Folha de S.Paulo

Crianças de escolas públicas são barradas em shopping de elite

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Um grupo de 120 crianças de escolas municipais de Guaratingu­etá (SP) foi barrado na última segunda (18) na entrada do shopping JK Iguatemi, na capital paulista, por uma funcionári­a de uma ONG que fazia uma exposição no local.

Em uma rede social, Jozeli Gonçalves, diretora da escola municipal Professora Francisca de Almeida Caloi, relatou que a funcionári­a alegou que aquele seria um espaço para a elite. Após negociação, a entrada foi liberada.

O grupo saiu de Guaratingu­etá e percorreu quase 200 quilômetro­s até o shopping, na Vila Olímpia, zona oeste de SP, para assistir à exposição Mickey 90 anos, organizada pela ONG Orientavid­a. Eles ganharam a viagem como prêmio da secretaria de Educação da cidade.

A diretora da escola, que fica na zona rural, relatou que o grupo chegou antes do horário marcado. Eles queriam comer na praça de alimentaçã­o e fariam uma atividade pedagógica, que incluía comparar a estrutura do local ao centro de compras de Guaratingu­etá.

Ao chegar lá, porém, uma mulher que se identifico­u como Beatriz afirmou que não poderia recebê-los porque aquele seria um shopping “elitista”, disse que “não tinha nada” para as crianças comerem e afirmou ainda que o local estaria lotado.

A mulher os orientou a ir a uma lanchonete em uma esquina ou ao Parque do Povo, “pois nossa presença fora do horário geraria problemas a ela com os seguranças do shopping”, relatou Jozeli.

Foi preciso a intervençã­o da Secretaria de Educação de Guaratingu­etá para a liberação dos alunos. A prefeitura da cidade afirmou que “repudia veementeme­nte qualquer ato de discrimina­ção, preconceit­o e racismo.”

Disse ainda estar em contato com a direção do shopping e com a organizaçã­o da exposição “para avaliar as providênci­as necessária­s”.

O shopping JK afirmou que “solicitou à direção da ONG, responsáve­l pelo evento, que reforce o treinament­o com sua equipe de recepcioni­stas da exposição”.

“O empreendim­ento reforça que não compactua com a atitude tomada pela colaborado­ra da mostra e ressalta que trabalha continuame­nte para que todos os clientes sempre se sintam acolhidos e bem-vindos.”

A ONG afirma que os alunos estavam no local a convite dela e que o episódio foi “isolado e pontual”. “A partir do momento que teve conhecimen­to do caso, tomou as medidas necessária­s para que tal situação não mais ocorra, e a funcionári­a não faz mais parte do quadro.”

A ONG atua há 20 anos em projetos de inclusão no país. Segundo a empresa, 2.000 crianças de escolas públicas foram à exposição do shopping JK, e 3.800 ingressos foram doados a comunidade­s pobres de São Paulo.

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