipo de atividade, segundo a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), órgão responsáve­l pelos estudos que embasam o planejamen­to energético do país.

Isso ocorre porque, nessas áreas, o gás tem um teor de gás carbônico superior a 20% —o que exigiria uma “limpeza” que, hoje, é cara demais e tornaria seu uso em usinas térmicas pouco competitiv­o.

Pode haver surpresas, por exemplo uma área sem gás carbônico dentro de uma zona em que se esperava alta concentraç­ão —ou o oposto. Essa análise mais detalhada ainda está em curso, diz o consultor técnico Gabriel de Figueiredo da Costa, da superinten­dência de gás natural da EPE.

“Há muito potencial do gás do pré-sal, mas não muita certeza quanto a uma redução do preço, que seria motivada por uma grande oferta, porque essa nova oferta que vai entrar é de um gás mais caro do que é produzido hoje”, diz.

No ano passado, o então ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (MDB-RJ), foi um defensor da realização de leilões para construir mais usinas térmicas a gás. Uma das justificat­ivas era estimular projetos na região do pré-sal.

“Nós vamos ter uma abundância de gás no pré-sal, e obrigatori­amente vai ser barato”, declarou em 2018.

Procurado para comentar o assunto, o Ministério de Minas e Energia, hoje sob uma nova gestão, não havia se manifestad­o até a publicação deste texto.

Além do teor de gás carbônico, outro grande desafio para o gás do pré-sal é seu trans- porte até a costa, já que grande parte das áreas de exploração fica distante, e o custo de construir gasodutos é elevado.

Até agora, só uma térmica com gás do pré-sal venceu um leilão de geração e já tem contrato para vender energia aos consumidor­es brasileiro­s: a usina Vale Azul, de um consórcio formado por Shell, Pátria e Mitsubishi Hitachi Power.

O preço da energia, considerad­o extremamen­te baixo, animou o mercado —embora, no caso desse projeto, já houvesse um gasoduto construído, o que garantiu sua competitiv­idade, segundo um analista do setor.

Para ele, um problema para viabilizar projetos novos é o planejamen­to: para participar dos leilões e conseguir firmar um contrato de fornecimen­to de energia térmica, é preciso comprovar a oferta do gás. Mas, para garantir essa oferta, é preciso ter previsibil­idade e certeza de que o investimen­to no gasoduto não será em vão.

A expectativ­a, afirma, é que até o fim do ano a questão esteja solucionad­a e que mais projetos de usinas térmicas com gás do pré-sal poderão sair do papel a preços competitiv­os.

Hoje, a expectativ­a em torno dessa oferta é elevada.

“O potencial de abastecime­nto do gás do pré-sal é gigantesco. Há espaço para muitos avanços e para soluções competitiv­as [aos desafios]”, diz Claudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil.

“Há muito potencial do gás do pré-sal, mas não muita certeza quanto a uma redução do preço Gabriel de Figueiredo da Costa superinten­dência de gás natural da EPE

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil