Folha de S.Paulo

Remoção de grafite gera crítica a secretário de Cultura de SP

Alê Youssef promete trazer artistas para novo desenho em mural quase apagado

- Dhiego Maia

A remoção parcial de um grafite num edifício que contorna a praça das Artes, na região central de São Paulo, colocou a Secretaria Municipal de Cultura da gestão Covas (PSDB), comandada por Alê Youssef, em uma polêmica.

O grafite semiapagad­o mostrava uma mulher com aparência de um cadáver coberta por um manto —a obra preenchia 300 metros quadrados da parede. O desenho foi assinado pelos artistas Inti (Chile) e Alexis Diaz (Porto Rico).

A dupla usou tinta nanquim e levou um mês para concluir o trabalho que integrou a 1ª edição (2015) do O.bra, festival internacio­nal de arte de rua sediado na capital paulista.

Nesta terça (19), a “mulher cadáver” começou a ser coberta por tinta cinza a mando da Secretaria de Cultura. O processo parou com a chegada de Kleber Pagú, produtor cultural. “Fiz um protesto, gritei e pedi para eles pararem. Como ninguém me ouviu, desliguei as gruas que eles usavam para cobrir o grafite de cinza”, disse.

Ele afirmou que livrou o espaço do mesmo destino da 23 de Maio, avenida que perdeu os grafites para um jardim vertical concebido pelo hoje governador João Doria.

Pagú enviou uma carta ao juiz Adriano Marcos Laroca, da 12º Vara da Fazenda —o mesmo que condenou em fevereiro a prefeitura e Doria em R$ 782 mil pela remoção dos grafites na 23 de Maio.

Pagú pediu que os valores das multas decretadas no caso dos grafites da 23 de Maio fossem “revertidos para a arte urbana, por meio de editais de convocação pública”.

A Folha procurou o juiz, mas ele não se manifestou.

A carta também foi assinada pela produtora cultural Vera Santana, uma das organizado­ras do festival O.bra. “Ninguém me avisou sobre a remoção. Eu fiz o contrato com o dono do imóvel e deveria saber do processo até para avisar os artistas que o trabalho deles estava indo para o ralo.”

Ela disse que o primeiro contrato firmado com o condomínio Guanabara estipulava a permanênci­a do grafite por um ano. O acordo foi prorrogado até 2017. Depois disso, o proprietár­io do imóvel teria autonomia para fazer o que quisesse com o desenho, inclusive, removê-lo.

Segundo nota da Secretaria de Cultura, “o imóvel que acolhia a obra é privado e o contrato já estava vencido, assim, foi feita uma mediação no sentido de garantir que fosse realizada uma nova intervençã­o.”

“Mas sempre insistimos pela permanênci­a da obra. Doamos tintas ao condomínio para o grafite não sair de lá”, completou Vera.

O secretário disse que os artistas foram comunicado­s por email sobre a retirada da obra e concordara­m com isso. A pasta também afirma que o mural não vai mais ser pintado de cinza, e que os artistas Inti e Alexis serão trazidos a São Paulo para fazerem uma nova pintura no local.

“A nova obra vai dialogar com o projeto de reabertura da praça das Artes, que será reinaugura­da no sábado (23) com enfoque no direito à cidade, ocupação de espaços públicos e multicultu­ralismo”, segundo trecho de nota.

“O que me deixa triste é o descaso com o dinheiro público. Agora, eles vão pagar passagem, estadia e materiais para os mesmos artistas fazerem uma nova obra. Não faz sentido”, conclui Vera Santana.

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Divulgação Grafite em prédio ao lado da praça das Artes

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