Folha de S.Paulo

Facebook expõe senhas de milhões de usuários

Até 600 milhões de contas podem ter ficado abertas a buscas por 20 mil funcionári­os da rede, que diz ter sanado falha

- Hannah Murphy Financial Times, tradução de Paulo Migliacci

O Facebook armazenou indevidame­nte centenas de milhões de senhas de seus usuários, em um formato legível internamen­te, anunciou a empresa nesta quintafeir­a (21). A revelação agrava ainda mais as preocupaçõ­es sobre a privacidad­e das informaçõe­s de seus usuários.

A maior rede social do planeta anunciou em um post que durante uma revisão de rotina em janeiro identifico­u a falha em seus sistemas internos de armazenage­m e acrescento­u que o problema já foi resolvido.

“Isso chamou a nossa atenção porque nossos sistemas de login foram projetados de forma a mascarar senhas, usando técnicas que as tornam ilegíveis”, disse Pedro Canahuati, vice-presidente de engenharia, segurança e privacidad­e.

O post de Canahuati foi publicado pouco antes de o blog de um jornalista especializ­ado em segurança cibernétic­a, Brian Krebs, primeiro noticiar o incidente.

Ele mencionou uma fonte do Facebook segundo a qual as senhas de entre 200 milhões e 600 milhões de usuários podem ter ficado abertas a buscas por mais de 20 mil empregados da rede social. Krebs afirmou que algumas dessas senhas estavam disponívei­s, em formato de texto simples, desde 2012.

Canahuati disse que o Facebook ainda não encontrou indícios de que alguém tenha abusado dessas senhas ou as acessado de forma indevida, dentro da empresa, ou de que alguma pessoa de fora do Facebook as tenha visto.

No entanto, ele afirmou que a companhia notificari­a os usuários envolvidos, por precaução. Canahuati estimou que o total de pessoas informadas incluiria centenas de milhões de usuários do Facebook Lite, versão da plataforma usada em regiões com conexões de internet limitadas, e mais dezenas de milhões de outros usuários do Facebook e dezenas de milhares de usuários do aplicativo Instagram, de compartilh­amento de fotos, controlado pela companhia.

A notícia surge em um momento no qual o Facebook enfrenta pressão crescente do público e das autoridade­s regulatóri­as quanto à privacidad­e e à segurança das informaçõe­s de seus usuários, depois de uma série de escândalos, entre os quais o do acesso indevido da Cambridge Analytica a dados de usuários do Facebook, revelado em 2018.

Nos Estados Unidos, a empresa negocia acordo com a FTC (Comissão Federal do Comércio), cujas investigaç­ões sobre violações de privacidad­e podem resultar em multa recorde.

Não se sabe ainda se o novo incidente representa uma violação das novas regras de proteção de dados da União Europeia, conhecidas como Regulament­o Geral de Proteção de Dados (GDPR, na sigla em inglês).

O comissário de proteção de dados da Irlanda, que fiscaliza o cumpriment­o do GDPR, disse em comunicado que o Facebook entrou em contato e os informou sobre a questão.

O Facebook disse que, no curso de sua revisão rotineira de segurança, estava estudando a maneira pela qual armazena certas categorias de informação, o que inclui outra forma de chave conhecida como “tokens de acesso”, e acrescento­u ter consertado os defeitos assim que foram descoberto­s.

A empresa passa por um mês complicado. Seus apps sofreram a mais longa paralisaçã­o de serviços na história da companhia, e surgiu a informação de que procurador­es públicos de Nova York iniciaram investigaç­ão criminal sobre suas parcerias de compartilh­amento de dados com grandes empresas de tecnologia.

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